Minha cansada memória não registra algo parecido. Um Ministro de Estado programa sua vinda a Manaus e manifesta interesse em cumprir uma manhã inteira de trabalho ouvindo, pacientemente, todos os secretários de estado de ciência e tecnologia e presidentes de fundações estaduais de amparo à pesquisa da chamada Amazônia Legal. O cenário escolhido de propósito pela secretaria anfitriã? A sala principal do histórico Palácio Rio Branco. A pauta única? A construção de um grande e consistente plano de ação em Ciência, Tecnologia e Inovação para a Amazônia, com perspectivas de trinta anos, mas com metas de curto, médio e longo prazos, a perseguir aquele velho sonho de que, nessa área, ações não podem se confundir com mandatos, devem ser encaradas como políticas de Estado em permanente renovação, mas sem trégua de cumprimento.

O que poderia haver de inovador em uma reunião dessa natureza? Resgatemos um pouco da História. Não há como negar que as últimas e ousadas intervenções na Amazônia são, ainda, herança da ditadura militar instalada no Brasil em 1964, por sinal de triste memória. Pra se buscar exemplos mais próximos da nossa realidade, há que se fazer justiça que a Zona Franca de Manaus foi um lance premiado que deu e continua dando enorme sobrevida ao Amazonas, responsável, inclusive, pelos 97% de preservação da floresta. Pode-se até questionar que pouco proveito estruturante se tirou nesses 45 anos de sua existência, mas aí já é um problema nosso. A Transamazônica e o processo de colonização da Amazônia são outro exemplo, embora de pífios resultados. Pode-se citar, ainda, a hidrelétrica de Balbina, um desastre. Mas o certo é que, desde a redemocratização do país, nenhum programa do Governo Federal voltou seus olhos para a grandiosidade e a importância estratégica da região. Falar, fala-se muito. Raro o dia, no Brasil ou no exterior, em que não esteja acontecendo algum evento sobre a Amazônia. Centenas e centenas de empresas, fora da região, é claro, faturam em cima da marca Amazônia. E de suas matérias-primas. Há sempre um clamor nacional e internacional em prol da preservação da Amazônia. Uníssonas vozes proclamam sua relevância contra o aquecimento global. Em síntese, como sempre repete a incansável Bertha Becker, querem que a gente preserve e guarde a Amazônia, fala-se à exaustão dela, mas não dos amazônidas, que não são poucos e hoje chegam a 25 milhões de almas.

Aí está, pois, o caráter histórico e inovador da reunião em Manaus. O Ministro Raupp abraça a ideia dos secretários de CT&I e presidentes de fundações de amparo à pesquisa da região Norte, plantada há seis meses, de construção do plano e com eles comunga o mesmo discurso. Não se pode preservar a Amazônia sem conhecê-la. Há muito conhecimento a ser gerado sobre ela. Não é possível que os povos da região vivam cercados por tantas riquezas naturais e delas não tenham o direito de auferir a felicidade traduzida em bens materiais, qualidade de vida, emprego e renda. Mas a construção desse caminho só é possível tendo-se a ciência, a tecnologia e a inovação como permanentes aliadas. Neste sentido, a elaboração do Plano de Ação em CT&I para a Amazônia, a ser executada pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), já tem recursos assegurados pelo MCTI e sinalização do BID como grande parceiro, portanto, já deixou de ser apenas um sonho.

No mais, ao reconhecer que ” não queremos pensar no futuro da Amazônia, mas no seu presente”, o Ministro Raupp rompe o paradigma da eterna espera e se lança para a História como o Ministro da Amazônia. Bravo, Ministro!