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Sociedade civil e sherpas juntos à mesa: reunião inédita marca história do G20

Pela primeira vez na história do fórum das maiores economias do mundo, representantes dos 13 grupos de engajamento do G20 Social sentaram-se à mesa de reunião junto aos delegados e delegadas e puderam entregar suas recomendações. O G20 Social é uma iniciativa da presidência brasileira, e desde o início do ano já realizou diversas agendas inovadoras.

O momento histórico alinha-se ao objetivo da presidência brasileira de aproximar o G20 da vida das pessoas, por meio da participação social. Foto: Audiovisual/G20

Pioneirismo na invenção do rádio, pelo padre brasileiro Roberto Landell de Moura; único país do mundo pentacampeão da Copa do Mundo de Futebol, com títulos conquistados em 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002; e também única nação  com mais de 100 milhões de habitantes que assegura acesso universal e gratuito a serviços de saúde, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). 

Hoje (04), no Rio de Janeiro, o Brasil marca em sua história, e na história das maiores economias do mundo, mais um feito inédito: pela primeira vez desde a criação do G20, representantes da sociedade civil sentaram-se à mesa de reunião junto aos sherpas de todos países e organismos internacionais participantes do fórum a fim de apresentar suas demandas e sugestões.

Uma maior participação social nos processos de debates e negociações do G20, que há anos deixou de ser um fórum dedicado apenas a temas econômicos e se tornou também um espaço de busca por soluções a dilemas mundiais nos mais diferentes campos, é uma reivindicação popular antiga ao fórum e que neste ano o Brasil, com o presidente Lula à frente do grupo, acatou, com a criação do G20 Social. 

A agremiação, desde o início do ano, já participou de outras atividades inéditas e inovadoras, com eventos junto à Trilha de Finanças e uma reunião oficial na Presidência da República, com o ministro Macedo. Porém, a reunião desta quinta-feira tem um caráter especial, por serem os sherpas os negociadores da trilha política. 

Gustavo Westmann, chefe da Assessoria Especial de Assuntos Internacionais da Secretaria Geral da Presidência da República e coordenador do G20 Social tratou da importância da iniciativa, que acredita ser fundamental para uma tomada de decisões mais assertiva por parte das e dos delegados. “É um pouco a ideia que o presidente Lula sempre defende, de que não se faz política pública eficaz sem participação social. Então, por que não levar tudo isso para uma esfera internacional, com o Brasil na liderança desses movimentos”, colocou Westmann.

“A ideia do governo brasileiro ao criar o conceito do G20 Social foi exatamente de ampliar a base de participação, trazer novos atores pro debate, mas também assegurar que essas vozes estejam sendo escutadas, porque a gente acredita que só assim a gente vai conseguir entender o que está acontecendo no mundo de verdade. Sair do insulamento burocrático e conseguir chegar na ponta, discutir com quem vai ser beneficiário ou quem vai ser afetado por todas as decisões”, complementou o diplomata.

Com a Pedra da Gávea e o Morro Dois Irmãos acompanhando a reunião e as ondas da praia de São Conrado quebrando à vista dos delegados é que as e os representantes dos grupos de engajamento do G20 Social apresentaram seus documentos. Respeitando a própria diversidade dos grupos, 13 ao total, as declarações permearam distintos tópicos, mas com um ponto de encontro geral: o reclamo de um olhar social crítico aos conteúdos do G20, com atenção às pluralidades humanas, ambientais e sociais.

“Quem mais sofre com o déficit de governança no mundo é a população. De forma geral, quando se está em guerra falta ênfase em desenvolvimento, na luta pela redução da desigualdade, da pobreza, da fome. Portanto, essas contribuições da sociedade civil são cruciais para que os governos tenham uma maior capacidade justamente de chegar a acordos que melhorem a vida das pessoas”, afirmou o embaixador Mauricio Lyrio, sherpa do G20 Brasil.

“Esse é um momento especial porque também nos obriga e nos conduz a sermos mais sintéticos, ou seja, identificar quais são os principais problemas e quais são as principais mensagens que nós queremos levar a esses líderes. Temos um papel fundamental que é de provocar esses governos a fazerem mais”, apontou Alessandra Nilo, coordenadora do Civil 20. 

Após as intervenções dos representantes dos 13 grupos de engajamento, delegados e delegadas comentaram as propostas, aprofundando os debates nos temas propostos. Até novembro, quando ocorre tanto a Cúpula Social quanto a Cúpula de Líderes, outros espaços entre G20 Social e trilhas de Sherpas e de Finanças irão acontecer, afinando a conexão entre autoridades e sociedade civil.

[A presidente da ABC, Helena Nader, foi representada pela Acadêmica Patricia Bozza, líder da força tarefa Desafios da Saúde do S20. Ela apresentou um resumo das recomendações de cada força-tarefa. “Sob o tema “Ciência para a Transformação Global”, as Academias de Ciências do S20 concentraram-se em cinco áreas críticas interconectadas, alinhadas com a Agenda 2030 da ONU: Inteligência Artificial, Bioeconomia, Transição Energética, Desafios de Saúde e Justiça Social”, relatou. Leia aqui seu discurso na íntegra.]


Veja a repercussão:

MRE, gov.br | 5/7
3ª Reunião de Sherpas do G20 – Rio de Janeiro, 3 a 5 de julho de 2024
Iniciativa de realizar, de forma pioneira, reunião entre os sherpas do G20 e representantes dos grupos de engajamento se coaduna com o objetivo da presidência brasileira de promover maior aproximação entre a sociedade civil e o grupo.


Saiba mais sobre o S20 no site próprio, em PT e EN. 

Taxação de ‘super-ricos’ só será eficaz se tiver adesão global, diz embaixador Maurício Lyrio

taxação de grandes fortunas, proposta capitaneada pelo Brasil na presidência rotativa do G20 neste ano, depende de adesão em escala global para que seja bem-sucedida, avalia o embaixador Maurício Lyrio, secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Ministério das Relações Exteriores e Sherpa do G20 no Brasil, emissário pessoal do governo que lidera as negociações.

Embaixador Maurício Lyrio, sherpa do G20 no Brasil | Foto: Julio César Guimarães

Lyrio, que participou nesta segunda-feira (1º) das discussões do Science 20 (S20), no Rio, também falou ao Valor sobre as propostas relacionadas a temas de transição energética, mudança climática, troca de dívidas e combate à fome — este um tema prioritário do Brasil no grupo com as maiores economias do mundo.

De acordo com o embaixador, o governo propõe dar continuidade ao debate iniciado em 2021, quando o G20, em um acordo vinculante com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), construiu a chamada “Solução de Dois Pilares”, que busca direcionar melhor a taxação das empresas multinacionais nos seus vários mercados.

O Pilar 1 prevê que parte do lucros das multinacionais fique na jurisdição de mercado onde a empresa realiza os lucros, enquanto o Pilar 2 estabelece uma tributação de 15% para as suas operações globais. Agora, a busca do governo brasileiro é por um novo pilar.

O Ministério da Fazenda, por meio do ministro Fernando Haddad, à frente da Trilha Financeira do G20, contratou o economista francês e professor da Universidade da Califórnia, Gabriel Zucman, para elaborar um estudo que avança no acordo vinculante já em prática e propõe a taxação de 2% sobre grandes fortunas.

Segundo o relatório, há cerca de 2 mil a 3 mil “super-ricos” no mundo, e um acordo global entre todos os países faria com que a tributação desses bilionários gerasse de US$ 200 bilhões até US$ 250 bilhões por ano.

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Com as contribuições da economista francesa Esther Duflo, laureada com o Nobel da Economia em 2019, vem sendo discutida acriação de um fundo de adaptação de mudanças climáticas, cujos recursos seriam transferidos de forma direta às pessoas em países afetados por eventos climáticos extremos.

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Aliança Global contra a Fome

Como principal atuação do Brasil no G20, o embaixador destacou a “Aliança Global contra a Fome”, que tem base em três pilares: o Pilar Autônomo, pelo qual os países que quiserem aderir devem escolher um programa social dentro de uma cesta de opções para implementar em âmbito doméstico.

A aliança também terá um Pilar Financeiro, que estabelecerá mecanismos para que os países que integrem a iniciativa tenham acesso a recursos de organismos internacionais, doações privadas e de outras nações. Neste pilar, o Brasil defende a troca de dívidas, isto que, que os países endividados possam renegociar com seu credor se assumirem o compromisso de realocar o dinheiro em programas sociais.

Por fim, há o Pilar de Conhecimento e Cooperação. A ideia é que países que têm boas experiências em políticas públicas de combate à fome deem assistência técnica a outras nações.

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“Desde o ano passado, o presidente orientou que queria reforçar a interlocução do ‘G20 governo’ com o ‘G20 sociedade civil’. Antes era uma relação informal, nós institucionalizamos isso. Não é pro-forma, não é receber na véspera quando a Declaração já está negociada, queremos uma contribuição real”, destacou o embaixador. “A capacidade dos mais diversos grupos de chamar atenção para temas que os líderes deveriam olhar é algo que consideramos muito importante”.

Leia a matéria na íntegra no site do Valor

Cúpula da ciência do G20 recomenda mais IA “verde” e atenção a doenças na crise climática

O S20, coletivo de pesquisadores de academias de ciências do G20 (grupo das 20 maiores economias do mundo), apresenta nesta terça-feira (2) uma série de recomendações aos líderes políticos dos países integrantes da cúpula econômica. A mudança climática permeia os diversos eixos de análise dos cientistas, que alertam para o pouco uso de inteligência artificial para impulsionar a biodiversidade, e ainda, o perigo que o aquecimento global representa para a saúde da população mundial.

A partir de hoje, o grupo estará reunido no Rio de Janeiro para acertos finais da carta, um evento presidido pela Academia Brasileira de Ciências. Um Só Planeta teve acesso ao rascunho do documento, que traz as definições até então acordadas entre a comunidade científica do G20, podendo haver alterações na declaração final a ser divulgada.

Inteligência artificial “verde”

“O uso ético da IA ​​deve priorizar o bem-estar humano e a sustentabilidade ambiental”, afirma o documento. Na recomendação dos cientistas, as lideranças das maiores economias do mundo devem estar mais atentas ao papel da tecnologia ​​especialmente em áreas críticas como saúde, educação e mudanças climáticas.

Entre os riscos de uma exploração inadequada da IA, os pesquisadores alertam para o agravamento das desigualdades sociais, bem como o consumo significativo de energia e água necessário para apoiar centros de dados, onde ficam os computadores que processam as informações usadas por plataformas como o ChatGPT.

“Apesar de várias iniciativas, o progresso na utilização da IA ​​para o desenvolvimento sustentável tem sido limitado, indicando a necessidade de reavaliação e maiores esforços”, afirma a carta.

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São esperados na Cúpula do S20 representantes da África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Japão, Índia, Indonésia, Itália, México, Reino Unido, Turquia e a Academia Europeia, representando a União Europeia. Organizações científicas internacionais como a Parceria InterAcademias (IAP), Conselho Internacional de Ciência (ISC), Rede Interamericana de Academias de Ciências (IANAS), Associação de Academias e Sociedades de Ciências da Ásia (AASSA) e o Conselho Assessor das Academias Europeias (EASAC) também participam das discussões.
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