issac-roitman_2_edit-2.jpgA sociedade contemporânea vive uma crise econômica e social pela exclusão de muitos da vida produtiva e uma crise de valores humanos, caracterizada por crescente individualismo, pela banalização da violência e degradação ambiental. Esse quadro tem tudo a ver com a educação. A análise do sistema educacional brasileiro aponta para graves deficiências. Entre elas, o analfabetismo total e funcional, avaliações nacionais e internacionais inadequadas, poucos avanços em formação e valorização do professor, pedagogia ultrapassada, evasão e violência.
Recentemente, foram aprovadas a reforma do ensino médio e a Base Nacional Comum Curricular. A educação brasileira não dará saltos com pequenas transformações. Todo o sistema educacional precisa ser novamente construído. O principal objetivo de uma educação de qualidade é a de preparar o futuro adulto para exercer um protagonismo social virtuoso, uma convivência harmônica com a natureza e ter um trabalho que lhe proporcione uma vida digna e feliz.
É preciso que adotemos os quatro pilares da educação básica propostos pela Unesco: 1) Aprender a conhecer; 2) Aprender a fazer; 3) Aprender a conviver; 4) Aprender a ser. O que realmente precisamos para superarmos essa verdadeira calamidade da educação brasileira é de uma verdadeira revolução do sistema educacional como um todo. De nada valerá criarmos um modelo adequado para o ensino médio se os egressos do ensino infantil e fundamental forem ceifados de qualidades inatas como a curiosidade e a criatividade.
Um bom começo seria o de priorizarmos a educação na primeira infância, fase em que o cérebro é desenvolvido com grande intensidade e quando a personalidade do ser humano é moldada. Nesse contexto, temos que formar um professor diferente, que podemos denominar “o novo professor”. Ele saberá utilizar de forma inteligente os avanços das tecnologias de informação e comunicação.
Esse professor não será um simples transmissor do conhecimento, e sim um estimulador que conhecerá os potenciais e as dificuldades de todos os seus alunos. Ele será preparado para identificar e superar conflitos. É absolutamente essencial atrair para a carreira de professor os nossos melhores talentos egressos do ensino médio. Para isso, além da gratificação de serem protagonistas na construção de um futuro virtuoso, teriam também o reconhecimento social, com uma carreira estimulante e com um salário que estaria no topo da carreira do servidor público, como acontece nos países que levam a educação a sério.
Os processos de aprendizagem precisam ser revistos. Precisamos gradualmente eliminar as aulas expositivas no nosso sistema educacional e eliminar os conteúdos inúteis. O cenário de uma aprendizagem contemporânea deve ser pela análise de temas e na resolução de problemas com um constante exercício da argumentação e do pensamento crítico. Em todo o processo de aprendizagem seriam também desenvolvidas as habilidades sociais e emocionais.
A abordagem interdisciplinar deverá estar sempre presente. A interação forte entre a escola, a família e a comunidade é fundamental para uma educação plena. A mídia, ao contrário do que ocorre, deve ser um valioso instrumento na formação cidadã. A promoção de valores e virtudes, tais como solidariedade, ética, desprendimento, amorosidade, responsabilidade social, compaixão e outras devem estar presentes em todos os níveis. Uma gestão eficiente e autônoma é também essencial. Tudo indica que implantação da Comunidade de Aprendizagem do Paranoá(CAP), uma nova escola pública da Secretaria de Educação do Distrito Federal, será uma notável iniciativa, simbolizando o fim da tragédia que é a educação brasileira.
Vamos cumprir a nossa missão geracional que é contribuir para termos um mundo melhor para as próximas gerações. Um mundo sem injustiças sociais, com oportunidades para que todos os brasileiros possam conquistar suas aspirações. O desafio é proporcionar uma educação de qualidade para todos os brasileiros e brasileiras. Assim fazendo, talvez possamos até nos orgulhar no futuro de nossos políticos. Vamos nos inspirar no pensamento de Pitágoras: “Educai as crianças e não será preciso castigar os homens”.
*Isaac Roitman é professor emérito e coordenador do Núcleo de Estudos do Futuro da Universidade de Brasília, membro da Academia Brasileira de Ciências e membro do Movimento 2022 O Brasil que queremos