Concluindo o Simpósio sobre Aprendizagem Infantil, ocorrido no dia 6 de maio na Reunião Magna da ABC 2009, o Acadêmico e sociólogo Simon Schwartzman ficou encarregado de compilar as propostas geradas nas discussões do grupo de trabalho.

Nascido em Belo Horizonte no ano de 1939, o Schwartzman é graduado em Sociologia e Política e Administração Pública pela Universidade Federal de Minas Gerais, com mestrado em Sociologia pela Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales (FLACSO) e doutorado em Ciências Políticas pela Universidade da California, nos Estados Unidos. Atualmente é pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS).

Segundo o Acadêmico, o Brasil apresenta hoje uma situação dramática com relação ao enorme número jovens que entram na escola e não conseguem aprender. “A primeira conclusão que se chega é a seguinte: a intervenção no processo educacional tem que ocorrer muito cedo. Essa é a questão fundamental”, afirmou Schwartzman. Apesar da grande expansão na educação pré-escolar, com a ampliação significativa do número de creches, a qualidade do serviço oferecido não é boa. “Muitas são depósitos de crianças, que são cuidadas por pessoal despreparado”, aponta o sociólogo.

Ele observa que o país ainda não conseguiu resolver o problema da educação fundamental e está descobrindo agora a gravidade do problema na educação pré-escolar, “fase que é decisiva, pelo que vimos nas palestras dos neurocientistas, para a formação dos indivíduos. Estamos entendendo que a intervenção tem que ser o mais precoce possível, mas isso implica em dinheiro e recursos humanos”, ressalta Schwartzman.

Segunda conclusão: há uma diferença enorme do ponto de vista socioeconômico com relação à alfabetização. As crianças que vêm de famílias com mais dificuldades já chegam prejudicadas aos seis ou sete anos de idade. O sociólogo acentua, porém, que essas crianças ainda podem se beneficiar da escola, se receberem uma educação sistemática que as ajude a superar o obstáculo fundamental da educação nesse nível que é a capacidade de ler automaticamente, “se conseguirem vencer a dificuldade de decodificar as palavras.”

A questão seguinte que se coloca é: como fazer a escola funcionar? “Muitos professores afirmam que pouco importa o método utilizado se a criança falta, não permanece na escola em função do caos social, da violência”. Em seguida vem o outro lado da questão: e se a escola funcionar, se a criança frequentar regularmente, estará o professor treinado para fazer o que ele tem que fazer? Ele sabe como é que é? Ele usa um procedimento adequado, tem conhecimentos sobre a evidência acumulada, já muito sólida internacionalmente? Tem materiais pedagógicos que o ajudem, inclusive, a superar suas limitações de formação?

“Temos então um segundo problema: ao mesmo tempo em que temos que estruturar a escola, temos que investir pesado na capacitação dos profissionais que vão lidar com essas crianças”. Schwartzman salientou que esta não é uma situação nova, há uma tradição no país com relação a este tipo de problema. Mas também há muitos resultados alcançados nesse percurso. “Então, as questões de política educacional nesta discussão se colocam nesses dois pontos: como enfrentar o problema da necessidade crescente dessa intervenção precoce e posteriormente, feita a intervenção, se implantar uma metodologia eficaz.”

Com relação à primeira questão, cuja solução seriam as creches há, na opinião do grupo, um conflito entre os interesses das crianças e os interesses das mães. “As mães estão interessadas em botar a criança na creche, mas a criança não está interessada em ficar na creche, ela quer ficar com a mãe. E do ponto de vista emocional e afetivo é mais interessante que ela fique com a mãe do que na creche. Mas, a mãe, ás vezes, tem que trabalhar ou tem lá as razões dela”, diz Schwartzman. E como é que se lida com isso? Segundo o sociólogo, apoiando a mãe, criando um sistema através do qual se dê apoio à família. Schwartzman relatou uma experiência ocorrida no Rio de Grande do Sul, em que esse tipo de assistência é prestado através do atendimento médico, que já faz um trabalho de ir às casas e lidar com as famílias. “Por que não capacitar esses profissionais, que já têm determinadas competências básicas, acrescentando um componente pedagógico e educacional? É uma estrutura que já existe e que se pode utilizar”, argumenta o Acadêmico.

Schwartzman avalia que os problemas no Brasil mudaram. Antigamente não havia escolas suficientes, depois as crianças não estavam matriculadas em sua maioria. “Hoje esse problema já está, em grosso modo, superado. O que ocorre agora é que a criança vai à escola, mas não aprende”, esclarece. “Ao olharmos não só os resultados do analfabetismo funcional – que é muito grande – mas, também, o que uma criança na quarta ou oitava série aprende no Brasil é muito pouco, é muito ruim e não tem progredido”. Realmente, os dados do exame do Saeb, que acompanha os alunos periodicamente, mostra que o desempenho não melhora. “O sistema não está andando para frente”, reforça o sociólogo.

Esses, enfim são os desafios a serem enfrentados. “Achamos muito importante a iniciativa da Academia de Ciências de usar recursos de diferentes setores e que são independentes. As pesquisas econométricas e da área da pedagogia estão convergindo para um mesmo tipo de resultado, e o papel da Academia é, justamente, tratar de identificar essa convergência e contribuir para elevar o nível da discussão dessas questões, podendo fortalecer e melhorar a qualidade da política educacional do país”, concluiu Simon Schwartzman.