Reunidos em Brasília nos dias 21 e 22 de julho de 2010, na sede Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), representantes de 15 países americanos discutiram estratégias de capacitação regional em ciência e tecnologia, numa evento promovido pela Rede Interamericana de Academias de Ciências (IANAS, na sigla em inglês), Academia Brasileira de Ciências (ABC) e o próprio CNPq.

Após a abertura, realizada pelo co-presidente da IANAS e vice-presidente da ABC Hernan Chaimovich, foi apresentado aos convidados estrangeiros o sistema brasileiro de ciência, tecnologia e inovação (CT&I). A vice-presidente do CNPq Wrana Panizzi, o diretor de Programas Horizontais e Instrumentais do CNPq e Acadêmico Glaucius Oliva antecederam o presidente da ABC, Jacob Palis, e o presidente do CNPq e Acadêmico, Carlos Aragão, em suas apresentações.

Em sessão coordenada pelo canadense Graham Bell, da Royal Society of Canadá, os convidados dos países vizinhos comentaram as apresentações do Brasil. O representante da Academia Nacional de Ciências do Peru Roger Cueva observou que, ao refletir sobre o grande salto dado pelo Brasil em CT&I nos últimos anos, avaliou que muito contribuiu para isso o tamanho do país e sua cultura multirracial, refletida na abertura a receber cientistas de todo o mundo.

Além disso, apontou a efetiva contribuição de figuras singulares como Álvaro Alberto, que criou o CNPq e foi o primeiro presidente da ABC. “Temos no Peru cientistas de ponta e já ganhamos o Prêmio Nobel, mas nos faltam figuras legendárias como ele, com iniciativa e visão de longo prazo”.

Outra questão apontada por Cuevas foi a continuidade. “A não interrupção do processo de crescimento científico e tecnológico demonstra uma grande vontade dos brasileiros de criar um futuro melhor.”

Respondendo pela Academia do Chile, Miguel Kiwi perguntou como o Brasil avalia a inovação. Chaimovich respondeu que essa avaliação envolve vários parâmetros, como o controle dos investimentos em compra de máquinas e equipamentos, o aumento do número de doutores contratados em empresas, o salário pago aos profissionais, o aumento do número de registros de patentes e a produção científica. Informou que é possível encontrar essas referências na página do Ministério da Fazenda, assim como na do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE). [Acesse documento do CGEE sobre avaliação de políticas públicas e outro sobre instrumentos de apoio à inovação.

Um dos representantes da República Dominicana presentes, Nelson Ceballos observou que existem outros indicadores para mostrar se as pesquisas realizadas num país são inovadoras, como a modificação do parque tecnológico. “Esse indicador aponta o impacto e o incremento do conhecimento na tecnologia do processo produtivo”. Ressaltou que a qualidade do produto também deve ser avaliada, pois reflete – ou não – a apropriação das tecnologias pelas empresas.

“Percebemos as diferenças entre a institucionalidade da C&T e das prioridades políticas nos diferentes países, mas também percebemos a necessidade de encarar esse problema, se queremos falar de sustentabilidade”, ressaltou Ceballos.

Para ele, os países menores devem ouvir as experiências apresentadas e adaptá-las ao seu tamanho, à sua realidade e, portanto, às suas necessidades. “Após um ano e meio de planejamento, conseguimos em 2009 definir um plano de C&T para os próximos dez anos, envolvendo as universidades e os centros de pesquisa e, para tanto, tivemos consultoria de outros países. Agora a dificuldade está sendo obter os recursos necessários, em função da crise econômica.”

A presidente da Academia da Guatemala Maria Del Carmen Samayoa observou que em outros países o panorama é diferente do brasileiro, pois os políticos não ouvem a comunidade científica. “Como podemos mudar isso?”

Chaimovich respondeu enfatizou que não foi o governo do Brasil, sozinho, que promoveu essa mudança, mas a sociedade como um todo. Acentuou que todos os países da região têm uma história similar e que todos estão conectados, e que o Brasil não está olhando apenas para si mesmo, mas para todo o mundo, especialmente para a América Latina e a África. “Nesse momento estamos em patamares diferentes e, por isso mesmo, precisamos aprender uns com os outros. Mas nesse processo não há influência da sorte e sim investimento de tempo, trabalho e dedicação. Vocês não estão isolados, somos parte da mesma história.”