Da Academia da Venezuela, Antonio Machado-Allison relatou que durante os últimos dez anos o sistema científico venezuelano tem sido ineficiente em manter sua produtividade em alta. Apesar dos investimentos oficiais declarados – 2,69% do PIB -. estes não se vêem refletidos no incremento do número de pesquisadores, melhoramentos da infraestrutura, qualidade ou aumento de publicações. “O investimento declarado oficialmente é quase que exclusivamente dedicado à compra de tecnologia estrangeira, como satélites”, declarou Allison.

Escassez de recursos humanos

A eliminação por razões políticas de 2/3 do pessoal qualificado de centro produtores de C&T vem ocasionando uma diminuição drástica da produção científica nacional. “O sistema científico venezuelano tem direcionado seus esforços no desenvolvimento de pesquisas focadas na solução de problemas sociais, que seriam de competência de outros sistemas de ação do Estado”, afirmou Allison. Em sua visão, os cientistas sociais, em sua grande maioria, não têm acesso aos recursos e seus trabalhos científicos não são reconhecidos como tais.

O sistema se encontra em um processo de envelhecimento acelerado, segundo Allison, e está prejudicado pela fuga de talentos, pela falta de políticas públicas, pela falta de dinamismo nas instituições de educação superior, pela carência de uma massa crítica atuante e pelo fato de o setor empresarial e financeiro estarem abalados e sem interesse em cooperação com a academia.

Recursos para pesquisa: mínimo histórico

A situação das universidades é ruim. Aproximadamente 70% dos pesquisadores se encontram concentrados em apenas cinco universidades. Allison ressaltou que o aumento das matrículas no ensino superior sem um aumento concomitante do corpo docente tem resultado na sobrecarga dos professores, prejudicando o tempo que dedicariam à pesquisa. Os recursos para pesquisa alcançaram seu mínimo histórico e os salários reduzidos não estimulam o ingresso de novos docentes no sistema: um professor titular recebe menos de mil dólares mensais.

O cientista contou que os programas de formação de recursos humanos existentes – como o Programa del Investigador Novel (PIN) – foram suspensos. “Os programas de estímulo aos pesquisadores estão sendo questionados pelo governo e inclusive eliminados da nova Lei Ciência e Tecnologia em discussão na Assembleia Nacional”, relatou Allison. Informou também que os programas de financiamento clássicos oferecidos pelo Fundo Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (Fonacit) foram extintos e que os programas de bolsas de estudo estão paralisados – “a não ser os que têm alguma finalidade política.”

O empenho da Academia

Allison reforçou as missões da Academia de Ciências, sendo uma delas oferecer assessoria ao Executivo Nacional em matéria de Educação, Ciência e Tecnologia. “Nesse sentido, tem publicado numerosos relatórios e cartas públicas mostrando nossa preocupação sobre o estado e o desenvolvimento da pesquisa na Venezuela”.

A Academia desenvolve um projeto de ensino de ciência nas escolas baseado no programa de IANAS, de educação baseada na investigação, em colaboração com a Fundación Empresas Polar. Hoje são atendidas dez mil crianças em 24 escolas, foi publicado o livro Ciencia para nosotros com 24 experimentos e vários módulos de conteúdo para alunos do 5º e 6º ano.

Foram realizados recentemente treinamentos com 250 professores, que têm interagido com colegas do Brasil, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, México, Peru, Bolívia, República Dominicana e Nicarágua, compartilhado experiências e estabelecendo acordos para ajuda mútua. “A Academia oferecerá este modelo ao Ministério de Educação, como parte de uma proposta formal de educação em ciência nas escolas de ensino básico que pode ser aplicado a nível nacional”, relatou Allison. No nível médio, a entidade promove e apoia as Olimpíadas de Matemática e de Química.

Como centro de referência em matéria de C&T, a Academia venezuelana promove estudos, pesquisas e políticas de desenvolvimento setorial. Os temas em foco atualmente realacionam-se à proteção ambiental, espécies em risco de extinção e uso sustentável dos recursos naturais. A Academia tem promovido acordos estratégicos com empresas privadas, para o apoio a programas e projetos que ajudem o desenvolvimento nacional nas áreas agropecuária, ambiental e social. Além disso, criou um Grupo de Trabalho de Jovens Pesquisadores até 40 anos, que terão seu primeiro encontro em outubro desse ano para discutir o estado da C&T no país e as perspectivas para a ciência venezuelana.

Promove ainda reuniões entre diversos atores públicos do sistema científico nacional, como os núcleos dos Conselhos de Desenvolvimento Científico e Humanístico das universidades e dos Conselhos de Pós-graduação. “Organizamos encontros diretamente com os cientistas através de suas sociedades, com a finalidade de estabelecer sinergia nas propostas de novas políticas que fortaleçam o sistema nacional de CT&I”, conclui Allison, acreditando que todos esses esforços podem levar a uma mudança – para melhor.