O IV Seminário Nacional do Programa ABC na Educação Científica – Mão na Massa foi realizado em São Paulo nos dias 28 e 29 de novembro de 2008. O Programa propõe o ensino de ciências baseado na investigação desde as séries escolares iniciais, numa prática em que as crianças planejam e realizam atividades em sala de aula, priorizando a discussão inicial, o planejamento, a experimentação e a observação, articulando a discussão de questões para a construção do conhecimento em ciências e o desenvolvimento da expressão oral e escrita.

Esta metodologia está sendo aplicada em projetos-piloto em seis estados brasileiros, com coordenação da Academia Brasileira de Ciências. O atual Programa é apoiado pelas Academias de Ciências do mundo todo e aproveita pesquisas pedagógicas realizadas em anos recentes, nos Estados Unidos, na França e em outros países, embora o princípio do ensino a partir da investigação seja recomendado desde o Manifesto dos Pioneiros da Educação, liderados por Anísio Teixeira, em 1932. A partir dos resultados deste evento, a Comissão Coordenadora deve iniciar uma discussão dos novos caminhos do Programa, tomando como um dos pontos de partida o Projeto Petrobras, que ajudou na realização deste Seminário.

Segundo o vice-presidente da ABC Hernan Chaimovich, o Programa ABC na Educação Científica – Mão na Massaé relativamente antigo na Academia, visto que já está realizando seu quarto seminário. “Isto mostra o compromisso da Academia com o ensino básico de Ciências no país”. O Programa começou com uma colaboração com a França e atualmente se estende em várias direções. “Esse seminário em São Paulo foi importante por trazer a idéia da avaliação internacional dos programas de ensino de ciências”. O evento contou com quase 150 participantes, a grande maioria professores de ensino fundamental de São Paulo, Rio, Minas e do Norte. Também vieram professores de ciência e especialistas em avaliação do Chile, da Argentina, da Colômbia e do México, onde atividades semelhantes têm tradição maior que no Brasil.

“Ficou patente, a partir dos depoimentos destes convidados estrangeiros, a nossa diversidade, o que foi muito enriquecedor para os professores presentes”, disse Chaimovich. O que está sendo feito no Rio é diferente do que está sendo feito em Minas, assim como diferente do viés de meio ambiente e saúde que está sendo desenvolvido em São Paulo. E a colaboração entre Brasil e América Latina está crescendo. “No Chile o Ministério da Educação incorporou o programa, tornando-o nacional. Aqui, o presidente da Capes Jorge Guimarães se comprometeu, no evento da ABC, em fazer o mesmo.”

Segundo o vice-presidente da Academia, esta faz a ligação entre o programa da ABC e os programas internacionais. “A ABC tem sido muito bem sucedida na coordenação destes programas, sobretudo por dar um selo de qualidade acadêmica aos programas de ensino de ciência que estão sendo realizados sob sua coordenação”. A Academia pretende ser um referencial de qualidade para políticas públicas de ensino de ciência baseado em evidência.

Em São Paulo já houve uma primeira avaliação, que forneceu dados sobre o que pensam sobre o Programa cem mil crianças envolvidas. O Acadêmico apresentou alguns resultados obtidos pelos protocolos de observação, questionários e registros dos alunos. A grande maioria foi capaz de confrontar suas hipóteses com os resultados obtidos e fornecer uma explicação para fenômenos simples. A maior parte expressa suas idéias, observações e conclusões por escrito, participa na discussão e na elaboração do registro coletivo, relaciona fenômenos observados na atividade com outros de seu cotidiano. Os registros sugerem a apropriação de um novo conceito, mais próximo da ciência, do que seu pensamento inicial.

No caso dos professores, a maioria indicou que, com a utilização da metodologia do Projeto, o ensino de ciências tornou-se mais atraente para os alunos. Indicaram também que as atividades investigativas favorecem a aprendizagem dos conteúdos e desenvolvem habilidades como observação, argumentação e organização, além de apontar ser mais prazeroso ensinar ciências – embora as aulas tornem-se mais trabalhosas, com necessidade de maior preparação, aprofundamento nos conteúdos abordados, observação e colaboração com cada grupo para que possam avançar em suas discussões. Os professores do Programa assumem o papel de conduzir o trabalho na sala, fazendo intervenções para que os alunos agreguem novos conhecimentos. Também auxiliam os alunos a realizarem a síntese da discussão coletiva, de modo a avançar na direção do conhecimento científico.

Chaimovich destacou alguns pontos do documento A ABC e o Ensino de Ciências na Educação Básica, que propõe algumas ações a serem implementadas pelo Governo federal para superar a crise. Entre muitas outras, destacam-se:

  • Assumir a política educacional como uma política de Estado, para que tenham continuidade de ao menos duas décadas para apresentarem resultados significativos.
  • Aumentar os investimentos em educação de 4% para 6% do PIB, que é o padrão dos países bem sucedidos em seus sistemas educacionais.
  • Políticas de Estado devem ser elaboradas e implementadas de forma interministerial, envolvendo o Ministério da Educação (MEC), o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), da Saúde, da Integração Regional e das Cidades, a exemplo do Programa de Educação Ambiental e Mobilização Social que envolve cinco ministérios.
  • Valorização da carreira de professor, com a melhoria da remuneração baseada na qualificação e desempenho dos professores, com incentivos específicos para professores que trabalham em áreas de risco e em áreas remotas.
  • Aumento da duração do turno escolar para pelo menos seis horas diárias, sendo de oito horas em comunidades carentes.
  • Melhoria da infra-estrutura das escolas, com redução do número de alunos em sala, manutenção básica adequada e inserção de laboratórios e computadores.
  • Fortalecimento dos diretores de escolas, escolhidos por critérios de qualidade e com mais autonomia educacional e administrativa.
  • Avaliações educacionais nacionais e regionais sistemáticas, vinculadas aos programas de ensino.