Comemorou-se no dia 8 Março o dia da Mulher. Escrevo esta crônica inspirado na imagem feminina, símbolo máximo da evolução biológica. Não sei por que ainda o machismo de homo-sapiens-sapiens e não femina-sapiens-sapiens! Todos sabem que o feto nasce feminino e somente numa certa fase ulterior há a transição para o sexo masculino. Isso deixa nos machos resquícios e vestígios evolutivos, como os bicos dos seios inúteis! Pensar que a força muscular e o tamanho do corpo, necessários para a função de provedor do caçador, acabou por ser o elemento dominante socioeconômico na relação dos sexos é para mim um dos paradoxos evolutivos. Mas parece que está sendo corrigido gradualmente na era do conhecimento.

Também não tenho dúvidas pessoalmente da superioridade cognitiva da mulher. Tamanho de cérebro não basta, a funcionalidade holística do complexo cerebral pode ser mais eficiente em funções superiores como decisões comportamentais, envolvendo incertezas entre razão e emoção, por exemplo. Estamos na era das incertezas, dos sistemas complexos, das interações entre sistemas de sistemas, muitas vezes incoerentes e conflitantes. O grande Prêmio Nobel Ilya Prigogine mostrou que o tempo é irreversível e que os sistemas complexos levam a fenômenos emergentes espetaculares, como transições de fase do caos para a organização em fenômenos que vão da física quântica à biologia e a própria teoria da evolução!

Não foi coincidência que algumas mulheres venceram essa odiosa barreira do machismo até hoje existente, como a grande matemática grega Hipathia de Alexandria, infelizmente trucidada por um bispo cristão machista. Lembrando da matemática, vem à minha memória a evolução dessa ciência, que desejo usar para culminar com minha homenagem ao sexo feminino: a matemática sofreu nos últimos dois séculos enormes transformações. Sempre considerada como o reino da razão absoluta, isenta de incertezas, pura e sem mácula, começou a sofrer abalos quando Bertrand Russell ao escrever com Alfred Whitehead a sua grande obra Principia Matematica, na qual procurava estruturar toda essa ciência através da teoria dos números e da lógica, deparou-se com terríveis paradoxos que chegaram a paralisar o seu intento por nove anos! Já se desconfiava, desde Pitágoras e Euclides, de algumas dificuldades e mesmo paradoxos com a própria geometria, a teoria dos números e seus axiomas. Mas foi com Georg Cantor (russo-alemão) e G. Peano (italiano) que a situação conceitual realmente explodiu: a matemática dita pura era eivada de impurezas e paradoxos?

Uma das situações repousava no conceito de conjunto infinito: poderia um conjunto de quaisquer objetos ser infinito e, ainda mais, um seu subconjunto ser maior que ele? Criou-se o conceito de números transfinitos ou transcendentais: um dos números desta categoria é o famoso número pi. Este número estava ligado ao problema da quadratura do círculo, e Arquimedes – talvez um dos maiores cientistas da era grega -, foi o primeiro a calculá-lo aproximadamente, com o seguinte raciocínio: a área de um triângulo era conhecida, pois subdividindo um polígono (figura de muitos lados) em triângulos componentes, poder-se-ia calcular sua área. Aproximando a área do círculo por polígonos inscritos (dentro) e circunscritos (fora do círculo), Arquimedes foi calculando as duas áreas que deveriam convergir para a área do círculo! Bastava ir aumentando os lados gradualmente. Com muito trabalho numérico, Arquimedes chegou a um valor de pi aproximado entre 3,1408 e 3,1429, usando polígonos de 96 lados.

Desde então, com os computadores, houve uma verdadeira obsessão para o cálculo de pi, que sendo transcendental nunca vai ser exato. Em 2011, Kondo e Yee calcularam pi com trilhões de algarismos. E agora o meu fecho a esta crônica: nunca vai se chegar à integral compreensão da mulher, pois como pi, ela é transcendental. E assim, com Alfonso, criei a ilustração da mulher pi para homenageá-la no dia da Mulher!