adalberto-luc3ads-val.jpg Para ter uma qualidade de vida melhor e consequentemente viver melhor nós precisamos entender como está a floresta e ter sempre em mente que a mesma pressão que o homem exerce sobre a biodiversidade, a biodiversidade exerce sobre o homem. Tal observação é feita pelo pesquisador Adalberto Val, um dos coordenadores do Simpósio Internacional Bilateral Brasil-França sobre Biodiversidade que será realizado entre os próximos dias 5 e 8 de junho na Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

Adalberto Val diz que a questão da biodiversidade e a saúde do homem é um ponto importante a ser observado. Há, por exemplo, explica ele, vários problemas que tem como causa elementos da floresta que acabam interagindo com o homem e trazendo doença – como o ebola na África e a malária na Amazônia. Por outro lado, o homem toma antibiótico, utiliza produtos de limpeza, combustíveis, enfim, e lança tudo no ambiente provocando assim sérios danos a biodiversidade e, por conseguinte, a si mesmo.

“A mesma pressão que a gente tem sobre a floresta, a floresta tem sobre o homem, por isso é importante entender como é que ela responde às pressões que existem, como as mudanças climáticas, e também como é que ela interage com o homem e afeta esse homem”, defende o pesquisador ressaltando que outro ponto igualmente importante nesse conjunto é a questão da saúde urbana. “A qualidade de vida da pessoa guarda uma relação direta com a biodiversidade”, afirma ele, que é renomado pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC).

Adalberto Val salienta que a cidade não acomoda só o homem, há um conjunto de outros organismos vivendo nela também. Então manter pequenos espaços florestados dentro da cidade é extremamente importante. “Quanto melhor a gente cuidar desse processo melhor será a nossa qualidade de vida”, evidencia orientando a pessoa a pensar de forma global, mas agir naquilo que puder, como tendo um jardim no quintal de casa ou vasos de planta na cozinha, na sala, caso não haja espaço fora.

Bem como cuidar das praças públicas e procurar limitar a quantidade de coisas que joga no ambiente que não é típica dele, como plástico e outros poluentes. “Se eu procurar melhorar o ambiente eu estou melhorando a minha qualidade de vida e a qualidade de vida das pessoas que estão próximas a mim. Então o que eu tenho que fazer é tomar cuidado com isso. O mundo hoje requer de cada um de nós uma conscientização maior sobre a qualidade do ambiente em que a gente vive”, aponta.

Para ajudar a humanidade

“Impactos da biodiversidade na saúde humana” e “Biodiversidade e saúde urbana” serão temas de duas das oito sessões que serão realizadas durante o Simpósio Internacional Bilateral Brasil-França sobre Biodiversidade no auditório Rio Solimões da Ufam, localizada no bairro Coroado, Zona Leste. O encontro, que é uma iniciativa da Academia Brasileira de Ciências (ABC) junto com a Academia de Ciências da França, terá tradução simultânea, será gratuito e aberto ao público, mas a participação requer inscrição prévia no site.

O simpósio vai contar também com a presença de importantes especialistas da América Latina e de executivos de empresas que têm a biodiversidade como marca. O coordenador do evento, Adalberto Val, conta que além da biodiversidade e a saúde humana e urbana serão focos das discussões o que se precisa saber sobre a biodiversidade, biologia evolutiva (que deve responder a pergunta: o que gerou essa biodiversidade que tem na Amazônia – de peixes, plantas, aves, animais?), além dos impactos das mudanças ambientais sobre a biodiversidade da região.

Val diz que também haverá discussões sobre o que está escondido atrás da biodiversidade, e se há remédios e produtos naturais que podem ajudar na qualidade de vida do homem ou salvar outras espécies. Ele adianta uma descoberta recente que pode combater um tipo de câncer que está dizimando a população do diabo-da-tasmânia, na Austrália. A substância que pode curar o câncer dos bichinhos é produzida por uma aranha e fica dentro do veneno dela.

O pesquisador destacou ainda a sessão que vai discutir biotecnologia baseada na biodiversidade. “Vamos ter apresentações de empresas que usam elementos da biodiversidade, recursos naturais, para gerar novos produtos e processos que geram renda e permitem inclusão social das populações que vivem nas regiões mais biodiversas da Amazônia. Entre elas está a L’Oréal, que produz cosméticos com base em produtos naturais da floresta, e a Bombons Finos da Amazônia, que faz coisas deliciosas a partir das frutas regionais. Isso tudo é produto da biodiversidade”.

Expandindo ciência aos quatro cantos

O Simpósio Internacional Bilateral Brasil-França sobre Biodiversidade, que ocorrerá entre os dias 5 e 8 de junho, na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), terá uma sessão que buscará ampliar as cooperações científicas entre os estudiosos de biodiversidade. O coordenador do evento, Adalberto Val, disse que é muito importante não colocar mais a ciência no colo da sociedade e não ver o cientista como um cara exótico dentro de quatro paredes.

Para ele, o cientista precisa está no barzinho da esquina, no supermercado, na feira de artesanato, conversando com as pessoas, conversando com outros cientistas para trazer para o laboratório as questões que a sociedade quer ver respondidas. “Se eu não posso responder essa questão sozinho, como cientista, vou buscar uma cooperação com outro cientista para responder a pergunta. Afinal de contas a ciência é uma atividade social com fins sociais”.

O membro da Academia Brasileira de Ciências revela que os resultados do simpósio serão compartilhados com a sociedade. “Cada uma das pessoas que vão falar, são perto de 50, vai produzir um texto e a ABC vai produzir um volume especial dos anais com os resultados desse evento. Eu e o professor Vivaldo Neto, o outro coordenador do encontro, vamos produzir uma síntese executiva para socializar com todo mundo o resultado da conferência”.

Amazônia em destaque

Adalberto Val diz que o Brasil tem vários locais com uma grande biodiversidade, a Mata Atlântica e o Cerrado são exemplos, mas a Amazônia se destaca entre eles pelo tamanho, diversidade, unicidade e singularidade de áreas de endemismo. “Temos vários lugares dentro da Amazônia que possuem uma fauna e uma flora bem específicas, que não existem em outros lugares”.

Sem investimentos, sem ciência

Para Adalberto Val, sem investimentos não se consegue fazer ciência. Segundo ele, a ciência depende de dois fatores fundamentais: laboratórios equipados e pessoas treinadas. “Infelizmente a questão do investimento nesse momento deixa a desejar”, disse.

Matéria original em: http://www.acritica.com/channels/governo/news/relacao-saudavel-entre-homem-e-floresta-e-tema-em-simposio-bilateral-brasil-franca