Entre os dias 5 e 8 de novembro, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) promoveu a 7a edição da Conferência Avanços e Perspectivas da Ciência no Brasil, América Latina e Caribe, onde foram expostos progressos do conhecimento em todas as áreas da ciência. O evento acontece anualmente, integrando várias gerações de pesquisadores da comunidade científica da parte sul do continente.

“Uma parte mínima é fundamental para entender o todo”

Essa foi a frase da Acadêmica Vera Lucia Gaiesky (UFRGS) para apresentar os temas das palestras de ciências biológicas que aprofundaram as relações entre o que só pode ser visto pelo microscópio e o que pode afetar toda uma vida: o câncer. Como coordenadora, ela selecionou palestrantes em tempos de carreira distintos, que, no entanto, estão se transformando em líderes dentro em suas áreas de atuação. “A responsabilidade de escolhê-los é grande, porque são muitos os profissionais competentes e que têm produzido pesquisas revelantes para a sociedade. A palestra de cada um deles é a maior prova que disponho para justificar esta seleção”, afirmou.
Phd em ciências biológicas (UFRJ), Luciana Pizzatti apresentou “Proteômica e câncer: os novos caminhos na identificação de biomarcadores”, tratando de seu estudo sobre leucemias. Ela é pesquisadora do Instituto Nacional do Câncer (Inca) e trabalha com amostras biológicas dos pacientes dessa instituição, explorando a aplicação da proteômica – área da biotecnologia que estuda o conjunto de proteínas e suas isoformas contidas em uma amostra biológica que são determinadas pelo genoma da mesma -, a identificação de marcadores de novas drogas e novas vias de sinalização com o objetivo de atender aos pacientes que não respondem as terapias tradicionais que existem hoje.

Doutora em ciências biológicas (UFRJ), Teresa de Souza Seixas também é pesquisadora do Inca. Na palestra “Epigenética no câncer: a síndrome mielodisplásica”, ela abordou alterações desta doença, além de novas terapias para o seu tratamento, além dos avanços recentes em diagnóstico e de prognóstico. Para ela, o uso de biomarcadores para um diagnóstico mais precoce beneficiará a qualidade de vida dos pacientes, além de levar a novas formas de tratamento.

Doutora em Imunologia e Phd por universidades norte-americanas, Cristina Bonorino é professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC-RS) e mostrou resultados do seu grupo de trabalho, que identificou uma propriedade nova para um neuropeptídeo que é ser quimio-atraente para as células, funcionando como um receptor migratório. O grupo está pesquisando a relação entre estresse emocional e o desenvolvimento de uma inflamação, além de estudar bloqueadores de peptídeos e receptores no combate ao câncer.

Doutor em genética e biologia molecular (UFRGS), Elgion Loreto é professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Na palestra “Elementos genéticos móveis” ele abordou os transpósons, elementos que são capazes de trocar de localização nos cromossomos. Originalmente, os transpósons foram descobertos no milho e posteriormente se verificou sua presença em quase todos os organismos. “45% do genoma humano, por exemplo, corresponde a este tipo de sequência. A importância de se estudá-los é que eles podem ser usados como vetores de terapia gênica, além de estarem associados à indução de algumas doenças, como o câncer.”

Estas palestras trouxeram esperança de novos tratamentos para uma doença que, segundo a Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (IARC, na sigla em inglês), se desenvolve por mais de 100 maneiras e cujo impacto global se tornou duas vezes maior nos últimos 30 anos, causando a morte de milhões de pessoas.

Neste esforço dos palestrantes em produzir pesquisas que beneficiem a sociedade, a conferência ofereceu uma oportunidade de diálogo entre os cientistas e de interação com o público. Para Elgion Loreto, esse tipo de conferência é uma “grande partidária da interdisciplinaridade e do trabalho em parceria”. Cristina Bonorino concorda e acrescenta que “esses encontros aprofundam o nosso conhecimento, porque o grande avanço acontece quando observamos na pesquisa do outro um meio de progredir com a nossa, uma soma de visões distintas, de diferentes perspectivas”. “Aqui se sabe para onde a ciência está caminhando”, afirmou Luciana Pizzatti. “A ciência é isto: a união de todos para o aprendizado contínuo”, definiu Teresa Souza de Seixas. E cooperação, parceria, interdisciplinaridade são palavras diferentes que significam união.