No dia 15 de março, o Acadêmico Luiz Hildebrando Pereira da Silva lançou seu livro “Crônicas Subversivas de um Cientista”, publicado pela editora Vieira&Lent. O evento foi realizado na Casa da Ciência da UFRJ e prestigiado pelos Acadêmicos Alberto Passos Guimarães Filho, Marcello André Barcinski, Maria Laura Mouzinho Leite Lopes, Mécia Maria de Oliveira, Roberto Lent e Wanderley de Souza.

O livro reúne as crônicas dos dois primeiros livros publicados pelo cientista – “O fio da meada” e “Crônicas de nossa época”, respectivamente – e também algumas inéditas. O primeiro, publicado em 1990, é uma coletânea de crônicas, que, segundo o autor, mostram que a vida tem uma coerência do início ao fim. “Até aquele momento, eu sentia que tudo o que eu tinha vivido passava por um fio condutor, por isso o título”, explica. Já o segundo, nomeado “Crônicas de nossa época”, parte de uma reflexão do filósofo Jean-Paul Sartre, que diz que “É preciso, portanto, escrever para sua época”, o que o levou a publicar para seus contemporâneos. “Depois disso, continuei escrevendo, pois passei a gostar”.

O Acadêmico (na foto ao lado com sua esposa e o Acadêmico Roberto Lent, sócio da editora Vieira e Lent), um dos mais respeitados especialistas na área de doenças tropicais – especialmente malária, conta que as obras nasceram de suas experiências e perspectivas. “Eu me encontrava no exterior sem a mesma dinâmica de contato social e familiar. Com isso, passei a desenvolver uma vida intelectual pessoal de reflexão com mais intensidade”. Segundo ele, os textos são lembranças do período da ditadura militar, momento em que ele se encontrava exilado na França. “Eu percebi que aquelas crônicas podiam virar livro e ser lidas por muitas outras pessoas que também passaram por situação semelhante e tinham história para contar”.

Por amor à ciência

Ao contrário do que se possa imaginar, não foram exatamente os caminhos da ciência que levaram Hildebrando para a França. Membro do Partido Comunista Brasileiro, ele foi um dos inúmeros alvos do Ato Institucional nº 1, decretado pelo presidente Castello Branco em 1964, que levou diversos intelectuais do país para o exílio. Aos 34 anos de idade, o professor teve de deixar o laboratório de genética de microorganismos da Universidade de São Paulo (USP), onde era livre-docente, e voltar a Paris, para o Instituto Pasteur, no qual já havia realizado pesquisas anteriormente. Em 1968, retornou ao Brasil, a pedido do diretor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto.

Organizou o laboratório de genética microbiana, mas com o Ato Institucional nº 5, aprovado pelo presidente Costa e Silva, foi novamente demitido. Com a segunda extradição, o Brasil perdeu a presença do pesquisador, que se ligou definitivamente ao Instituto Pasteur. Na renomada instituição francesa, Hildebrando criou e dirigiu a Unidade de Parasitologia Experimental. Posteriormente, organizou unidades descentralizadas do instituto em Caiena, na Guiana Francesa, e em Dacar, no Senegal. Ao se aposentar, em 1996, voltou ao Brasil e retomou suas atividades na USP, porém por pouco tempo.

Apaixonado pelo estudo de doenças tropicais, decidiu enfrentar o desafio de implantar e desenvolver um centro de pesquisas na região amazônica. Munido apenas de seu conhecimento e da vontade de colaborar com a ciência no Brasil, ele desembarcou em Porto Velho, capital de Rondônia, em 1997, onde já consolidou duas novas entidades e de onde propõe um programa estratégico para a erradicação da malária no vale do rio Madeira.

Os Acadêmicos Marcelo Barcinski, Roberto Lent, Maria Laura, Luiz Hildebrando,
Mécia Oliveira e Wanderley de Souza