A série “Veneno em doses diárias”, sobre os efeitos nocivos do uso indiscriminado dos agrotóxicos, publicada no início de junho pelo GLOBO, rendeu aos repórteres Carla Rocha, Fábio Vasconcellos e Natanael Damasceno uma oportunidade para falar sobre a experiência a profissionais da área de saúde. Os três foram convidados por pesquisadores da Fiocruz para apresentar, num seminário realizado pela instituição na PUC, a metodologia utilizada na reportagem que revelou a existência de altas taxas de mortes por câncer e de casos de suicídio nas regiões agrícolas do estado.
Além de ir a campo buscar histórias e relatos feitos pelos próprios trabalhadores rurais, a equipe também se debruçou sobre dados oficiais e ouviu especialistas para entender a fundo o problema. Mas o que mais impressionou os profissionais de saúde foi uma análise geoespacial dos indicadores de mortalidade e dos suicídios.
Estudante de doutorado, Fábio sugeriu a utilização de um software específico para este tipo de trabalho, comparando as taxas de câncer e suicídio, que pesquisas científicas sugerem estar associadas ao uso indiscriminado de agrotóxicos, com a “mancha” da produção agrícola da região. Alguns afirmaram que os dados levantados eram relevantes e devem ser mais investigados.

— É um método estatístico muito usado nas ciências sociais para analisar melhor um problema. É um tipo de jornalismo que vem sendo feito, por exemplo, nos EUA – contou Fábio.
O epidemiologista Sérgio Koifman, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública e Meio Ambiente da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, gostou do que viu e fez o convite. Para ele, foi um exemplo de como o jornalismo pode dar sua contribuição para a ciência.

— O jornal realizou um trabalho muito pouco comum no Brasil. Em vez de se limitar a reproduzir informações, a imprensa dá sua colaboração realmente produzindo dados. Foi um esforço notável e que, além de tudo, promove uma aproximação entre a mídia e a academia que beneficia todos, em especial a população – disse Koifman.