No dia 28 de junho, foi realizada a já tradicional cerimônia de diplomação e simpósio cientifico dos membros afiliados da Academia Brasileira de Ciências (ABC), da Regional Rio de Janeiro, eleitos para o período 2016-2020. O evento, realizado na sede da ABC, foi organizado pela Acadêmica Lucia Previato, vice-presidente regional da ABC. Na mesa de abertura, estavam o presidente da ABC, Luiz Davidovich; o reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Leher; o vice-diretor de Pesquisa Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Instituto Oswaldo Cruz, Hugo de Castro Faria Neto; e o vice-reitor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Antonio Nóbrega.
Na mesa de abertura, Hugo Faria Neto, Roberto Leher, Luiz Davidovich e Antonio Nóbrega
Foram diplomados Daniel Sadoc Menasché (ciências da engenharia, UFRJ), Fernando de Carvalho da Silva (ciências químicas, UFF), Leandro Alcoforado Sphaier (ciências da engenharia, UFF), Fernanda Tovar Moll (ciências da saúde, UFRJ e Instituto DOR de Pesquisa e Ensino – IDOR) e Flávia Lima Ribeiro Gomes (ciências biomédicas, Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz).
Roberto Leher afirmou que a ABC foi uma das organizadoras do campo científico brasileiro justamente por congregar pesquisadores de diversas áreas, e a inclusão de jovens pesquisadores possibilita práticas e culturas institucionais muito importantes para a área. “Neste momento de mudanças na organização da ciência – com a fusão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação com o das Comunicações -, que é definidor para o futuro da ciência, temos um protagonismo extraordinário da Academia”, destacou. “Então, este momento de jovens pesquisadores ingressando em seus quadros é muito simbólico, pois desperta a esperança de que os novos cientistas farão jus ao trabalho da ABC em prol da ciência.”
Hugo Faria Neto acrescentou que os novos membros são trazidos para dentro da Academia com o objetivo e responsabilidade de carregar a bandeira da ciência: “É um momento difícil do fazer ciência no país. Mas, quando a ABC aceita, entre seus novos membros, jovens pesquisadores com todo o gás de carreira, não é um momento de esmorecer, mas de ter mais garra.” Neto ressaltou que a Academia tem o papel de manter a tradição de levar a ciência à comunidade e mostrar como é importante dar valor a esse tipo de atividade. “Espero que vocês cumpram essa missão de carregar nossa ciência cada vez mais para frente”, disse aos novos membros afiliados.
Antonio Nóbrega apontou que a Academia não é apenas um ambiente de ciência, mas também de ativismo político. “A ABC sempre teve esse papel de protagonista no sentido não só de marcar a importância de ciência, tecnologia e inovação (CT&I) na construção do país, mas de resistir aos momentos em que as preferências por soluções fáceis ganham volume e tomam lugar das soluções necessárias.” Ele citou uma frase emblemática de Luiz Davidovich que afirma que uma ponte para o futuro (nome do plano de governo do presidente interino Michel Temer) sem base em CT&I se arrisca a cair na primeira ressaca. “Esse é um momento de festa, mas também de luta. Temos que andar para a frente.”
Fernando de Carvalho da Silva, Leandro Alcoforado Sphaier, Fernanda Tovar Moll, Luiz Davidovich,
Lucia Previato, Flavia Ribeiro Gomes e Daniel Sadoc Menasché
Luiz Davidovich comentou que a cerimônia de diplomação dos novos membros afiliados é a imagem do futuro da ABC: “Estes são os jovens que empunharão as bandeiras que já levantamos, e eles podem começar a carregá-las desde já.” O físico lembrou que o evento tem muito a ver com o ex-presidente da ABC Jacob Palis, ali presente, porque essa categoria foi instituída por ele em sua gestão de nove anos, que mudou a face da Academia com várias inovações. “Outro reflexo é a presença, como vice-presidente regional, de Lucia Previato, pois as vice-presidências regionais também foram criadas por Palis e ajudaram muito a promover a capilaridade da ABC.”
Davidovich explicou que os membros afiliados diplomados em 2016 fazem parte da Academia por um período de cinco anos, até 2020, e que espera-se que, no futuro, eles se tornem membros titulares. “É uma categoria que ajuda a Academia a se renovar e aproxima pesquisadores experimentes dos jovens que já se destacam em suas áreas.”
O presidente da ABC disse que os novos membros perceberão que essa instituição tem múltiplas faces. “É uma casa de defesa do desenvolvimento cientifico e tecnológico do pais, o que muitas vezes assume o papel de resistência, mas sempre olhando para o futuro. É uma casa de sonhos.” Davidovich acrescentou que a ciência tem um valor que vai muito além de suas possíveis aplicações, pois tem origem na curiosidade e paixão por conhecimento do ser humano, que acabam servindo para o desenvolvimento do país.
“Muitas vezes, cientistas fazem pesquisas sem nenhuma ideia de suas aplicações”, afirmou. “Minha área, a física quântica, que avançou no século 20, surgiu com jovens de 20 e poucos anos que descobriram que o mundo microscópico tinha um comportamento muito diferente do macroscópico. Eles não tinham a menor ideia do que estavam fazendo, mas queriam entender como a natureza funcionava, era o impulso humano.” Cem anos depois, nos anos 2000, um terço do PIB mundial já dependia da física quântica – ligada ao laser, aparelhos de ressonância magnética e GPS.
“Essa historia é muito comum: ciência produzida pela paixão que acaba sendo revertida para a humanidade. Então essa é a casa da defesa de ciência e tecnologia, da resistência, mas também a casa da paixão pelo conhecimento, da curiosidade e dos sonhos. É a casa do futuro.”
O membro afiliado Artur Ziviani, do período 2013-2017, deu as boas vindas aos novos colegas. Segundo ele, a principal mensagem é a desmistificação da Academia para os jovens pesquisadores, de modo que a categoria de membros afiliados traz esses jovens para dentro da casa, permitindo discussões ricas. “É importante ver isso não como uma homenagem pontual, mas como uma oportunidade de ter novos horizontes, conviver com outros profissionais, de outras áreas, outros afiliados no mesmo ponto de carreira, e com outros titulares que são como nossos mentores.” Ziviani comentou que as primeiras gerações de afiliados já terminaram seus mandatos, mas continuam envolvidas com a ABC. “Esse sentimento de comunidade entre os afiliados se mantém.”
Flavia Ribeiro Gomes fez um pronunciamento em nome dos novos membros afiliados. “A nossa diplomação acontece em um momento histórico, ano em que a ABC festeja seus memoráveis 100 anos”, comentou. “Foi criada por um grupo de pesquisadores talentosos e criativos para promover a ciência no pais, e seus fundadores ficariam muito orgulh
osos em vê-la hoje, reconhecida pela sociedade, governo e comunidade cientifica nacional e internacional.” A cientista agradeceu a oportunidade que os afiliados terão de conviver com grandes nomes da ciência.
O evento contou, ainda, com apresentações de membros titulares sobre suas pesquisas. A Acadêmica Patricia Bozza, do Laboratório de Imunofarmacologia da Fiocruz, abordou o tema da inflamação e metabolismo nas interações patógeno-hospedeiro. Já Edson Watanabe, diretor da Coppe/UFRJ, falou sobre como a área conhecida como Eletrônica de Potência mudou o nosso dia a dia.
Além deles, os afiliados eleitos também tiveram a oportunidade de apresentar seus estudos que os levaram a ingressar na ABC. Saiba mais sobre o trabalho desses jovens cientistas em seus perfis:
Inspirado pela ideia de tornar a vida das pessoas melhor, Daniel Sadoc chegou a considerar a ideia de cursar medicina, mas acabou optando por computação. Hoje ele trabalha aprimorando redes de água, gás e energia em projetos de cidades inteligentes.
Após ser recusado pelo Colégio Naval, Fernando da Silva ficou em dúvida sobre qual ramo seguir, mas acabou optando pela química, área com a qual logo se identificou e teve destaque.
Diagnosticada com uma doença autoimune em seu segundo ano de faculdade, Flávia Gomes hoje se dedica a buscar tratamentos para enfermidades deste tipo.
A partir de imagens de ressonância magnética, a neurocientistas Fernanda Tovar Moll trabalha mapeando os circuitos e conexões do cérebro para identificar anomalias causadas por doenças e buscar tratamentos.
Leandro Sphaier é engenheiro mecânico especializado em transferência de calor e de massa e, este ano, iniciou trabalhos de pesquisa aplicando esse conhecimento à produção de cerveja.