A riqueza da biodiversidade amazônica suscita cada vez mais estudos sobre novas formas de promover o seu uso sustentável. A química Joyce Kelly é uma dessas pesquisadoras e, há mais de dez anos, investiga as potencialidades dos óleos essenciais da região na produção de insumos para a indústria. O grupo de pesquisa do qual faz parte já catalogou três mil espécies aromáticas, muitas delas com atividade fungicida, inseticida e larvicida, outras com propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e analgésicas, e algumas ainda com potencial uso no tratamento da doença de Alzheimer.

De acordo com a cientista, os ativos da natureza carregam a vantagem de interagir bioquimicamente com os componentes do corpo humano e promover modificações fisiológicas na pele, retardando, por exemplo, seu processo de envelhecimento. É nesse contexto que Joyce busca investigar as atividades dos óleos como inibidores da tirosinase – uma enzima que desempenha um papel importante na síntese da melanina, responsável pela pigmentação da pele, cabelo e olhos – que podem atuar como clareadores. “Os óleos essenciais podem agir como antioxidantes naturais e, assim, combater o estresse oxidativo, um desequilíbrio que ocorre quando a produção de radicais livres do organismo supera a de antioxidantes”, explica.

A intenção de Joyce é identificar a atividade biológica desses óleos para compor e enriquecer novas formulações cosméticas naturais. “É muito comum encontrar na Amazônia espécies que não são caracterizadas quimicamente, e queremos tornar isso possível através da pesquisa. Precisamos checar onde elas existem, quais são seus componentes químicos e permitir que tenham um cultivo viável, para não agredir o meio ambiente”, revela. Além de contribuir para o cultivo de fontes renováveis, a pesquisadora quer colaborar com o desenvolvimento econômico da região, em parceria com fabricantes nacionais e internacionais. “É um sonho agregar o conhecimento científico com a indústria, pois faltam condições de manejo específico para gerar economia para a Amazônia. Muitas espécies não são exploradas em todas as suas potencialidades e temos embasamento científico para promover isso”, conta.

Natural de Belém, a paraense de 31 anos iniciou seus estudos em 1999, quando ingressou no curso de graduação da Universidade Federal do Pará (UFPA). Fascinada pela química, devido ao seu leque de aplicações principalmente na Amazônia, Joyce começou a estudar os extratos das espécies da região ainda na graduação, dando continuidade durante o mestrado (2006) e o doutorado (2010) em Química Orgânica com ênfase em Produtos Naturais, concluídos na mesma instituição. A paixão pela pesquisa se soma à outra, bastante evidente por seus colegas e alunos: a maquiagem.

Apesar da rotina intensa – acorda às seis da manhã, passa oito horas no laboratório, ministra aulas na graduação e na pós-graduação, e orienta alunos em seus projetos de pesquisa -, Joyce não abre mão de estar sempre em dia com a beleza. “Sou vaidosa e me autodenomino a professora maquiada. Fico atenta às novidades do mercado e as pessoas costumam elogiar quando posto no Facebook os meus looks de maquiagem. Dizem, inclusive, que o prêmio da LOréal caiu como uma luva”, brinca.