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Cientistas brasileiras participam de conferência internacional sobre mulheres na ciência, no Egito

As participantes da 3ª Conferência de Mulheres na Ciência sem Fronteiras.

A Global Young Academy (GYA), em parceria com a Fundação Árabe de Ciência e Tecnologia (ASTF, na sigla em inglês), promoveu entre os dias 12 e 14 de março de 2019, no Egito, a 3ª Conferência de Mulheres na Ciência sem Fronteiras. Com o tema “Diplomacia Científica para o Desenvolvimento Sustentável”, o encontro teve como objetivo a colaboração entre cientistas, homens e mulheres, na base da pesquisa científica de excelência. O evento realizou ainda um programa de treinamento em “Diplomacia e Conselho Científico”, nos dias 10 e 11 de março, para jovens cientistas de países em desenvolvimento.

Representando o Brasil, participaram da conferência a física e diretora da Academia Brasileira de Ciências (ABC) Márcia Barbosa, a engenheira mecânica Carolina Cotta (membro afiliado da ABC de 2015 a 2019), a farmacêutica e bioquímica Fabiola Ribeiro (membro afiliado da ABC de 2014 a 2018), a química Andréa de Camargo (membro afiliado da ABC de 2008 a 2013) e a farmacêutica e bioquímica Leiliane Coelho André. Participou do evento também o engenheiro mecânico e Acadêmico Renato Cotta.

As cientistas e o cientista: Carolina Cotta, Renato Cotta, Leiliane Coelho André, Fabiola Ribeiro, Márcia Barbosa e Andréa de Camargo.

A Acadêmica Márcia Barbosa aponta que “apesar de ser um evento sobre mulheres na ciência, houve a participação de alguns homens, o que fortalece a noção de que a ciência precisa de mulheres, mas não somente de mulheres”. Com um público formado por pesquisadoras e pesquisadores de múltiplas áreas, como medicina, tecnologia, matemática e estudos sociais, o evento teve dois focos principais: a necessidade de diversidade para uma ciência mais eficiente e a apresentação das participantes sobre a ciência que fazem.

As palestras sobre gênero mostraram que, apesar do crescimento da participação feminina no meio acadêmico, as mulheres ainda são raridade nas posições de comando e liderança. As apresentações sobre ciência trataram sobre sustentabilidade, passando pelas áreas da saúde, meio ambiente e materiais.

A quarta edição da Conferência de Mulheres na Ciência sem Fronteiras será realizada em março de 2020, no Brasil. A diretora da ABC Márcia Barbosa e as demais participantes brasileiras da última edição estarão na organização do evento.

Acadêmica Márcia Barbosa participa de seminário online sobre mulheres na ciência

Por que as mulheres precisam fazer ciência? Por que a ciência precisa de mulheres? Por que a sociedade precisa de mais mulheres na ciência? Por que tão poucas mulheres se interessam por ciências exatas? Por que tão poucas mulheres estão em postos de destaque na ciência? São as perguntas que instigam o webinário (seminário baseado em rede) “Mulheres na Ciência: Uma Verdade Inconveniente”.

Promovido pela Rede de Pesquisadores (RdP), a conferência com a Acadêmica Márcia Barbosa será transmitida no dia 19 de março, às 19h. Para fazer sua inscrição, clique aqui.

A RdP é uma plataforma integrativa e interativa para comunicação e divulgação científica. A proposta da rede é compartilhar conhecimento utilizando uma linguagem acessível, a fim de contribuir para o esclarecimento de temas científicos e sua aplicação pela sociedade.

Por meio dos webinários, a plataforma permite que convidados compartilhem seus conhecimentos através de apresentações e interajam com os participantes em tempo real. Essa conversa, ou webconferências, possibilitam que pessoas tenham acesso aos convidados e os temas apresentados independentemente de barreiras geográficas.

E no mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher (8 de março), a plataforma elaborou uma programação especial de webinários com o tema “Mulheres na Ciência”. Confira:

Dia das Meninas no MAST – Passado, Presente e Futuro

Ao longo dos anos, as mulheres foram protagonistas na construção do pensamento científico e importantes para o desenvolvimento e o avanço da ciência e da sociedade. Porém, hoje em dia ainda é preciso quebrar paradigmas para ampliar a pouca participação das mulheres nas áreas de exatas. Com esse pensamento, a Coordenação de Educação em Ciências do Museu de Astronomia e Ciências Afins criou o Dia das Meninas, idealizado para incentivar as jovens a se interessar pelas ciências.

O evento, que está em sua quinta edição, acontece no dia 13 de março e conta com uma programação repleta de atrações que contemplam debates com pesquisadoras e atividades práticas de divulgação da ciência. Com o tema “Passado, Presente e Futuro: Pesquisadoras em Ação”, a iniciativa objetiva sensibilizar participantes sobre a presença feminina nas ciências e suas conquistas. Uma das abordagens propostas foi convidar pesquisadoras de diversas áreas para rodas de conversa, onde elas compartilharão um pouco da sua história e conversarão com o público. Para maior imersão na temática também faz parte da programação oficinas de divulgação da ciência de temáticas diversas. Destaca-se ainda, a presença de estudantes do Colégio Estadual Olavo Bilac como participantes e convidados especiais, representando as sementes de possíveis futuros frutos.

A iniciativa é balizada pela agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, proposta pela Organização das Nações Unidas (ONU) e conta com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O evento também tem o apoio do Observatório Nacional e da L’Oréal Brasil.

A programação é aberta aos visitantes do MAST. Para participar deste dia tão especial, basta ligar para (21) 3514-5233 e realizar a sua inscrição. São 80 vagas disponíveis para o público.

 

V Dia das Meninas no MAST

Passado, Presente e Futuro: Pesquisadoras em Ação

 

Atividades para a edição 2019

  1. Abertura e Mesa-redonda ‘Passado, Presente e Futuro: Pesquisadoras em Ação’

Local: Auditório do prédio anexo do MAST

Na pauta de debates estarão a trajetória profissional das convidadas bem como seus campos de atuação.

Mesa-redonda da Manhã:

Katia Jasbinschek dos Reis Pinheiro (Observatório Nacional)

Conceição Firmina Seixas Silva (UERJ)

Flávia Pedroza Lima (Planetário da Gávea)

Mesa-redonda da Tarde:

Simone Daflon dos Santos (Observatório Nacional)

Bianca Ferrazzo Naspolini (Instituto Nacional de Tecnologia)

Fabiana Munhóz (Pesquisadora L’Oréal Brasil)

Bate-papo da noite:

Taysa Bassallo da Silva (MAST)

Cláudia Sá Matos (MAST)

Patrícia Spinelli (MAST)

Atividade – Observação do Sol

Local: Pátio externo do MAST

O Sol é a estrela mais próxima da Terra e um dos astros mais presentes em nossas vidas. Possui um papel importante em todas as culturas. Há registros chineses de observações solares que remontam desde a antiguidade. A partir do século XVI, com a invenção da luneta, Galileu projetou e ampliou a imagem do Sol, o que permitiu um registro periódico e seguro das manchas escuras que apareciam na frente do disco solar. Durante o V Dia das Meninas, as mediadoras do MAST promoverão as atividades de observação do Sol.

O público poderá ver o Sol através do aparato científico e visualizar as manchas solares, observadas pela primeira vez com uma luneta por Galileu Galilei, no século XVI. Estas manchas são regiões do Sol mais frias do que aquelas de seu entorno.

 

Oficina ‘As Cores do Sol’

Local: Pavilhão da Luneta Equatorial 46 cm

O que são as estrelas e do que as estrelas são compostas? Nesta atividade iremos descobrir como a luz das estrelas pode nos revelar sua composição e natureza. Também iremos falar sobre a tese de doutorado mais importante da história da astronomia, escrita pela cientista Cecilia Payne, que estou a composição das estrelas.

Oficina ‘Mistério das Caixinhas’

Local: Auditório Prédio Anexo

A proposta desta atividade é abordar as descobertas de diferentes cientistas ao longo da história, tendo como objetivo debater os estereótipos dos personagens da ciência. Para explorar essas personas serão fornecidas informações específicas sobre elas para que seja traçado um perfil. A partir das respostas, provocaremos uma discussão sobre o viés inconsciente.

Oficina ‘Entre Histórias e Barbantes’

Local: Sala de Atividades

A atividade terá inicio com a contextualização das diferenças de gênero na ciência, por meio da narração de histórias sobre três mulheres/meninas cientistas, de áreas e perfis diferentes, mostrando as suas trajetórias pessoais e profissionais. Na sequência, parte-se para a confecção de bonecas com materiais de baixo custo e de fácil acesso. O público poderá soltar a sua imaginação e, ao final da ação, levar a sua boneca cientista para casa. Com os textos sobre essas três cientistas, pretendemos produzir um livreto com as ilustrações dessas mulheres/meninas e com as instruções do passo a passo para a montagem das bonecas. O livreto também seria distribuído aos participantes da oficina, como forma de recordação e divulgação da história dessas mulheres.

Mulheres na pesquisa: muitas pedras no caminho

Integrando o grupo que hoje ocupa a maior parte das vagas no ensino superior brasileiro – as mulheres -, a Acadêmica e bióloga Fernanda Werneck, de 37 anos, não conseguiu escapar do preconceito e dos questionamentos sobre sua competência por ser uma jovem mulher cientista, durante o mestrado em ecologia na Universidade de Brasília (UnB). Foi você mesma quem escreveu isto? Não é muito jovem para ser cientista? Vai ser mãe agora? Infelizmente, é este tipo de indagação e desconfiança que tem acompanhado a carreira das mulheres até os dias de hoje, dentro e fora da Academia.

No caso específico da participação feminina na pesquisa científica, dois grandes problemas as têm impedido de alcançar as mesmas posições e cargos que homens com formação igual: o preconceito fundado no sexismo e a queda de produtividade durante a gravidez e maternidade.

Uma pesquisa realizada entre 2013 e 2014 investigou a distribuição por gênero de bolsistas de produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e seus resultados evidenciaram desequilíbrios entre os gêneros em todos os indicadores estudados da ciência brasileira. O estudo mostrou que, entre os bolsistas de produtividade, as mulheres cientistas estavam mais representadas nos níveis mais baixos do sistema de classificação, enquanto os cientistas do sexo masculino foram frequentemente encontrados nos níveis mais altos (1A e 1B) das bolsas de produtividade.

Fernanda Werneck é membro afiliado da Regional Norte da ABC para o período 2017-2021

Doutora em biologia integrativa pela Brigham Young University, nos Estados Unidos, ela é pesquisadora associada do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e, hoje, está atuando como professora visitante na Harvard University (2019). Foi vencedora do prêmio Internacional Rising Talents da L´Oréal-Unesco For Women in Science de 2017 e do prêmio L´Oréal-Unesco-ABC Para Mulheres na Ciência 2016, na área Ciências Biológicas.

Com sua capacidade e talento hoje reconhecidos, Fernanda Werneck teve que aprender a lidar com a discriminação de gênero ao longo de sua carreira. Ela confessa que muitas vezes nem chegou a perceber que estava sofrendo preconceito por ser mulher, mas completa: “Conforme adquiri vivência, hoje sei identificar melhor essas situações e sei que dificilmente determinados comentários e questionamentos teriam sido colocados para um colega do sexo masculino”.

Em 2005, Werneck engravidou enquanto realizava o mestrado. Nesta época, não havia licença-maternidade para bolsistas da pós-graduação. Apenas em dezembro de 2017 foi sancionada a Lei 13.536/2017, que permite a prorrogação dos prazos de vigência das bolsas de estudo concedidas por agências de fomento à pesquisa nos casos de maternidade e de adoção.

Ainda assim, como mostra o mini-documentário “Fator F – Filho, Filha, Filhos” (2018), dirigido por Maria Lutterbach, são muitos os obstáculos enfrentados pelas mulheres que combinam carreira científica e maternidade.

Entrevistada no vídeo, a bióloga Fernanda Staniscuaski falou sobre a necessidade de se discutir e pesquisar sobre o tema, evidenciando estatísticas que apontem os problemas a serem solucionados. Uma das alternativas encontradas pela cientista foi a criação do Parent in Science, projeto que surgiu com o intuito de levantar o debate sobre maternidade e paternidade dentro do universo da ciência do Brasil.

Como aponta Werneck, outras ações possíveis para o alcance da equidade de gênero na pesquisa científica são a promoção de iniciativas que apreciem e facilitem a permanência da mulher na ciência, como o Programa L’Oréal-Unesco-ABC Para Mulheres na Ciência; e a valorização da carreira de cientista e posições que respeitem os direitos da maternidade, como o concurso da Universidade Federal Fluminense (UFF), que pontua docentes que tiraram licença-maternidade no edital do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), de 2019.

Dia Internacional da Mulher: a dura tarefa da busca por igualdade

Leia a seguir matéria da Acadêmica Vanderlan Bolzani, publicada pelo Jornal da Ciência em 8 de março:

Quando se olha para o objetivo de eliminar as desigualdades de gênero, temos à frente uma realidade complexa que exige esforço particular de visão e compreensão sobre o papel das mulheres na sociedade. Trata-se, por um lado, de mudar mentalidades e crenças construídas ao longo de séculos. E, por outro, de criar novos valores que substituam os antigos, em um mundo em rápida transformação.

A empreitada é enorme, mas não há dúvida de que nos últimos anos tivemos conquistas substantivas na redução de desigualdades entre homens e mulheres, especialmente quando se considera o panorama da educação superior e da pesquisa científica no País. As estatísticas de instituições nacionais e órgãos internacionais mostram o quadro no qual as mulheres passaram a se colocar em nível de igualdade, ou mesmo superaram os homens no ingresso aos cursos superiores ou na adesão às carreiras acadêmicas. Os mesmos dados mostram, porém, que essa presença vai se reduzindo quando chegamos ao topo das carreiras e dos cargos de comando, um fenômeno que ocorre não somente no Brasil, mas também nos países desenvolvidos. Outra característica desse panorama, mesmo com a constatada evolução dos últimos anos, é a presença diminuta das mulheres nas chamadas “ciências duras”, isto é, física, química, engenharias e matemática.

Mas o fato de que houve mudanças indica que elas são possíveis e que temos que continuar educando e mostrando que o futuro sustentável dependerá de uma necessária sintonia de gênero. Em faixas distintas da população, as velhas crenças e posições conservadoras vão, aos poucos, sendo substituídas por novos valores. Nesse processo, é evidente também a força de inúmeras iniciativas que tentam construir tais referências: desde políticas implementadas por vários setores representativos do País, como sociedades científicas – destacando aqui a SBPC e a ABC -, setores governamentais, até projetos pontuais de empresas privadas que estimulam jovens e meninas a se interessarem pelo conhecimento e pelo estudo como instrumento de mudanças profissionais e comportamentais.

No entanto, seria ilusório considerar o Brasil atual a partir desse recorte que leva em conta o ambiente acadêmico. O País exibe tenebrosos indicadores quando se considera os números sobre violência de gênero, que salta a cada dia nos jornais, assim como está tristemente colocado entre os que apresentam os maiores índices de feminicídio nas estatísticas mundiais. Estão amplamente documentadas as análises sobre as desigualdades salariais entre homens e mulheres na economia como um todo, e as menores chances de ascensão profissional para elas. Aspectos da desigualdade sempre mais acentuados nas classes pobres e sem acesso à educação de qualidade.

A tarefa de realizar essa mudança de valores tem muitas faces. Mas é certo que ela deve ir além dos louváveis esforços e resultados obtidos com a redução da desigualdade de gênero no ingresso à universidade, e exige a intensificação do debate sobre igualdade em toda sociedade brasileira.

Sobre a autora:

Vanderlan Bolzani é vice-presidente da SBPC e da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp), membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e professora titular do Instituto de Química da Unesp/Araraquara

Por que as meninas não querem fazer ciências exatas?

Desde a primeira mulher a receber um diploma de graduação no Brasil, em 1887, as brasileiras ocuparam cada vez mais as instituições de ensino superior. Segundo o Censo da Educação Superior de 2016, as mulheres, que são a maior parte da população brasileira, já representam 57,2% dos estudantes matriculados em cursos de graduação no país. Ainda assim, este aumento não acompanhou a proporção entre homens e mulheres nos cursos de ciências exatas. O mesmo relatório mostra, por exemplo, que no curso de engenharia mecânica a participação feminina está em 10,2%, fenômeno que se repete na engenharia elétrica (13,1%) e na engenharia civil (30,3%). Então, se as brasileiras já são maioria no ensino superior, por que são tão poucas nas ciências exatas e engenharias?

Segundo a socióloga política e Acadêmica Elisa Reis – doutora em Ciência Política pelo Massachusetts Institute of Technology, professora titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ) e membro da Academia Mundial de Ciências (TWAS) – a resposta para esta questão está nos processos e mecanismos de socialização, que “fazem tanta gente ainda acreditar que existem características intrínsecas e divisões naturais de funções na sociedade, reservando a homens e mulheres distintos caminhos para aprender e conhecer”. Para Reis, a escolha da carreira se deve muito mais a cultura apreendida durante a infância e adolescência do que a um fator biológico.

A Acadêmica alerta para os padrões de socialização no interior das famílias, nas escolas, nos meios de comunicação e em outros nichos de difusão de valores, que se prestam a recriação de mitos e preconceitos sobre habilidades e vocações diferentes para homens e mulheres.

Um exemplo disso são os brinquedos discriminados por gênero, como destaca a física e Acadêmica Yvonne Mascarenhas –  doutora em química (físico-química) e livre-docente pela Universidade de São Paulo (USP), com pós-doutorado pela Universidade de Harvard e professora titular aposentada do Instituto de Física de São Carlos, da USP, ainda em exercício. Ela trabalha há muitos anos com divulgação científica na educação básica, e observa: “São diferentes os brinquedos oferecidos às meninas e meninos, e as meninas tem menor contato nas atividades do pai, que tem uma cultura social mais ligada a temas tecnológicos”.

No Instituto de Estudos Avançados (IEA) – Polo São Carlos, da Universidade de São Paulo (USP), Mascarenhas coordena o projeto Agência Multimídia de Difusão Científica e Educacional Ciência Web, que deu origem ao Portal Ciência Web. No portal são disponibilizados vídeos, jogos e outros conteúdos multimídia como forma de complementar o ensino de ciências em escolas públicas e divulgar a produção universitária.

Em correlação com a divulgação das lutas e direitos conquistados pelas mulheres no passado e de histórias sobre o sucesso alcançado por mulheres cientistas, a Acadêmica vê nos blogs de ciência na Internet um grande aliado para despertar o interesse das meninas em ciência.

No Reino Unido, a campanha Let Toys Be Toys, concebida a partir de um segmento no site parental Mumsnet, tem alertado aos pais sobre o aumento de marketing e propaganda para crianças que reforçam estereótipos de gênero. Eles apoiam que as crianças decidam com o que brincar e também defendem que elas precisam de uma ampla gama de jogos para desenvolver diferentes habilidades.

Este é também o argumento levantado pela farmacêutica e Acadêmica Vanderlan Bolzani, doutora em ciências pelo Instituto de Química da USP, com pós-doutorado na Universidade Estadual da Virgínia, EUA, e livre-docente pelo Instituto de Química da Universidade do Estado de São Paulo (Unesp) , onde é professora titular.

Ela tem participado ativamente do debate sobre mulheres na ciência. “Eu fui de uma geração em que a minha mãe não queria que eu brincasse com meninos. E eu gostava das brincadeiras dos meninos, achava mais interessantes. Ficava olhando os meninos jogarem bolinha de gude. Se analisarmos friamente, esta é uma brincadeira que exige do cérebro um estímulo maior”, compartilha a Acadêmica. Ela assegura: “Quanto mais você colocar uma criança em contato com desafios, com situações que estimulem a capacidade cerebral, melhor”.

Reis lembra que, da mesma forma que perpetua o status quo, a família pode transformar crenças e valores. Bolzani observa ainda que a divulgação científica feita de forma igualitária para ambos os gêneros é também responsabilidade do Estado. “As escolas são muito importantes para colocar para meninas e meninos a importância do conhecimento, e como ele é um instrumento maravilhoso de descoberta dos segredos do mundo”, ela complementa.

Como indica a socióloga Elisa Reis, a quebra de estereótipos que segregam meninas e mulheres corresponde também ao fim de preconceitos que oprimem, de maneira reversa, meninos e homens. “Livres de tais preconceitos todos poderão exercer com mais liberdade suas escolhas, desenvolver melhor suas potencialidades e assim contribuir, plenamente, para o avanço do conhecimento científico e do bem-estar da sociedade”.

Iniciativas aproximam meninas das ciências exatas

Apresentando-se como alternativas aos ambientes que reforçam escolhas de carreira baseadas nos estereótipos de gênero, universidades, institutos científicos e ONGs tem oferecido ao público projetos e atividades de iniciação nas ciências exatas para meninas. Conheça alguns exemplos:

Tem Menina no Circuito

Coordenado por professoras do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o projeto propõe oficinas de eletrônica têxtil e em papel para alunas do ensino médio. Nessas oficinas, as adolescentes fazem desde circuitos elétricos simples a sistemas mais complexos que podem ser como conjuntos de LEDs e motores que respondam a estímulos sonoros. O trabalho realizado nas oficinas pode ser facilmente relacionado ao conteúdo de física do ensino médio, na parte de eletricidade e magnetismo.

Meninas Olímpicas do Impa

Criado pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o programa visa promover a efetiva presença de meninas em atividades ligadas à matemática, inclusive nas olimpíadas escolares, para que elas possam se interessar e desenvolver carreiras no âmbito científico e tecnológico.

Ainda em fase de desenvolvimento, o projeto contará com a participação de cinco escolas públicas do estado do Rio de Janeiro e será coordenado por Leticia Rangel, docente aposentada do Colégio de Aplicação da UFRJ. Serão desenvolvidas, em cada escola, atividades motivadoras e educativas complementares para turmas de alunas. A ideia é que os encontros sejam semanais. Também acontecerão sessões de preparação das alunas para as olimpíadas escolares, além de visitas das escolas participantes ao Impa para atividades como palestras e oficinas.

ELAS nas Exatas

Resultado de uma parceria entre o Fundo ELAS, único fundo voltado exclusivamente para a promoção de direitos de mulheres no Brasil, o Instituto Unibanco e a Fundação Carlos Chagas, o Programa ELAS nas Exatas tem por objetivo incentivar projetos que estimulem meninas a se envolverem com as ciências exatas e tecnológicas, sensibilizando a gestão escolar para transformar o cenário de desigualdade de gênero existente no Brasil.

O Programa ELAS nas Exatas investiu R$ 553 mil em projetos inovadores que, em apenas 1 ano, alcançaram: mais de 1 mil beneficiárias diretas; mais de 12 mil beneficiárias indiretas; 10 escolas públicas; 18 organizações da sociedade civil; e 10 instituições governamentais.

Em 8 de março, homenageamos Helena Nader: mãe, mulher, pesquisadora e defensora da ciência brasileira

Criado para lembrar e celebrar as lutas das mulheres ao longo dos séculos e que acontecem até hoje, o Dia Internacional da Mulher, em 8 de março, resgata também as trajetórias de mulheres inspiradoras que tiveram de superar os desafios impostos por uma sociedade patriarcal para ascender na vida e darem sua contribuição para a humanidade. No âmbito da ciência, as histórias das pioneiras Marie Curie, Rosalind Franklin e Katherine Johnson talvez sejam algumas das mais conhecidas.

O Brasil, um país extremamente desigual em vários aspectos, pode se orgulhar de brilhantes exemplos na categoria de mulheres cientistas. Um relatório publicado pela editora científica Elsevier mostrou que, dentre os países pesquisados, Brasil e Portugal são as nações com a maior porcentagem de autoras em trabalhos científicos (49% do total). A biomédica Helena Bonciani Nader é um desses modelos inspiradores para meninas e meninos que desejam fazer ciência no país. Presidente de Honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), da qual foi vice-presidente e presidente por dez anos, hoje ela está concorrendo à vice-presidência da Academia Brasileira de Ciências (ABC), em chapa única.

Bacharel em ciências biomédicas e doutora em biologia molecular pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com pós-doutorado pela Universidade do Sul da Califórnia, nos EUA, a Acadêmica Helena Nader é professora titular da Unifesp e bolsista de produtividade nível 1A do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

É membro titular da Academia de Ciências de São Paulo e da World Academy of Science (TWAS) for the Advancement of Science in Developing Countries. Recebeu diversas honrarias: Ordem do Mérito Naval, grau Comendador do quadro Suplementar, Marinha do Brasil, 2018; Grão-Mestre da Ordem Nacional do Mérito Educativo, Presidência da República, 2018; Classics in Cell Biology, Sociedade Brasileira de Biologia Celular (SBBC), 2018; Science Service Award, Federação de Sociedades de Biologia Experimental, FESBE 2018; Ordem do Mérito da Defesa, grau Oficial, Presidência da República (2016); Medalha Carneiro Felippe, Comissão Nacional de Energia Nulear (CNEN) (2016); Ordem do Mérito Naval, classe Grã-Mestra, Marinha do Brasil (2015); Medalha Mérito Tamandaré (Marinha do Brasil) (2013); Medalha de Ouro Moacyr Alvaro (2012); Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico (2008); Prêmio Scopus 2007 (Elsevier/Capes); Professor Honoris Causa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2005); Comenda da Ordem Nacional do Mérito Científico (2002), entre outros.

Além do trabalho de excelência na pesquisa, a professora tem se destacado, desde o início da sua carreira, na atuação política em prol da ciência, tecnologia e inovação brasileiras. Se eleita vice-presidente da ABC, será a segunda mulher a ocupar o cargo, em 102 anos de ABC, depois da engenheira agrônoma Johanna Döbereiner, em 1995.

As irmãs Helena e Heloisa com a mãe

Helena nasceu em 5 de novembro de 1947, na cidade de São Paulo. Passou a infância na companhia dos pais e da irmã, em São Paulo e Curitiba, no Paraná, para onde seu pai foi transferido. Ela lembra com alegria desse período: “Brincávamos de boneca, de construção, de tijolinhos de engenheiro, de bicicleta, não tinha uma brincadeira de menina ou de menino, a brincadeira era de tudo. Tive uma infância incrível”.

Seus pais sempre a incentivaram muito a estudar, e ela, por outro lado, também sempre gostou da escola. Sobre suas matérias preferidas na época, ela comenta: “Eu gostava muito de matemática, das ciências, física, biologia, em outras palavras, eu gostava de estudar. Tinha alegria de ir para escola, de fazer lição de casa”, ela explica.

Ainda na adolescência, Helena teve sua primeira experiência acadêmica no exterior, e foi cursar o último ano do ensino médio nos Estados Unidos. De volta ao Brasil, prestou o exame vestibular do Centro de Seleção de Candidatos às Escolas Médicas e Biológicas (Cescem), colocando como opções o curso de medicina da Escola Paulista de Medicina e da Universidade de São Paulo (USP), e o bacharelado em ciências biomédicas da Unifesp, criado em 1966, apenas um ano antes de seu ingresso. Esse foi o escolhido: ela conta que foi totalmente absorvida pela filosofia do curso. “Nossa turma tinha passagem direta para medicina, e dos 20, só dois elegeram essa opção ao final do bacharelado. Isso significa que foi um curso que motivou os estudantes, hoje professores no país e no exterior. O projeto pedagógico do curso permitiu descobrir talentos com vocação para essa área”.

Colega de curso na Unifesp e amiga de longa data de Helena, a Acadêmica Regina Markus relembra os tempos da graduação: “Desde aquela época, Helena era uma pessoa de opinião, que sabia lutar pelo que queria, e era uma pessoa de muito estudo e muitas ideias. A vida toda em que corremos juntas é uma prova de que Helena é uma pessoa que soube estar no seu tempo e a frente dele”.

Enquanto por um lado estava na vanguarda, nos quesitos talento e vocação, por outro lado Helena iniciou sua vida acadêmica num período conturbado da história do país: a ditadura militar. Ela lembra: “Vivi em uma época trágica do Brasil, que espero não ter que viver nunca mais. Eu tive professores e colegas presos, torturados, desaparecidos… Não foi fácil”.

Durante o bacharelado na Unifesp, em 1969 a Acadêmica iniciou outra graduação, em biologia, na Universidade de São Paulo (USP). Em 1970, começou o doutorado em biologia molecular na Unifesp, sob a orientação do Acadêmico Carl Peter Von Dietrich, que depois viria a se tornar seu companheiro por 22 anos, e pai de sua filha. Em 1974, iniciou sua carreira como docente na Unifesp. Entre 1975 e 1977, realizou o pós-doutorado na Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos.

Helena e Julia, 1986

A cientista reforça que conciliar carreira e maternidade é um grande desafio. Nader recorda do período em que ela e Dietrich criaram um grupo de pesquisa em bioquímica na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O casal se revezava entre Natal e São Paulo, para cuidar da filha Julia, ainda pequena na época. Eles encontraram um equilíbrio para que ambos pudessem continuar trabalhando, contando com a ajuda dos pais de Helena.

“Muitas mulheres não tiveram a sorte que eu tive. Eu digo sempre: eu sou quem eu sou começando pelo pai e mãe, pela família e pelos professores que tive”, reconhece.

Como pesquisadora, Nader trabalha com a heparina, um composto que evita a coagulação do sangue e impede a formação de vasos. Ela relata que muitos pensaram que, com a morte do professor Dietrich, em 2005, sua vida acadêmica teria acabado, pois como eram parceiros na vida pessoal e profissional, era ele quem orientava e escrevia os trabalhos.

“Mas está aí provado que eu continuei fazendo tudo isso, embora com muita saudade. Sinto saudade dele até hoje”, declara.

Ela orientou 46 mestres, 50 doutores e supervisionou 19 estágios de pós-doutorado, tendo atuado ainda como professora visitante da Loyola Medical School (Chicago, EUA), W. Alton Jones Cell Science Center (NY, EUA), Istituto Scientifico G. Ronzoni (Milão, Itália) e Opocrin Research Laboratories (Modena, Itália).

Helena, Peter e Julia, em Paris

Helena Nader tem na ciência brasileira uma de suas paixões. Além de professora e pesquisadora, a cientista já ocupou diversos cargos administrativos em instituições científicas: foi vice-presidente (2007-2011), presidente (2011-2017) e presidente de honra (desde 2017) da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), presidente da Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular (SBBq, 2009-2010) e é membro do Conselho Superior da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). “Qual é a minha obrigação hoje? Preservar a Constituição e os direitos que ela garante. E lutar cada vez mais pela qualidade da educação e da ciência no nosso país, que é a única coisa que vai mudar o perfil econômico do Brasil”, afirma a Acadêmica.

Como vice-presidente da ABC, Nader pretende trabalhar para colocar o Brasil cada vez mais na fronteira científica mundial. Ela lembra que é a diversidade que torna as nações grandes, e dentro da Academia, ainda que lentamente, o cenário tem se tornado mais plural, especialmente com uma maior entrada de mulheres. A cientista ressalta: “A participação da mulher na ciência brasileira é gritante, somos mais de 50% nas universidades. Então, eu não entendo porque ainda tem que ter subserviência. Eu não quero ser melhor do que o homem, eu quero ser igual. Equidade: é isso que nós queremos”.

Ela é uma batalhadora, com uma perspectiva ampla em relação ao papel do cientista no mundo. “Eu, como Acadêmica, tenho que lutar por uma sociedade justa, e não só por uma sociedade científica mais justa. Enquanto a mulher não tiver seus direitos preservados, eu vou continuar lutando”.

Seja como mulher, mãe, cientista ou pesquisadora, a trajetória de Helena Nader inspira não apenas jovens meninas que querem fazer ciência: sua atitude e seu pensamento servem também de estímulo para brasileiras e brasileiros pensarem coletivamente, e lutarem pela equidade de gênero, pela qualidade da ciência e da educação, em prol do desenvolvimento do país.

Resolução da resposta imune por lipoxinas

Fabiana Simão Machado demonstrou uma vocação precoce e surpreendente. Desde pequena, brincava com insetos, os abria pra ver como eram por dentro. “A primeira coisa que pedi pros meus pais de presente foi um kit de laboratório, gostei muito da lupa, porque dava pra ver melhor os insetos, os bichos”, recorda. O interesse foi totalmente espontâneo, dado o fato de não ter nenhum parente que trabalhasse com nada relacionado à Ciência. “Acho que fui uma mutação na família”, brinca a pesquisadora.

O que parece ter alimentado seu interesse pela biologia foram algumas aulas práticas de laboratório na quinta série. Ela recorda que a professora, em um experimento para revelar a diferença entre a respiração cutânea e a pulmonar, levou um sapo, o abriu e mostrou sua respiração. O sapo ainda sobreviveu por dois, três dias. “Eu fui a primeira a levantar a mão e querer fazer a mesma coisa, mas meu sapo morreu logo que eu abri. Fiquei frustrada, mas não me traumatizou a ponto de me desmotivar!”

No ensino médio, Fabiana não teve dúvidas na hora de escolher o curso e entrou para biomedicina, no Centro Barão de Mauá, em Ribeirão Preto. Na faculdade, tomou a iniciativa de procurar laboratórios que atendessem a sua curiosidade. Interessou-se pelas áreas de parasitologia e imunologia, nas quais atua até hoje. Após a graduação, Fabiana Machado formou-se mestre e doutora em imunologia pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) e hoje é professora adjunta no Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

O que encanta a pesquisadora na ciência não é apenas o diagnóstico das doenças, mas entender suas causas naturais, partindo dos detalhes da interação dos organismos envolvidos. “Além disso, é uma forma de contribuir com o desenvolvimento de terapias que evitem a formação de uma patologia”, acrescenta.

Ela adora trabalhar com pesquisa. “Cada dia é uma descoberta, surgem novas idéias e às vezes frustrações, já que a ciência nem sempre é exata. A possibilidade de ajudar na saúde de pessoas é uma sensação inexplicável”. Apesar das dificuldades e do avanço por vezes lento, Machado não se desanima: “a gente sabe que nossa pesquisa pode demorar anos, mas é uma pedrinha que colocamos de cada vez, é um passo que damos”.

A pesquisa que Fabiana Machado vem desenvolvendo é sobre a resolução da resposta imune por lipoxinas. Ela partiu da constatação de que a indução de mediadores pró-inflamatórios é fundamental para o sucesso da resposta imune contra patógenos como o Trypanosoma cruzi e o Mycobacterium tuberculosis. “O mediador lipídico antiinflamatório derivado das lipoxinas exerce um papel biológico muito importante ao revigorar a resposta imune contra esses patógenos”, garantiu Machado. Tais estudos, segundo ela, sugerem um novo alvo molecular para o desenvolvimento de drogas contra doenças marcadas por respostas inflamatórias desreguladas.

Quanto à afiliação à Academia Brasileira de Ciências, Machado agradeceu a indicação dos Acadêmicos Ricardo Gazzinelli, Sérgio Pena e Paulo Sérgio Beirão, afirmando ter sido uma honra e uma felicidade muito grandes. “É muito bom fazer parte de um grupo de pesquisadores, professores e doutores da qualidade que encontramos na ABC”, entusiasma-se, “e por outro lado, nos faz perceber que todo nosso esforço, nosso trabalho, nossa contribuição está sendo de alguma forma reconhecida. Fiquei realmente muito emocionada.”

Nos próximos anos, a cientista pretende, antes de tudo, fazer jus à nomeação continuando seus projetos e colaborando para o desenvolvimento da ciência. “Além de ajudar a área da saúde, quero divulgar a qualidade da pesquisa brasileira”, acrescenta a bem vinda afiliada.

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