Muita curiosidade e entusiasmo, honestidade, romantismo sem ingenuidade, grande capacidade de trabalho, enorme dedicação, capacidade de lidar com fracassos sem se deixar abater muito, uma certa teimosia e autoconfiança, humildade para admitir erros e dificuldades. Essa pequena e modesta lista de características são as que Eduardo Fraga considera básicas para quem quer fazer Ciência.

A um jovem interessado, Eduardo Fraga diria que a vida de um cientista é muito dura e intensa, com várias possíveis adversidades no caminho, “mas muito compensadora pela beleza que se apresenta, o prazer trazido pela compreensão, mesmo de coisas modestas, e a possibilidade de se divertir muito no trabalho, aprendendo e reaprendendo diariamente.”

O porquê das coisas

Embora criado por pais e padrasto sem nível superior, Eduardo Fraga sempre foi muito estimulado a estudar, ler e aprender, especialmente pela mãe, que trabalhava como secretária executiva. “Minha mãe sempre leu compulsivamente, sempre gostou de aprender línguas.

Era uma criança bem disposta: na infância e adolescência lembra-se de ter praticado natação, atletismo, judô, voleibol, tae-kwon-do, tai chi chuan, futebol de salão, vôlei de praia, corrida, ciclismo, handebol e basquete. Com algumas dessas atividades teve contato na escola pública onde estudou da alfabetização até a 8a série, a Escola Municipal George Pfisterer, no Leblon, que adorava. Gostava de todas as matérias, com um pouco mais de ênfase para matemática e ciências. “Não gostava de decorar coisas, queria entender os mecanismos ou motivos. E professores bons sempre faziam a diferença”, relembra Fraga.

Influências e escolhas

Fraga sempre gostou de ciência. Quando pequeno, gostava dos Manuais do Professor Pardal, da Disney. Adorava o programa Cosmos, do Carl Sagan, que o levou a pensar em ser astrônomo ou físico. Lia muitos livros e revistas de divulgação científica e se recorda da influência do professor de Física Orlandino Andrade, do Colégio Santo Agostinho, que provocava os alunos, fazendo-os pensar. Formou um grupo de discussão semanal com amigos do colégio em que debatiam problemas de ciências e engenharia. Eduardo Fraga sabia que queria trabalhar em pesquisa desde antes de ingressar na universidade.

Entrou para o curso de Física da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e começou a iniciação científica no 3º período, tendo trabalhado em dois projetos em áreas distintas até o final da graduação, emendando no mestrado. Nesse período, Fraga conta que estudou muito, cometeu erros, aprendeu a usar melhor seu tempo e viu que a vida podia ser muito dura em termos de trabalho e dedicação à Ciência. “Mas gostava cada vez mais”, ressalta o pesquisador.

Seu orientador no mestrado da PUC e do doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) foi o Acadêmico Carlos Alberto Aragão de Carvalho Filho. “Ele me ensinou não apenas muita Física, mas também me direcionou ao que considero como boas escolhas e atitudes, e a uma boa postura na vida acadêmica e científica. Seus ensinamentos e seu exemplo foram de enorme valor para a minha formação.”

Linha de pesquisa

Nessa época, Fraga conta que viu amadurecer nele a compreensão do que significava fazer pesquisa original. “De fato, algo muito difícil, lindo, estimulante, às vezes frustrante e desesperador, mas muito, muito divertido”. Ele estuda o que acontece com a matéria quando submetida a condições extremas de temperatura e pressão. “Condições tão radicais são capazes de dissolver não apenas núcleos atômicos, mas os próprios prótons e nêutrons, gerando um plasma de quarks e glúons, que estão entre os constituintes mais fundamentais da matéria”, relata com entusiasmo o Acadêmico. Tais limites, segundo Fraga, são encontrados apenas no interior de estrelas muito densas. “Acredita-se que ocorreram no universo primordial e são gerados em experimentos em física de partículas a altíssimas energias, como as realizadas no LHC [Large Hadron Collider]. Com isso, podemos investigar a estrutura mais íntima da matéria, suas diferentes fases e sua dinâmica, compreendendo melhor a história do Universo e a matéria que o permeia.”

Fraga realizou estágios de pós-doutorado na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), no Brookhaven National Laboratory, em Nova Iorque e no Laboratoire de Physique Théorique, Université de Paris XI – CNRS, Orsay. Desde 2002 é Professor Adjunto do Instituto de Física da UFRJ.

Do geral para o particular…

Seu encantamento com a ciência cresce a cada nova pergunta elaborada e a cada resposta encontrada. “Entender a Natureza acrescenta ainda muito mais beleza a ela. O processo de enxergar e entender suas estruturas requintadas são fontes de inspiração e embevecimento, sempre”. Fraga explica que sua área de pesquisa envolve contato com muitos aspectos e mesmo áreas da Física (teoria quântica de campos, mecânica estatística, física de partículas, física nuclear de altas energias, astrofísica, cosmologia), além da necessidade de uso de um formalismo matemático bastante sofisticado. “Buscamos entender a natureza íntima da matéria, o que nos leva a estudar o mundo subnuclear. Porém, há alguns anos percebeu-se que essa compreensão não é possível sem investigarmos a relação entre esse mundo e o mundo macroscópico em enormes escalas, no estudo do Universo e sua evolução. Essa necessidade de conexão entre o micro e o macrocosmos é uma das características que tornam essa área tão rica e encantadora.”

O título de Membro Afiliado da ABC representou uma grande honra para Eduardo Fraga, motivo de orgulho “quase encabulado”, em suas palavras. “Gostaria de contribuir com o meu entusiasmo e com a minha capacidade de trabalho para levar as ciências cada vez mais para perto da população. O conhecimento liberta, traz ânimo, entusiasmo, coloca tudo em perspectiva, forma cidadãos mais conscientes e independentes.”