Em noite de gala na Escola Naval, Rio de Janeiro, a ABC diplomou 18 novos membros titulares e correspondentes. O encontro, que reuniu acadêmicos, autoridades, pesquisadores convidados e familiares, foi marcado por discursos em defesa da ciência brasileira e contra os cortes orçamentários que atingem o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e as Fundações de Amparo à Pesquisa (Faps).
A cerimônia contou com a presença do ministro de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Gilberto Kassab; o comandante interino da Marinha do Brasil, Almirante-de-Esquadra Luiz Guilherme Sá de Gusmão; o presidente da ABC, Luiz Davidovich; o diretor-presidente da Fundação Conrado Wessel, Acadêmico Américo Fialdini Júnior; o presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Abílio Baeta Neves, representando o Ministro da Educação; o presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Marcos Cintra; o presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Mario Neto Borges; o Secretário do Estado do Rio de Janeiro para Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Social, Pedro Fernandes; e a presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Acadêmica Helena Nader.
As boas-vindas aos novos membros da academia foram dadas por um dos mais antigos acadêmico da ABC, Moysés Nussenzveig. Há 56 anos participando ativamente das atividades da Academia, Nussenzveig fez um duro e crítico discurso à atual situação vivida pela ciência brasileira. “Vocês ingressam nessa academia em uma das ocasiões menos auspiciosas para a ciência no Brasil”, iniciou o físico.
Ovacionado pela plateia diversas vezes, o cientista ressaltou o desastre premente. “O atual governo revela a sua profunda ignorância e desprezo pela área que mais deveria proteger em tempos de crise. Teremos um país com ajuste fiscal perfeito, mas com a ciência digna de uma República de bananas”, afirmou Nussenzveig. (Confira a íntegra do discurso aqui)
Além de saudar os novos membros, o presidente da ABC, Luiz Davidovich, ressaltou a missão que cada um deles ganha a partir de agora: a de defender a ciência brasileira. “Entrar na Academia não é apenas honra ao mérito, é trabalho. Nosso dever é mostrar para a sociedade brasileira e para o governo o que a ciência pode fazer pelo Brasil”, afirmou. “A ABC vai se manter defendendo a ciência, contra o obscurantismo da ignorância. Cientistas que somos, estamos acostumados a enfrentar problemas com ousadia. Precisaremos dessas qualidades para rumar a um país socialmente justo”, reforçou Davidovich. (Confira a íntegra do discurso)
Antes de conceder a posse aos recém-chegados, a nova Acadêmica Concepta Pimental falou em nome dos empossados. Irlandesa de origem, mas brasileira de coração, a professora titular da Universidade de Brasília (UnB) e diretora de Relações Internacionais da Capes destacou o papel da mulher na ciência brasileira, ressaltando alguns dos desafios que precisam ser vencidos para que elas tenham maior expressividade. “Nunca tive licença maternidade e amamentei meu filhos durante os intervalos das aulas. Temos que louvar as mulheres batalhadoras que mantêm suas pesquisas sem licença-maternidade. Precisamos de um plano em que mérito e qualidade sejam valorizados. Um plano em que os políticos parem de falar e comecem a agir”, disse Concepta. (Confira a íntegra do discurso)
Presente à solenidade, o ministro do MCTI, Gilberto Kassab se disse solidário e testemunha de como “infelizmente” a ciência brasileira carece de mais recursos. “Não há no pais uma única voz que não lamente pelo recursos que precisam ser continuados. Alocar 2% do orçamento para pesquisa e inovação é uma meta. Todos nós sabemos do momento difícil que passamos e do enfrentamento que precisaremos fazer para que sejam feitas correções e para que os investimentos em pesquisa e inovação sejam retomados”, afirmou Kassab.

Conheça os novos membros eleitos da ABC.

Helena Nader recebe a Medalha Henrique Morize
Na cerimônia, a ABC homenageou a presidente da Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader. A doutora em biologia molecular foi agraciada com a Medalha Henrique Morize, por sua brilhante carreira e firme posição em defesa da ciência brasileira.
A medalha foi entregue à Helena pelas mãos do presidente da academia, Luiz Davidovich, que destacou a “impressionante atuação da cientista à frente da SBPC”. “Helena tem defendido pautas da comunidade científica junto aos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, pondo o dedo na ferida em questões que são essenciais ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia do país. Com sua parceria, a ABC e SBPC têm reagido quase diariamente com documentos pela defesa da ciência, tecnologia e inovação”, disse Davidovich.
Bastante emocionada, Helena fez agradecimentos à Academia pela homenagem prestada, à sua família e, em especial, aos seus professores. “Agradeço à escola pública que me formou. Se não tivesse tido os professores que tive na minha vida e a universidade que me abriu os braços e onde vivo até hoje, eu não teria chegado aonde estou”, afirmou.
A Medalha Henrique Morize foi criada em 2014 com o propósito de homenagear indivíduos ou instituições que realizem ou tenham realizado contribuições expressivas para a Academia Brasileira de Ciências, bem como para o desenvolvimento da ciência brasileira. Os agraciados são selecionados pela Diretoria da ABC. Em sua primeira edição, em 2014, foi oferecida ao Acadêmico e então presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Jorge Guimarães e, em 2016, foi designada ao diretor-presidente da Fundação Conrado Wessel (FCW), o membro colaborador da ABC, Américo Fialdini Jr..
Prêmio Almirante Álvaro Alberto vai para pesquisador da Fiocruz
Neste ano, a maior honraria na área de ciência, tecnologia e inovação, o Prêmio Almirante Álvaro Alberto para a Ciência e Tecnologia, foi entregue a um pesquisador da área de Ciências da Vida, o parasitologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
Samuel Goldenberg. O membro da ABC dedica-se aos estudos sobre diferenciação de Trypanosoma cruzi – o protozoário agente da doença de Chagas -, regulação da expressão gênica em parasitos, genômica funcional e desenvolvimento de insumos para diagnóstico. O Prêmio Almirante Álvaro Alberto é uma parceria entre o MCTIC,o CNPq, a Fundação Conrado Wessel e a Marinha do Brasil.
O ministro do MCTIC, Gilberto Kassab, fez a entrega do prêmio ao pesquisador (foto). Presidente do CNPq, Mário Neto Borges, ressaltou a importância do prêmio como um incentivo à ciência brasileira e fez um pedido especial ao secretário de Estado do Rio de Janeiro de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Social, Pedro Fernandes. “Tenha um olhar bastante cuidadoso para a ciência do Estado do Rio, ela precisa ser fortalecida”, disse Borges.
“Em sua carreira, o professor Samuel Goldenberg tem contribuído para a criação de parcerias com instituições inglesas. “Temos, sim, pessoal capacitado para fazer ciência, tecnologia e inovação. Se convencermos os políticos e a sociedade, conseguiremos levar o país a se tornar uma potência social e econômica”, acrescentou ele.
Para Goldenberg, a premiação foi uma grata surpresa e o resultado do trabalho de excelência que a Fiocruz tem realizado desde a sua fundação. “Atuo há 35 anos na Fiocruz e garanto que ela proporcionou as condições necessárias para que eu fosse escolhido para esse prêmio. A Fiocruz nos ensina a importância dos valores democráticos e de trabalhar nesse grande programa que é o SUS [Sistema Único de Saúde]”, afirmou.
Goldenberg também ressaltou o apoio recebido pelo CNPq, desde 1971, quando ainda fazia iniciação científica. “Sempre contei com o apoio financeiro à pesquisa por meio do CNPq. Esse é um exemplo da importância do Conselho. Temo a ameaça a esse patrimônio construído nesses 66 anos de existência do CNPq. A ciência brasileira está seriamente ameaçada pelos cortes orçamentários e pela falta de políticas que mantenham a infraestrutura dos institutos de pesquisa. Nossos resultados perdem impacto quantitativo e qualitativo com essa situação. Estamos perdendo também investimentos em educação, além de sermos abatidos pelos impactos nefastos da fuga de cérebros. Ciência não é gasto, é investimento, como diz Helena Nader”, criticou o pesquisador. (Confira a íntegra do discurso)

Pesquisadores eméritos são empossados pelo CNPq
Também foram agraciados os dez ganhadores do título de Pesquisador Emérito, homenagem do CNPq àqueles que contribuem para o desenvolvimento científico e tecnológico do país. Os pesquisadores eméritos são Fábio de Melo Sene (USP); Ingedore Grunfeld Villaça Koch (Unicamp); Jorge de Lucas Junior (Unesp); Jorge Luiz Gross (UFRS); Luiz Carlos Bresser Pereira (FGV-SP); Othon Henry Leonardos (UnB); Ricardo de Araújo Kalid (UFSB); Sandoval Carneiro Junior (ITV); Ângelo Barbosa Monteiro Machado e Jose Arthur Giannotti (USP). A Menção Especial de Agradecimento do CNPq foi entregue ao deputado Sebastião Sibá Machado Oliveira.