Os impactos das mudanças climáticas no país comprometerão o rendimento das safras de trigo, arroz, milho e soja, produtos fundamentais da cesta básica do brasileiro. Outro problema desembarca no litoral. Segundo prognósticos divulgados esta semana pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), grandes populações de peixes deixarão a zona tropical nas próximas décadas, buscando regiões de alta latitude. Desta forma, a pesca artesanal também é afetada.
A falta de segurança alimentar também vai acometer outros países. Estima-se que a atividade agrícola da União Europeia caia significativamente até o fim do século. Duas soluções já são estudadas. Uma seria aumentar as importações – o Brasil seria um importante mercado, se conseguir nutrir a sua população e, além disso, desenvolver uma produção excedente. A outra possibilidade é a pesquisa de variedades genéticas que deem resistência aos alimentos diante das novas condições climáticas.
– Os eventos extremos, mesmo quando têm curta duração, reduzem o tamanho da safra – contou Marcos Buckeridge, professor do Departamento de Botânica da USP e coautor do relatório do IPCC, em uma apresentação realizada ontem na Academia Brasileira de Ciências. – Além disso, somos o país que mais queima florestas no mundo, e a seca é maior justamente na Amazônia Oriental, levando a perdas na agricultura da região.
O aquecimento global também enfraquecerá a segurança hídrica do país.
– É preciso encontrar uma forma de garantir a disponibilidade de água no semiárido, assim como estruturas que a direcione para as áreas urbanas – recomenda José Marengo, climatologista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e também autor do relatório.
Marengo lembra que o Nordeste enfrenta a estiagem há três anos. Segundo ele, o uso de carros-pipa é uma solução pontual. Portanto, outras medidas devem ser pensadas. A transposição do Rio São Francisco também pode não ser suficiente, já que a região deve passar por um processo de desertificação até o fim do século.
De acordo com um estudo realizado em 2009 por diversas instituições brasileiras, e que é citado no novo relatório do IPCC, as chuvas no Nordeste podem diminuir até 2,5mm por dia até 2100, causando perdas agrícolas em todos os estados da região. O déficit hídrico reduziria em 25% a capacidade de pastoreiro dos bovinos de corte. O retrocesso da pecuária é outro ataque à dieta do brasileiro.
– O Brasil perderá entre R$ 719 bilhões e R$ 3,6 trilhões em 2050, se nada fizer . Enfrentaremos perda agrícola e precisaremos de mais recursos para o setor hidrelétrico – alerta Carolina Dubeux, pesquisadora do Centro Clima da Coppe/UFRJ, que assina o documento. – A adaptação é um constante gerenciamento de risco.