O diretor do Departamento de Difusão e Popularização de Ciência do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) Ildeu de Castro Moreira, Doutor em Física e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), apresentou na 63º Reunião Anual da SBPC os resultados de uma pesquisa realizada em 2010, intitulada “O que o brasileiro pensa da Ciência e Tecnologia”, por uma parceria do MCT, Museu da Vida (Fiocruz) e Labjor (Unicamp).

Ildeu destacou como é importante saber o que as pessoas que financiam a universidade, os cidadãos comuns, pensam da ciência. O professor apontou que pesquisas como essa são tradicionais em países europeus, mas que no Brasil são poucas e ultrapassadas. “Os resultados são importantes para orientar as decisões públicas, como por exemplo, a necessidade de investimentos em educação científica”, explicou.

Interesse em ciência só perde para esporte

Foram consultados homens e mulheres de todas as classes sociais e com idade acima de 16 anos. Os resultados deram uma visão geral das atitudes do brasileiro diante da ciência e tecnologia. Um fato importante é o interesse declarado da população pelo assunto, perdendo apenas para o esporte. O brasileiro mostrou grande interesse por assuntos relacionados ao meio ambiente, tema que na pesquisa anterior – realizada pelo mesmo grupo de parceiros em 2007 – não teve destaque, mas agora é muito explorado pelos meios de comunicação. O assunto aparece empatado com medicina e saúde, área muito próxima de ciência e tecnologia. “O brasileiro tem alto grau de interesse declarado, uma ânsia de conhecer mais”, declarou Ildeu.

Outro dado importante da pesquisa refere-se aos espaços dedicados à ciência. “O Brasil tem poucos museus de ciência. É preciso aumentar o número de observatórios, de jardins zoológicos e jardins botânicos, já que os brasileiros têm uma relação única com a natureza e visitam muito esses lugares”, diz Ildeu. Embora o número de visitas aos espaços que existem ainda seja pequeno, houve um avanço, apontado pela pesquisa: em 2007, a média de pessoas que frequentavam museus científicos era de 4%. Na pesquisa de 2010, foi visto que esse número dobrou: 8% dos brasileiros visitam agum espaço de ciência uma vez ao ano. Ainda assim, se comparado com a média européia (20%), o índice de vistação ainda é baixo e mostra que ainda há muito a ser feito.

Ildeu considera que o aumento de visitantes aconteceu por um esforço conjunto das políticas públicas com um ministério de C&T que apoiou a criação de novos espaços, uma universidade mais atuante e apoio das fundações estaduais de amparo à pesquisa (FAPs). Segundo Ildeu, estas últimas vêm apoiando as secretarias de ciência e tecnologia do estados na criação desses espaços. “Dobramos a visitação em poucos anos, mas precisamos pelo menos dobrar de novo em dez anos”, ressaltou.

Necessidade de investimento em difusão é gritante

Outra questão apontada na pesquisa é relacionada a fatores históricos de desigualdade. Quando consultadas sobre o acesso à informação científica, as pessoas entrevistadas, em sua maioria, citam a televisão, mas declaram não considerar que a informação tenha qualidade. No rádio, o tema não é abordado. Em jornais e revistas são identificadas informações sobre ciência, mas estas mídias são acessadas apenas pela parte da população com maior poder aquisitivo. “Esses dados apontam para a necessidade de políticas públicas para difundir mais a ciência e tecnologia nos meios de comunicação. Mostrar a importância e a beleza da nossa ciência. Despertar a curiosidade, já que a ciência é curiosidade sistematizada”, ressaltou o físico.

Outra indicação importante da pesquisa é que os brasileiros acreditam muito nos cientistas. Eles têm alta credibilidade, assim como os jornalistas e os médicos. “Isso significa que quando o cientista se dirige a população ele tem uma responsabilidade grande”, destacou Ildeu. Mas a pesquisa tabém mostrou que a população não é ingênua e percebe que a ciência não é uma coisa neutra, que tem implicações econômicas e questões éticas. Os entrevistados acham que todos devem participar das decisões sobre as grandes questões de ciência e tecnologia, não só os cientistas. “Isso torna ainda mais importante que haja uma educação e uma divulgação científica de qualidade, para as pessoas poderem opinar com conhecimento de causa”, mostrou o palestrante.

População desconhece instituições e cientistas brasileiros

Outro ponto importante abordado é como o brasileiro avalia a situação da ciência e tecnologia brasileira. Grande parte da população diz que a ciência brasileira está em situação intermediária, em comparação com outros países. Na pesquisa realizada em 1986, a maioria achava que a ciência estava atrasada. A população com maior acesso a informação ainda a considera assim, mas 50% acham que a situação passou deatrasada para intermediária. Ou seja, a opinião da maioria é que ciência brasileira avançou bastante nos últimos anos, mas ainda tem um longo caminho a percorrer.

Segundo os resultados da pesquisa, a grande maioria da população desconhece os cientistas brasileiros e as instituições de pesquisa do país: cerca de 85% da população não são capazes de citar exemplos. Para Ildeu, o dado reforça a necessidade de se investir em divulgação da ciência no Brasil. “Os alunos passam pelo ensino fundamental, médio e pela universidade sem ter acesso à informações sobre a ciência que é produzida no Brasil. Portanto, é importante uma campanha nas escolas e nos meios de comunicação para sua difusão da ciência e a valorização do atores que definem o rumo da ciência”, apontou. Ildeu Moreira finalizou sua palestra com uma frase de João Cabral de Melo Neto: “Um galo sozinho não tece uma manhã. Nós precisamos nos unir pela divulgação da ciência”.