A chamada “fuga de cérebros” (saída de pessoal qualificado devido à falta de oportunidades) e a necessidade das energias renováveis frente à mudança climática foram foco das discussões do encontro das Academias de Ciências do G8+5 – grupo que reúne os países mais ricos e mais cinco nações com economias emergentes (África do Sul, Brasil, China, Índia e México) – que ocorreu entre 26 e 28 de março em Roma, na Itália.

O presidente da Academia Brasileira de Ciências, Jacob Palis, participante do encontro, concedeu uma entrevista à agência Efe na qual explicou a posição do Brasil na reunião, que terminou com um documento conjunto, publicado em 21 de abril. Este documento será levado à cúpula de chefes de Estado e governo do G8, prevista para o próximo mês de julho, na ilha italiana de Madalena Doce.

Falando sobre a fuga de cérebros, Palis afirmou que é preciso ficarmos atentos, mas que há algum tempo este não é um problema que afete gravemente o Brasil, pois o país desenvolveu uma série de estratégias para lidar com essa questão. “São mecanismos de atração e retenção de talentos, como o estímulo á pesquisa através de financiamentos governamentais, tanto para grupos quanto para indivíduos, com atenção especial aos pós-doutorados recentes”. Para o matemático, a criação de graduações e pós-graduações de bom nível com bolsas para os melhores estudantes é outra ação eficaz, especialmente nas regiões menos privilegiadas do país. “O talento não escolhe onde nascer”, diz Palis.

Por outro lado, Jacob Palis ressaltou que a comunidade científica brasileira está muito envolvida nas atividades da Academia de Ciências do Mundo em Desenvolvimento (TWAS), da qual também é presidente. Ele destacou um programa especial de cooperação internacional com países africanos, o ProAfrica, diversos programas de cooperação com a Índia e com países sulamericanos, o Prosul, no âmbito do MCT, além de bolsas de doutorado e pós-doutorado do CNPq, em acordo com a TWAS, para jovens qualificados dos países em desenvolvimento, a serem usufruídas em instituições nacionais. Apontou ainda programas do Ministério da Educação (MEC), sobretudo da Capes, da Embrapa, da Fiocruz, dentre outros, com países em desenvolvimento, em especial os africanos. Palis lembrou, por fim, a tradicional e cada vez mais intensa colaboração com países avançados.

Energias renováveis: o etanol no Brasil

O sucesso da experiência brasileira com biocombustíveis e a contribuição nacional para a produção científica no setor foram destacados. Palis apresentou palestra no evento com dados sobre o grande sucesso que representa a produção e utilização de etanol de cana-de-açúcar no Brasil, mais eficiente do ponto de vista energético, menos poluente e bem conduzido, de modo a não apresentar ameaça à segurança alimentar. O conteúdo apresentado na palestra foi elaborado em discussões do Grupo de Estudos da ABC sobre Biocombustíveis e preparado por Carlos Henrique Brito Cruz com a colaboração de João Jornada, seus coodenadores.

Pioneiro no uso de biocombustíveis em larga escala, o país é o segundo maior produtor de etanol do mundo e 16% de toda a energia usada no país vem da cana-de-açúcar, planta que tem características muito positivas do ponto de vista de conversão da energia do sol em energia líquida. Hoje, 95% dos carros vendidos no Brasil são do tipo flex-fuel.

Além de ser realidade no Brasil, Palis ressaltou que a bioenergia tem grande potencial de expansão no mundo, pois ainda oferece vantagens como a fixação de carbono no solo. Com estratégias de pesquisa e desenvolvimento, segundo o presidente da ABC, será possível produzir mais com menos área, água e energia.

Mudanças climáticas e novas tecnologias para a geração de energia

O documento final sobre o tema gerado no evento, em que a posição da ABC sobre Biocombustíveis foi plenamente acatada, destaca a importância de um acordo entre líderes mundiais quanto à redução das emissões de carbono. Acordos são necessários também para garantir os serviços básicos de energia para toda a população mundial. Entre as ações mais urgentes é ressaltada a limitação do aquecimento global em 20C, já que desde o ano 2000 as emissões de gases de efeito estufa têm ocorrido em quantidades bem maiores do que o previsto.

De acordo com o documento, o G8+5 deve liderar um movimento de transição para uma economia mundial sustentável, com eficiência energética e baixa emissão de carbono, além de estimular a pesquisa e a inovação em tecnologias de adaptação e mitigação relativas à questão energética.

Entre as recomendações destacadas está a proposta de implementação de incentivos para a inovação, através do uso de instrumentos econômicos e regulatórios visando a adoção de tecnologias verdes limpas. Também é ressaltada a necessidade de adoção de uma meta global de longo prazo para a redução de gases de efeito estufa, a partir das próximas negociações que devem ocorrer em Copenhague, na reunião da United Nations Framework Convention on Climate Change (UNFCC), em dezembro deste ano.