Em artigo, o Acadêmico Sérgio Mascarenhas fala sobre o projeto que conjuga áreas da ciência e música, que está sendo chamado Biomúsica, e a importância da integração entre Ciência e Tecnologia e as ciências humanas para o desenvolvimento.

O futuro da humanidade depende da união virtuosa da ciência e tecnologia com as humanidades (artes, literatura, história, filosofia). C.P. Snow denominou essa utopia de “Terceira Cultura”.

Uma realização efetiva dessa transdisciplinaridade já ocorre com o uso de sofisticadas tecnologias como das áreas de matemática, física, bioinformática com música, artes plásticas e linguística. Uma das tentativas mais interessantes nas quais estou envolvido é o que podemos chamar de biomúsica, com três vertentes:

1- A partir da estrutura molecular de biomoléculas como proteínas, polinucleotídeos, lipídios, glicídios;

2- A partir de técnicas de imagens ou de análise espectroscópica de funções biológicas como ressonância nuclear magnética funcional;

3- A partir da bioinformática,com o uso de técnicas de análise de sinais biológicos com redes neurais, autômatos celulares, envolvendo o que se chama de machine-learning e/ou métodos de sistemas complexos.

Em todas essas áreas aparece imediatamente uma necessidade fundamental: o uso das técnicas de ciências básicas, como matemática e suas vertentes modernas como topologia, teoria de números, fractais; a biofísica e bioengenharia, com suas poderosas técnicas de imageologia, espectroscopias e hardwares e softwares associados. Estes não podem expressar sozinhos valores da estética ligados tanto à expressão musical, realtiva à estrutura das composições, como com o próprio psiquismo da percepção musical, por exemplo na psicoacústica ou na musicofilia, tão bem analisada por Oliver Sacks.

No meu caso, tomei a estrutura primária de uma proteína ligada ao veneno de serpente usada em cardiologia ou da insulina ligada ao diabetes. Criei uma planilha de correspondência entre os aminoácidos e as notas de uma dada escala musical. Para o ritmo essencial para a expressão musical, utilizei frequências biológicas como batimentos cardíacos, frequências respiratórias.

Naturalmente, deixei a cargo dos músicos profissionais co-autores a expressão final das composições. Esses trabalhos foram registrados no Estudio Berimbau em Sao Carlos,  onde podem ser obtidos por solicitação no site www.estudioberimbau.com.br. Um excelente número de composições tipo terceira cultura tem sido realizadas pioneiramente pelo Prof. Norberto Cairasco, neurocientista da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, nas quais ele associa a música executada por grupo musicais com sua própria inspiração ao ouvi-la, executando maravilhosas ilustrações por meio de aplicativos digitais.