O pai de Fábio Klamt foi Professor Titular de Química de Solos da UFRGS, e levava o filho para o laboratório quando criança. O menino gostava do estilo de vida do pai, sempre entusiasmado com o trabalho e cercado de jovens. A afinidade com a Biologia surgiu na oitava série. “Na época a mídia estava divulgando muito o melhoramento genético, essa coisa de manipular a natureza parecia poderosa, era atraente”, conta Klamt.

Entrou com 17 anos na faculdade e ficou inebriado com tanta liberdade. No início era péssimo aluno, achava Botânica e Zoologia desinteressantes, matava as aulas de cálculo para tomar cerveja com os amigos. “Joguei fora dois anos de faculdade”. Mas a maturidade chegou quando entrou, como ele diz, no mundo das moléculas, da Biofísica e da Bioquímica. Ele atribui essa mudança ao fato de ter começado uma iniciação científica em Bioquímica com o professor José Cláudio Fonseca Moreira, que trabalhava com espécies reativas de oxigênio, radicais livres e seus efeitos no corpo humano. “Aí me deu um estalo, comecei a comprar livros e decidi me tornar um cientista”, diz Klamt.

O Acadêmico considera que por ter sido tão bem treinado e lapidado na iniciação científica, conseguiu fazer o mestrado em um ano e sete meses e o doutorado em dois anos, ainda que nessa última fase desse 32 horas de aulas por semana. Foi então cursar um pós-doutorado no Food and Drugs Administration (FDA), um dos National Institutes of Health (NIH), nos Estados Unidos. Hoje, com 34 anos, é professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Sua linha de pesquisa envolve a morte celular, processo a respeito do qual fez significativas descobertas durante seu pós-doutorado. “Todos sabem que oxidantes matam as células, mas ainda hoje não se sabe qual o mecanismo molecular que leva a isso”. Klamt explica que a necrose é a morte provocada por um estímulo intenso, que não dá tempo à célula de responder e que a faz explodir. Já na apoptose, a célula ativa um mecanismo de suicídio. para não comprometer o funcionamento das demais células e do organismo. Este é o foco de sua pesquisa, desvendar o mistério que leva a célula a se suicidar por causa de oxidantes, tese que desenvolveu com orientação da Profa Emily Shacter, do FDA. “A proteína chave, responsável pela apoptose quando oxidada, é a cofilina. Se a modificarmos, impedirmos a sua oxidação, a célula fica resistente a morte”.

Klamt coordena atualmente um grupo com 11 mestrandos, dos quais sete foram orientados por ele na iniciação científica. Eles trabalham, entre outras coisas, com as possíveis aplicações desses estudos sobre morte celular. Uma delas é voltada para as doenças neurodegenerativas, que têm envolvimento de oxidantes e apoptose de neurônios. “Juntando as duas pontas, temos como tentar prevenir ou retardar a perda de neurônios, melhorando o quadro clínico do paciente”, explica o cientista. A pesquisa também pode ser aplicada em casos de câncer, pois as células cancerosas acumulam mutações e proliferam, sendo incapazes de se suicidarcomo outras normais. “Se conseguirmos ativar a cofilina nessas células talvez possamos potencializar a morte das células doentes.”

A indicação para a ABC, feita pelo Acadêmico e presidente da Capes Jorge Guimarães, realmente o surpreendeu. Agora, ele pretende se reunir com os outros indicados para proporem atividades e contribuírem com a instituição que lhes deu tamanho reconhecimento. Seja bem vindo.