Como a ciência pode colaborar para tornar melhor a vida das pessoas? Ela pode prevenir doenças e desastres naturais? E quais são as responsabilidades da Academia de Ciências da maior potência mundial diante desses cenários?

Essas foram as perguntas que a bióloga Marcia McNutt, editora-chefe da revista Science e presidente eleita da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos (NAS, na sigla em inglês), procurou responder em sua palestra na Reunião Magna 2016, realizada no dia 4 de maio no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, em comemoração aos 100 anos da Academia Brasileira de Ciências.

Marcia disse que crises são “indústrias em crescimento”, ou seja, tem aumentado, no mundo, o potencial de catástrofes. Exemplos disso são o fato de mais pessoas viverem em áreas de risco, por conta da urbanização desorientada; a temperatura terrestre estar aumentando e o crescimento da economia, que causa inúmeros problemas para o planeta, principalmente por conta da industrialização.

A ciência pode evitar esse cenário, no entanto, prevendo locais propensos a desastres; a frequência que uma catástrofe pode acontecer em uma região; o tempo e a intensidade dos fenômenos naturais e avisar as pessoas para que não estejam em áreas de risco em ocasiões propensas a desastres. “Não podemos evitar terremotos com placas em movimento”, diz McNutt, “mas aquelas causadas pela extração de petróleo feita erroneamente, nós podemos”, completa.

Como exemplos de desastres que poderiam ter sido evitados com mais iniciativa e/ou incentivo à pesquisa científica, McNutt cita a epidemia recente de ebola na África. “Havia dezenas de milhares de dados sobre pacientes que poderiam ajudar na solução do problema, mas a falta de inciativa impediu um trabalho conjunto”, afirmou a editora da Science, comparando este fato com a epidemia mundial de zika, cuja busca por uma solução se encontra em fase avançada.

De acordo com a bióloga, países como Haiti e Chile necessitam de um estudo aprofundado para evitar que se repitam as perdas por terremotos de grandes dimensões e para atenuar danos de terremotos menores, que são mais frequentes. “Duvido que nesses países estejam investindo em saúde e educação e não possam estimular a pesquisa científica para evitar acidentes de grande escala”, critica a pesquisadora.

Ela também destacou a responsabilidade da NAS para evitar grandes catástrofes internacionais. “Como uma instituição internacional, temos que pensar em desastres de forma mais abrangente”, afirmou McNutt. “Temos que ter os cientistas trabalhando além das disciplinas, pensando, após uma catástrofe, em como evitar que ela se repita”.

Para a presidente da NAS, mudar esse panorama requer transformações no cenário científico, com a diversificação dos perfis de cientistas, acolhendo e incentivando a presença maior de cientistas mulheres, de outras etnias e de outros países, com uma percepção diferente do mundo e novas questões para a pesquisa. Ela ressaltou ainda que a comunidade científica mundial deve exigir de seus representantes ética impecável. “Cientistas não podem fazer parte da solução se forem parte do problema”, completa McNutt.