Uma argentina apaixonada por números e em busca de sua aplicabilidade para o bem social. Esta é Florencia Graciela Leonardi, a matemática nascida na cidade de Pehuajó, na província de Buenos Aires, que há dez anos se mudou para o Brasil atrás de um sonho: cursar doutorado na Universidade de São Paulo (USP). Na bagagem, trouxe a teoria adquirida durante a graduação em ciências matemáticas, na Universidade Nacional de Mar del Plata, e a ambição de transformar fórmulas em soluções para a sociedade.

Foi aqui, no país vizinho, que Florencia Leonardi descobriu que seus conhecimentos poderiam sair do papel e contribuir para os avanços da Neurociência e de outras áreas do conhecimento. Autora da pesquisa “Inferência estatística para grafos aleatórios e redes probabilísticas”, a laureada se dedica a desenvolver metodologias para associar a probabilidade teórica à análise de dados do cérebro. A ideia de se especializar nessa linha teve como inspiração a capacidade de os modelos matemáticos descreverem diferentes situações cerebrais, através de padrões de grafos – objetos matemáticos utilizados para ilustrar relações entre diferentes elementos, no caso, pontos das regiões cerebrais e suas conexões.

Estudos recentes sugerem indícios de que, após sofrer situações traumáticas, o cérebro apresenta diferentes padrões de grafos. Um exemplo dessa alteração é a reorganização das redes de neurônios que se dá imediatamente depois de um acidente vascular cerebral (AVC). Segundo Florencia, considerando a variabilidade presente nessas redes, é necessário introduzir uma medida de probabilidade, os chamados grafos aleatórios. Já quando são observadas variáveis em cada elemento e é preciso estabelecer relações entre elas, são aplicadas as redes probabilísticas. “Estes dois modelos têm sido bastante estudados do ponto de vista teórico, no entanto, para utilizá-los na prática, precisamos de ferramentas estatísticas, como os métodos de inferência. Este trabalho está inserido em um projeto maior, que reúne diversos pesquisadores que tentam entender o funcionamento do cérebro, e deve contribuir no futuro para criar fórmulas de tratamento para pessoas com mobilidade reduzida”, diz a cientista.

Além da causa social, de recuperar pessoas permitindo ao cérebro encontrar novas conexões para contornar deficiências, aos 35 anos, a Dra. Florencia tem mais duas grandes motivações para a carreira: Faustino, seu filho de três anos, e Cassiano, de apenas seis meses. Superando o desafio de conciliar a vida de mãe e cientista, ela, que ainda é professora do Instituto de Matemática e Estatística da USP, conta com o apoio do marido, que também veio da Argentina para morar no Brasil, e agora com o da LOréal. “Na maternidade, há períodos em que você fica bastante tempo afastada e dá um grande intervalo nos estudos. Muitas pessoas tendem a abandonar a profissão, mas esse prêmio é um enorme incentivo para nós mulheres, que temos muito a contribuir para a ciência”, ressalta.