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Ciência às 6 e meia

art3303img1.jpgIniciativa da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o “Ciência às 6 e meia” é um ciclo de palestras de divulgação científica voltado para o grande público. No dia 17 de janeiro, a apresentação será guiada pelo pesquisador titular do CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas) Henrique Lins de Barros. Ele vai apresentar a palestra: “Fazer Ciência, Divulgar Ciência: dois desafios”.
Barros vai tratar da questão da divulgação científica no Brasil. Para ele, o país tem uma presença relevante na publicação de artigos e produção de conhecimento, mas a sociedade acadêmica peca na linguagem usada para transmitir esse conhecimento ao público em geral.
A palestra é gratuita e acontecerá no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, no salão do Colégio Brasileiro de Altos Estudos, na Avenida Rui Barbosa, 762 – Flamengo. O horário, como sugere o nome do programa, é às 18h30.

Cientistas têm que mostrar eficiência, diz diretor científico da Fapesp

brito_folha_edit.jpgA atual crise de financiamento da pesquisa científica é um dos temas mais discutidos no ambiente acadêmico brasileiro. O orçamento minguou e muitos grupos não têm conseguido manter suas atividades normais.
Para o engenheiro eletrônico e diretor da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, maior agência estadual de fomento do país), Carlos Henrique de Brito Cruz, 61, além de lutar por mais recursos, os cientistas deveriam se preocupar também com a eficiência no uso deles. “Quando há escassez cresce a cobrança por resultados imediatos do dinheiro proveniente de impostos.”
Em entrevista à Folha, concedida em seu gabinete, ele defende mensurar essa eficiência com, por exemplo, o número de empresas gestadas dentro de uma universidade ou criadas por seus egressos.
Folha – Como caracterizar a crise de financiamento da ciência?
Brito Cruz – Há uma crise de financiamento de tudo que depende de arrecadação de impostos no Brasil –ciência, saúde, educação, segurança, rodovias, energia
Há despesas não eletivas, como folha de pagamento e aposentadoria. E a constituição manda gastar um percentual com educação, com saúde. Na área de ciência e tecnologia existe um descompasso entre a grande restrição orçamentária nas despesas do MCTIC com a restrição orçamentária no MEC, menor.
Como a maior parte do gasto federal com ciência e tecnologia vem do MEC, a maior parte desse gasto está menos comprimida, e a menor parte, do MCTIC, mais comprimida.
Do lado do MEC garante-se o salário dos professores de universidades, mas para eles fazerem pesquisa é necessário verba do CNPq ou da Finep. O sistema fica desequilibrado.
Há uma participação importante do setor privado nos investimentos no país, não?
No Brasil, a participação do setor privado no gasto com pesquisa e desenvolvimento é de cerca de 40% do total. Com a crise, porém, ela foi prejudicada: continua 40%, mas são 40% de um valor menor que os R$ 70 bilhões gastos em 2014 (R$ 28 bi).
A crise de financiamento não é uniforme em todas as regiões do país, certo?
No Estado de São Paulo, onde o gasto federal é a menor parte, o efeito da crise é menor. Aqui 60% do gasto é das empresas e 23% do Estado. Só aí já deu 83%.
Nos demais Estados, analisados em conjunto, o gasto federal chega a dois terços. Aí o efeito da crise é enorme.
Há modelos de financiamento que atenuem essa situação?
Em SP, onde o governo tem uma política previdente sobre os gastos estaduais, as crises são atenuadas. Em vez de uma baixa de 30% nos recursos, a queda é de 3% ou 4% –aí é possível acomodar as finanças. Em outros Estados, a responsabilidade fiscal dos governos poderia atenuar a crise. A Fapesp continua recebendo 1% da receita tributária de SP.
O desenvolvimento de parcerias para cofinanciamento também pode ajudar. Um projeto que iria custar X, pode custar a metade disso porque você está fazendo em conjunto com alguma agência de outro país, com uma empresa que vai custear a outra metade.
Essas ideias são medidas paliativas, não soluções. A situação criada no Brasil está gerando sofrimento.
A demanda por recursos deveria vir com uma discussão sobre eficiência no uso deles?
É um ponto muito importante. A ciência merece ser financiada quando é boa, quando tem bom impacto intelectual, econômico, social ou os três.
Está na hora de buscarmos mais qualidade na pesquisa e em seus resultados e caminharmos de métricas baseadas na quantidade para aquelas baseadas na qualidade.
Isso inclui, por exemplo, ter uma discussão sobre quantos doutores precisam ser formados no Brasil por ano e qual é a qualidade da formação que está sendo oferecida.
De que maneiras é possível mensurar essa eficiência?
Você pode medir quantos artigos publicados tem ao menos um autor numa universidade e outro numa empresa. Isso mostra a intensidade dessa interação. Em São Paulo o crescimento desse número nos últimos anos é exponencial.
Outra possibilidade, muito usada por universidades no exterior, é aferir quantos dos egressos criam empresas em setores mais modernos, que poderão ajudar a renovar o ambiente industrial do país. Ao se comparar a Unicamp com universidades americanas nesse quesito, ela não fica mal.
Dá para saber o prejuízo causado pela atual crise?
As cifras que aparecem são muito desencontradas. Se pensarmos na economia, talvez um número crível seja o PIB per capita do Brasil, que voltou ao valor de 2009 ou 2010.
Não parece que a ciência sempre perde na briga por verba?
É mais difícil para a ciência e tecnologia do que para um hospital demonstrar os benefícios que ela traz.
Hoje se produz mais alimentos porque há anos houve investimento em pesquisa na área da agricultura; se mais impostos são recolhidos porque fabricamos aviões, é porque houve pesquisa que ajudou o país a fabricá-los. Em casos como esses, houve pesquisa e esforço. Se há uma cisão no aporte financeiro, há grandes chances de haver sofrimento no futuro.
Não fica a impressão de que só vale a pena investir em pesquisas aplicáveis, em detrimento da pesquisa básica?
Quando há escassez cresce a cobrança por resultados imediatos do dinheiro proveniente de impostos, inclusive aquele que vai para ciência e tecnologia. É natural.
Um matemático que recebe a medalha Fields, por exemplo, traz orgulho para seu país.
Sim, ele mostra que a gente é capaz. A ciência tem essa complicação, ela não pode ser valorada de uma maneira exclusivamente utilitária.
O fato de existir atividade científica competitiva em nível mundial mesmo em temas nos quais os benefícios não vão aparecer na semana que vem, favorece também pesquisas e treinamentos em áreas mais práticas e imediatas.
Não é “uma causa e um efeito”, simplesmente. São causas difusas e efeitos que só virão dali um tempo.
A razão pela qual o contribuinte aceita que se use o dinheiro dele para financiar pesquisa é que ele espera algum tipo de benefício: 1) a pesquisa melhora a vida na sociedade, 2) faz a economia funcionar melhor, e/ou 3) traz conhecimentos que a sociedade brasileira ou internacional valorize, tornando-a mais sábia, por exemplo.
A questão é ter um equilíbrio dessas três coisas, e ele pode ser diferente de acordo com a época.
O que o sr. pensa de iniciativas como as Marchas pela Ciência?
Acho legítimo, como outras várias iniciativas de organizações científicas e de pesquisadores para tornar a atividade científica mais visível.
Mas acho que tem de haver equilíbrio nas ações em defesa da ciência e de seu financiamento público. Não se deve exagerar ou criar uma perspectiva de catástrofe para amedrontar pessoas visando o financiamento.
Pode acontecer o efeito contrário, as pessoas podem dizer: “Se está tão ruim isso aí, para que pôr mais dinheiro?”.
Além de evitar o catastrofismo, como esse debate poderia ser conduzido?
Valorizar e demonstrar de maneira eficaz as realizações passadas ajuda. Ajuda mais se isso for feito continuamente –não só na época de crise, mas também na de bonança.
Mas é uma discussão na qual nem sempre os atores conseguem manter equilíbrio e racionalidade. Tem gente vendo o salário não vir e o laboratório ao qual se dedicaram anos e anos ser sucateado sem manutenção. É difícil!
Como o sr. vê iniciativas como o Instituto Serrapilheira e o fundo privado recentemente anunciado pelo governo para financiar pesquisas de ponta?
Acho muito positivas. Quanto mais você aumenta a diversidade de fontes de financiamento, mais sólido fica o sistema. Se uma sofre, outra pode compensar.
O Serrapilheira é uma ótima iniciativa. Sobre o fundo da Capes, eu não conheço os detalhes, mas buscar outras maneiras de ter recursos para financiar a pesquisa é sempre uma boa coisa.
Em abril, a Fapesp anunciou que iria bloquear recursos para universidades que não tivessem órgãos dedicados a promover a integridade científica, como está essa questão?
Está avançando. Estabelecemos no documento de financiamento à pesquisa que os pesquisadores e as instituições assinam com a Fapesp o compromisso de que as universidades tenham esses órgãos. Estamos trabalhando com as instituições para incentivá-las e ajudá-las a criar tais órgãos
A UFABC foi a primeira a ter um. A USP acabou de definir uma sistemática muito avançada para esse fim e a Unesp deve anunciar em breve.
Também incentivamos as universidades a criarem escritórios cuja função é ajudar o pesquisador a montar um projeto de pesquisa e a geri-lo quando este for aprovado. A ideia é que o pesquisador não tenha o seu tempo onerado com tarefas que não sejam científicas, que é o que todas as boas universidades do mundo fazem.

Raio-X
Nascimento
19 de julho de 1956, no Rio
Formação
Graduação em engenharia eletrônica pelo ITA, mestrado e doutorado em física pela Unicamp
Trajetória
Foi pesquisador nos Laboratórios Bell, da AT&T, entre outras entidades. Foi reitor da Unicamp de 2002 a 2005 e presidente da Fapesp entre 1996 e 2002. Desde 2005 é diretor científico da entidade

Verás que um nerd teu não foge à luta

galileu-800.pngCom corte de verbas e pós-verdade, a ciência nunca precisou tanto do seu apoio. Aprenda a defendê-la com nosso manual que detona 15 bobagens negacionistas.
Pergunto a um terraplanista se seria um choque muito grande ser lançado ao espaço e constatar, com os próprios olhos, que a Terra não é um disco achatado, mas sim uma deslumbrante bolinha de gude azul flutuando na escuridão cósmica.
Minha intenção era saber como a ideia de ter sua crença refutada pelos próprios sentidos abalaria suas convicções. “É plana e nenhuma oportunidade irá me provar o contrário”, cravou Samuel Trovão, estrondoso como o nome fictício. É o dono da página A Terra é Plana, maior do gênero no Facebook brasileiro, com mais de 90 mil curtidas, cujo lema é “ensine a controvérsia”. Ali são divulgadas supostas evidências para comprovar a teoria e, principalmente, provocações contra a maioria esmagadora dos seres humanos que não duvida estar vivendo em um globo. “Não é zuera. Nunca foi. Quem pergunta é removido permanentemente”, alerta a página.
Mas como alguém acredita que todas as agências espaciais e autoridades façam parte de um complô? “Não acreditamos, sabemos”, diz Trovão. “Não tem como convencê-los, já decidiram no que acreditam e é uma decisão completamente baseada na fé”, avalia o físico teórico Marcelo Gleiser, da Faculdade Dartmouth (EUA). Gleiser interpreta o fenômeno como uma “desestruturação da autoridade”: quem nunca estudou ciência na vida pensa saber tanto quanto quem passou décadas na universidade. “Todo mundo virou especialista, é muito sério.”
Quem acompanhou a campanha de Donald Trump e a discussão em torno das fake news (notícias falsas) reconhece esses sintomas: trata-se da pós-verdade. Ter alguém como Trump descreditando abertamente a ciência climática — apelando para emoções em detrimento de fatos — é algo que acertou em cheio o conhecimento científico. Da noite para o dia, rappers e jogadores da NBA se sentiram à vontade para declarar que acreditam na Terra plana. O movimento tem ganhado tanta força que, em novembro, foi realizada a primeira conferência internacional dos terraplanistas, que reuniu cerca de 500 pessoas na Carolina do Norte. “Os terraplanistas não deveriam usar tecnologia alguma, pois são todas baseadas nas teorias que negam”, diz Marcia Cristina Bernanrdes Barbosa, diretora da Academia Brasileira de Ciências (ABC). Mas eles não parecem se importar.
Assim como também não se importam os céticos que negam que as atividades humanas causem o aquecimento global. A vertente ganhou impulso com a retirada dos EUA do Tratado de Paris, em junho. No Brasil, a principal voz é Ricardo Felício, professor do departamento de Geografia da USP. Em julho, ele se envolveu em um debate pelo YouTube com o paleontólogo Paulo Miranda Nascimento, o Pirula. Foram mais de seis horas de réplicas e tréplicas. “Diria que ele acredita de fato no que defende, não está mentindo para as pessoas”, diz o youtuber.
Mas 97% dos especialistas não concordam. “Há enormes evidências científicas de que estamos mudando nosso planeta de maneira muito significativa”, afirma o físico atmosférico Paulo Artaxo [membro titular da ABC], do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Para ele, é ingenuidade achar que Trump e os negacionistas não acreditam no aquecimento global. “São interesses econômicos que tentam distorcer a opinião pública para continuar ganhando dinheiro com a queima de combustíveis fósseis.”
E, como se não bastassem as investidas contra a esfericidade da Terra e os riscos das mudanças climáticas, existe ainda o movimento antivacinas. Parte da população passou a olhar com desconfiança para uma das grandes conquistas da humanidade. “Até hoje, os brasileiros sempre tiveram posição muito favorável às vacinas, porque as pessoas viram os filhos pararem de ficar doentes”, diz o imunologista Jorge Elias Kalil FIlho [membro titular da ABC], referência no Brasil e no mundo. Mas o temor de que elas façam mal tem levado ao boicote. Em 2011, houve um surto de sarampo em São Paulo que contaminou 25 crianças — tudo começou porque os pais se negaram a vacinar.
Além do sarampo, a difteria está se espalhando em países europeus devido a essa corrente. A situação vem preocupando tanto os especialistas que, em junho, o Conselho Federal de Medicina e a Sociedade Brasileira de Pediatria publicaram uma nota alertando para os riscos. Tudo isso levanta a questão: por que as pessoas estão duvidando da ciência?
Confie no método
Para o engenheiro João Fernando Gomes de Oliveira, vice-presidente da ABC, são as redes sociais que alavancam o discurso anticientífico. Cresce assim um sentimento de que ciência é mera opinião — e nada poderia estar mais equivocado. “A relação entre verdade e mentira ficou tão difícil de entender que a verdade científica passa a ser a única referência para descobrir o que é certo e o que não é.” Para conter a pós-verdade, a ciência deveria ser aliada, não vilã. “Cientistas não são pró-isso ou aquilo, cientista é pró-conhecimento”, diz Kalil. A garantia dessa postura se chama método científico, que exige que as hipóteses sejam testadas à exaustão. Só depois tornam-se verdades científicas — até que surja outra teoria que explique melhor o fenômeno.
Marcia Barbosa ressalta a importância de os cientistas deixarem clara a relevância de seu trabalho. Essa atitude se torna ainda mais urgente diante dos cortes anunciados pelo governo federal para 2018. A verba do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações será a menor da última década. Após um contingenciamento de 44% em 2017, o próximo ano pode ser ainda pior. Até a conclusão desta edição, o corte previsto era de 20%, que pode derrubar o orçamento a R$ 4,6 bilhões. O Japão, por exemplo, investe R$ 36 bilhões por ano. Se isso acontecer, haverá uma fuga de cérebros e suspensão de pesquisas. “A ciência brasileira foi capaz de produzir pessoas de imenso impacto graças a um investimento que vinha sendo regular e ininterrupto”, lamenta Barbosa.
Por isso, leitor, se você se importa com a ciência e tudo o que ela representa, nós o convidamos a lutar por ela. Reaja contra quem ataca o conhecimento — com respeito e empatia, é claro. Nas páginas seguintes, elaboramos um manual com as respostas aos principais mitos propagados por quem nega a ciência. Se esse conteúdo não ajudar a convencer os negacionistas, que ao menos estimule uma atitude mais pró-ativa. Talvez os terraplanistas só sejam dissuadidos se forem, de fato, levados ao espaço. Nos ajuda nessa, Elon Musk?
Conheça seus treinadores
Conversamos com alguns dos mais destacados cientistas do brasil para coletar bons argumentos contra o negacionismo
Pirula
Youtuber, biólogo e paleontólogo, Paulo Miranda Nascimento é dono de um dos principais canais de divulgação científica no país: o Canal do Pirula, com 600 mil inscritos. Faz vídeos combativos sobre ciência, religião e evolução.
Jorge Kalil
Especialista em vacinas, o membro titular da ABC é um dos imunologistas mais respeitados do Brasil. Dirigiu o Instituto Butantan por seis anos. Em 2006, foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico.
Marcelo Gleiser
Autor de nove livros, o físico é um dos maiores divulgadores de ciência brasileiros. Leciona disciplinas como “física para poetas” na Dartmouth College, EUA. Apresentou quadros no Fantástico e tem coluna na Folha de S.Paulo.
Marcia Barbosa
Especialista em água, a física é diretora da ABC e também membro da União Internacional de Física Pura e Aplicada. Sua luta pela inclusão da mulher no ambiente científico rendeu-lhe diversos prêmios nos últimos anos.
Paulo Artaxo
Chefe do departamento de Física Aplicada da USP, pesquisa mudanças climáticas e o meio ambiente amazônico. Artaxo é membro titular da ABC e da equipe do IPCC, agraciada com o Prêmio Nobel da Paz de 2007.
João Oliveira
João Fernando Gomes de Oliveira é engenheiro, vice–presidente da ABC e membro do corpo editorial de três periódicos internacionais. Foi condecorado em 2010 com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico.
Terra plana
Refutada pela ciência desde 240 antes de Cristo
A concepção da Terra como um disco plano encoberto por uma abóbada de misteriosos objetos celestes era unanimidade na Antiguidade. E é compreensível: não havia ainda conhecimentos para fazer investigações científicas para além do que os olhos viam. Foi só no século 6 a.C. que filósofos como Pitágoras propuseram o modelo esférico, motivados por relatos de navegadores e observações do céu. Três séculos mais tarde, constatando que as estrelas vistas no Egito não eram as mesmas de céus mais ao norte e que a sombra da Terra na Lua durante eclipses era esférica, Aristóteles reforçou que o nosso planeta é um globo. Já por volta de 240 a.C., Eratóstenes realizou experimento que forneceu a prova mais convincente do modelo esférico até então — as grandes navegações do século 16 o comprovaram, e a ciência moderna não deixou dúvida.
Mas, em 1849, o inglês Samuel Rowbotham reviveu a Terra plana com o que chamou de “astronomia zetética”: o planeta seria uma espécie de pizza com o centro no Hemisfério Norte e a borda na Antártida. Desde então, a ideia estava restrita a certos círculos, mas ganhou popularidade nos últimos anos. “Graças à facilidade de nos comunicarmos, à falta de educação científica e ao fundamentalismo religioso, a Terra plana renasceu”, diz Marcia Barbosa.
Gênio completo
O pensador grego Eratóstenes de Cirene, não contente em ser bibliotecário-chefe da lendária Biblioteca de Alexandria, no Egito, também era astrônomo, historiador, geógrafo, filósofo, poeta, crítico de teatro e matemático. Ufa!
Luz e escuridão
Tamanho de sombras mostra que a Terra é um globo
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De olho no Sol
O experimento de Eratóstenes
Estacas, olhos, pés e cérebro — foi com essas ferramentas que Eratóstenes calculou a circunferência do planeta há mais de 2,2 mil anos. De quebra, forneceu a primeira evidência consistente, científica, que refutava a ideia da Terra plana.
Ele ouvira relatos curiosos sobre a cidade de Siene, no sudeste do Egito. Ao meio-dia do solstício de verão, 21 de junho no Hemisfério Norte, as colunas por lá não projetavam sombras, e a luz solar incidia diretamente nas águas de um poço que, no resto do ano, ficava na sombra. Foi investigar: fincou estacas de madeira de tamanhos iguais em Alexandria, às margens do Mediterrâneo, e em Siene, centenas de quilômetros mais ao sul, ao meio-dia do solstício.
Constatou que a primeira estaca projetava uma sombra acentuada, enquanto a segunda, como se sabia, não produzia sombra. “A única resposta era que a superfície da Terra é curvada”, explica Carl Sagan na série Cosmos. E não foi só isso. Conforme ele deduzira corretamente, o Sol fica tão longe de nós que os raios chegam paralelos.
Ele mediu uma diferença de 7,2° entre Siene e Alexandria, ou seja, um 50 avos de uma circunferência (360°). Pagou um coitado para que percorresse a pé a distância entre as cidades, determinada em 800 km. Aí bastou multiplicar 800 por 50 para estimar que, se esticássemos uma corda ao redor da Terra, ela mediria 40 mil quilômetros. O experimento simples errou por poucos quilômetros a medida.
COMO DERRUBAR CINCO BOBAGENS
Sim, a gravidade existe
Einstein e Newton estão do seu lado nessa
Respire fundo. É melhor não confrontar seu interlocutor com o conselho de Marcelo Gleiser: “Pede para eles se jogarem do alto de um prédio”. Claro que os terraplanistas precisam negar a existência da gravidade, pois, se não, a teoria deles não se sustenta. Literalmente. Não é à toa que a Terra e todos os outros corpos celestes de grandes proporções são esféricos — existe um negócio chamado centro de massa. A matéria ao redor vai sendo atraída na direção do núcleo e se distribui uniformemente em uma esfera, simplesmente por ser o formato em que toda a massa fica mais próxima possível do centro. Se a Terra fosse plana e seguisse essas regras, caminhar rumo às beiradas seria como subir uma ladeira cada vez mais íngreme. “Nas bordas do disco, no Brasil, por exemplo, sentiríamos uma força para o centro”, explica Marcia Barbosa.
A Antártida não é a muralha de GoT
E os pinguins não são militares disfarçados
Como o modelo da Terra plana implica que haja um “fim do mundo” e como nunca um navio desabou desse terrível penhasco, a interpretação dos negacionistas atribui à Antártida um papel não de continente, mas sim de uma muralha de gelo que delimita as bordas do disco. Por isso ninguém consegue chegar lá: a região é controlada por militares. “É meio triste que pessoas pensem assim”, lamenta Gleiser. De fato, é caro e difícil chegar lá, mas não impossível. Este repórter mesmo já teve a sorte de visitar a Ilha do Rei George, onde fica a base de pesquisa brasileira, russa e de outros países.
Vamos à praia
Que tal ficar a ver navios?
Terraplanistas insistem em dizer que o horizonte é sempre plano. Como explicam as fotos tiradas por astronautas da Estação Espacial Internacional ou capturadas a bordo de balões estratosféricos? São feitas com lente olho de peixe ou manipuladas, eles dizem. Bem, o fato é que a Terra é enorme e nós somos muito, muito pequenos. Por isso não é tão fácil perceber a curvatura. Mas leve um binóculo à praia e fique de olho em grandes embarcações bem distantes. Um adulto enxerga, em média, pouco menos de 5 km à sua frente — tudo que estiver além parecerá estar com a base afundada.
Que complô é esse?
Um globo serve a quem?
E aqui chegamos à cereja do bolo, que atesta, sem sombra de dúvidas, que a Terra plana não passa de uma grande teoria da conspiração. Para funcionar, ela precisa acusar a Nasa de sempre ter falsificado as fotos de suas missões — vale perguntar aos terraplanistas se sabem como era a tecnologia de computação gráfica na época das missões Apollo ou na década de 1950. Seria impossível forjar aquelas imagens. Além disso, precisam incluir no complô governos e empresas dos mais diversos setores, atuando em conjunto para esconder as supostas evidências de que a Terra é um disco achatado flutuando no espaço. Qual seria o objetivo? “Talvez proteger os interesses econômicos dos fabricantes de globo”, conjectura Marcia Barbosa.
O Sol e a Lua não se mudaram
Continuam bem longe
Outro requisito para que o modelo terraplanista funcione é que o Sol e a Lua sejam bem menores do que realmente são e estejam muito mais próximos de nós, a poucos milhares de quilômetros, girando em círculos sobre a Linha do Equador. Mas logo de cara percebemos alguns problemas: se a gravidade não existe, o que mantêm o Sol e a Lua no lugar e em movimento? E quanto aos eclipses e fases da Lua, produzidos por uma sombra redondamente esférica: quem a projetaria senão nosso planeta? Por um acaso, de tempos em tempos, Mercúrio e Vênus fariam ousadas incursões dentro do hipotético domo terrestre transitando em frente ao disco solar, como em maio de 2016?
Aquecimento global
Vinculado à humanidade pela ciência desde 1896
Desde os estudos do físico sueco Svante Arrhenius, no fim do século 19, sabe-se bem que gases como o CO2 retêm na atmosfera o calor que vem do Sol e impedem que parte dele escape para o espaço.
A partir do fim da última Era do Gelo, a concentração de CO2 na atmosfera manteve-se na casa das 280 partes por milhão (ppm). Mas nos últimos 150 anos, desde a Revolução Industrial, a queima de combustíveis fósseis fez esse número saltar para 407 ppm. Com os atuais 40 bilhões de toneladas de CO2 emitidos anualmente, a temperatura do planeta já subiu 1,1°C. Para coordenar a resposta política das nações e limitar o aquecimento a 2°C, a ONU criou em 1988 o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que compila pesquisas de milhares de cientistas e lança relatórios de como o clima está mudando. Já foram cinco até agora. “Para ter uma ideia, cada relatório tem em torno de 4,5 mil páginas, e olha que isso é uma síntese”, pontua Paulo Artaxo, que há 15 anos colabora com o IPCC.
Com relação aos negacionistas, Artaxo é categórico ao dizer que servem aos interesses econômicos das indústrias do combustível fóssil. “Tentam fazer uma campanha de desinformação, contestando uma ciência que é sólida há 150 anos”, afirma. “Ninguém contesta se a mecânica quântica é válida ou não.”
Tese premiada
Em 1884, Svante Arrhenius produziu uma tese de doutorado na Universidade de Uppsala que, duas décadas mais tarde, lhe renderia um Nobel de Química — fez avançar muito o conhecimento da época sobre como as partículas conduzem eletricidade em uma solução.
Nossa estufa
Como a atmosfera da terra retém o calor do sol
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Climão
Como foi a primeira pesquisa
Svante Arrhenius era formado em Física, mas tinha muito apreço pela Química. Acabou enveredando por áreas de pesquisa multidisciplinares que ainda nem tinham nomes à época, como físico-química, geofísica, bioquímica. Tinha uma curiosidade em especial: o que causa uma Era do Gelo?
Dedicou-se então a entender se a temperatura na superfície da Terra é influenciada pela presença de gases que absorvem calor. Calculou as taxas de absorção do dióxido de carbono (na época, chamado de ácido carbônico) e do vapor d’água. Os resultados da pesquisa foram publicados em um artigo em 1896, no qual analisa como variações na concentração dos gases provocariam flutuações na temperatura. Estimou que, se a quantidade de CO2 dobrasse (então estava em cerca de 300 ppm), o planeta esquentaria entre 5°C e 6°C.
Haja gás carbônico
Veja a evolução da concentração no ar
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COMO DERRUBAR 5 BOBAGENS
Culpa no cartório
Negacionistas dizem que mudanças climáticas não têm a ver com o homem
Prepare-se, leitor, pois essa é a principal linha de argumentação que os negacionistas usam: muitos reconhecem que o planeta está esquentando, mas afirmam que não temos culpa. A afirmação até é verdadeira (o clima muda naturalmente ao longo das eras), mas não é verdade que não estamos por trás disso.
Por um motivo simples: o principal mecanismo desencadeador de alterações no clima (a variação na concentração de gases do efeito estufa) é, hoje, ditado pelas atividades humanas — não mais por megaerupções vulcânicas, por exemplo. O mais preocupante é que, no passado, essas variações ocorriam mais gradativamente, dando à biosfera e aos ciclos naturais tempo para se adaptarem.
“Agora o fenômeno é diferente, é um curtíssimo espaço de tempo comparado ao tempo geológico. Estamos alterando a atmosfera muito rapidamente”, explica Paulo Artaxo. E os efeitos do aumento de CO2 vão muito além da elevação de temperatura. Derretimento de geleiras, crescimento do nível do mar, acidificação dos oceanos — os sinais estão por toda parte. Só não vê quem não quer.
Os seres vivos não vão se adaptar
Estamos rumo à extinção
Dizer isso é como sugerir a alguém ardendo em febre que vai se acostumar à temperatura alta. A natureza não se importa com nossas opiniões — ultrapassando os 41°C de febre, algumas enzimas essenciais deixam de funcionar, e você morre. Simples assim. Com a fotossíntese das plantas é igual. O aquecimento global é como uma febre planetária para todos os seres vivos. Pesquisas apontam que a sexta extinção em massa de espécies pode ocorrer ainda neste século. “Estudos mostram claramente o declínio de algumas populações de animais e plantas”, alerta Artaxo. A questão é: seremos capazes de medicar a febre da Terra antes que seja tarde?
Deixem o Sol em paz
Não há anomalia nas radiações
É sempre mais fácil achar que a culpa é do outro. Pois é o que fazem muitos céticos: acusam o Sol de passar por uma fase mais ativa, irradiando mais calor sobre nós. A hipótese é válida. Mas já faz quatro séculos que a atividade solar é monitorada. Instrumentos modernos medem com precisão a energia irradiada durante seu ciclo. Não foi verificada nenhuma anomalia. “As medições apontam que o aquecimento não pode estar atribuído ao fluxo de radiação solar”, afirma Artaxo. Fique frio, Sol: você foi absolvido.
O bloco dos cientistas
A maioria diz que, sim, as mudanças estão acontecendo
Veja bem, nossos treinadores têm um recado: “Mais do que 97% dos cientistas dizem que as mudanças climáticas já estão acontecendo e que são causadas pelo homem”, explica Paulo Artaxo. Nesse caso, o consenso tem valor. Pirula brinca que, quando toda a academia científica está contra meia dúzia de professores dissidentes, pelo menos o mais destacado desses supostos pesquisadores deveria ganhar um Nobel por suas teorias tão disruptivas. Como isso não acontece… Bom, eles estão falando besteira. “Esse professor que diz manjar dos paranauê fala que é Y, então 99 mil professores que dizem ser X não manjam dos paranauê?”, observa Pirula. “Não é meio arrogante?”
A conta do gelo antártico não fecha
Há mais derretimento do que ganho
Sim, algumas partes do continente antártico estão ganhando gelo. Isso acontece pois essas áreas estão recebendo mais precipitação em forma de neve nas últimas décadas, e esse gelo acumulado leva centenas de anos para se deslocar. Mas são casos pontuais — enquanto isso há geleiras gigantes rachando. “No geral, a Antártida está respondendo ao aquecimento perdendo gelo, embora em algumas regiões haja mais acúmulo”, diz Artaxo. Segundo o IPCC, mais de 147 bilhões de toneladas de gelo antártico se perdem todos os anos.
Vacinas
Eficácia comprovada pela ciência desde 1796
“A gente parou de morrer muito jovem por três razões: água limpa, antibiótico e vacinas”, afirma Jorge Kalil. Um dos imunologistas mais respeitados do Brasil, foi diretor do Instituto Butantan de 2011 até o início deste ano, órgão que, junto do Instituto Bio-Manguinhos/Fiocruz, produz boa parte das mais de 300 milhões de doses de vacina distribuídas gratuitamente todos os anos pelo SUS.
O Ministério da Saúde investe R$ 3,9 bilhões em vacinas anualmente. O país virou referência na área com o Programa Nacional de Imunização (PNI), implantado em 1973. De lá para cá, graças a essa política de Estado, ocorreram conquistas importantes na saúde pública no Brasil, como a erradicação da varíola em 1973 e da polio em 1989. Epidemias como a de sarampo e difteria estão contidas. Segundo o IBGE, entre 1997 e 2015, a mortalidade infantil caiu de 31,9 por mil nascidos vivos para 13,8.
“A vacina é muito eficaz, para ver basta não ser cego para os dados”, diz Kalil. Se a Organização Mundial da Saúde estima que de 2 a 3 milhões de vidas sejam salvas no mundo por ano graças à vacinação, o que explica o crescente movimento antivacinas? “O Brasil importou essa luta de alguns lugares dos EUA e da Europa. É um fenômeno que não chegou das pessoas menos educadas, pelo contrário, foram as mais educadas que importaram isso.”
Injeção de saúde
Vacinas estimulam as defesas naturais do corpo
Vacinas carregam formas atenuadas ou inativas das doenças. Após a aplicação, o corpo cria anticorpos contra os germes. No futuro, se preciso, os anticorpos estarão prontos para atacar.
Picadinha
Como nasceu a vacina
Em 1796, o médico inglês Edward Jenner coletou pus de uma camponesa infectada com varíola bovina e aplicou no braço do filho de seu jardineiro. O menino desenvolveu um pouco de febre e uma certa perda de apetite, mas logo ficou bom. Dois meses mais tarde, Jenner injetou varíola “de verdade” no garoto — que não pegou a doença. Nascia assim a vacina que, quase dois séculos mais tarde, proporcionaria a erradicação da varíola no mundo, em 1980.
Precoce
Edward Jenner aos 13 anos já era aprendiz de cirurgião em Bristol, no interior da Inglaterra. Inventou a primeira vacina da história após descobrir que mulheres que ordenhavam vacas eram imunes à varíola. O termo, inclusive, foi criado por ele — “vacina” vem do latim vaccinus, derivado de vacca.
País imune
Veja a evolução da vacinação para algumas doenças no Brasil
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COMO DERRUBAR 5 BOBAGENS
Não causam autismo
Boato partiu de um estudo fraudulento
Esse mito surgiu em 1998, quando o cirurgião britânico Andrew Wakefield publicou os resultados de sua pesquisa com a vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola – SCR) no renomado periódico The Lancet. Wakefield sugeriu que ela estaria provocando um aumento nos casos de autismo nas crianças.
A resposta foi imediata: a taxa de bebês menores que dois anos vacinados caiu abaixo dos 80% na Inglaterra. Mas, nos anos seguintes, investigações revelaram que Wakefield recebera dinheiro de um advogado que processava companhias fabricantes da SCR (ou seja, tinha interesse em prejudicá-las) e que o próprio cirurgião estava patenteando uma vacina de sarampo desenvolvida por ele. Em 2010, o The Lancet deletou o artigo e Wakefield teve a licença médica cassada. “Foi fraudulento, criminoso”, afirma o doutor Jorge Kalil. Pesquisas recentes nunca encontraram vínculo entre vacinas e autismo.
Sem medo de toxinas
Mito relacionado a mercúrio começou em 2005
Outro medo comum é de que vacinas contenham substâncias tóxicas à nossa saúde, como formaldeído, alumínio e mercúrio — que causa danos cerebrais. Essa história ganhou notoriedade nos EUA em 2005, com um artigo do advogado Robert F. Kennedy Jr. (sobrinho do ex-presidente Kennedy), no qual acusava o governo de ocultar evidências sobre os níveis de mercúrio nas vacinas. Mas nenhum estudo revelou tais evidências, já que esses elementos são usados só em casos pontuais, sem oferecer grandes riscos. “A vacina é derivada diretamente dos vírus que causam a doença”, afirma Kalil. “Mesmo em vacinas bacterianas, a toxicidade é muito baixa.”
Manter ameaças longe é trabalho constante
Batalha contra doenças nunca acaba
“Para que eu vou vacinar meu filho contra doenças que nem existem mais?” Essa questão é, segundo Jorge Kalil, o maior perigo para a imunização no Brasil hoje: as pessoas não veem mais doenças como sarampo, coqueluche, difteria, hepatite ou tétano por aí. Provavelmente só seus avós contraíram. Então é comum darem a batalha como ganha. Ledo engano. “Só desapareceram porque, com 80% a 90% da população vacinada, não há quem propague a doença”, explica Kalil. Basta que essa atitude se dissemine, essa taxa caia, para o retorno dos fantasmas do passado — e com eles milhares de vítimas.
Carga correta
Doses são adequadas para bebês
Muitos céticos criticam as aplicações de várias doses em um mesmo período — dizem que tomar tanta vacina de uma vez prejudica os mecanismos de defesa pouco desenvolvidos das crianças. “É um mito, não se sobrecarrega nada, estimula-se”, diz Kalil. Na verdade, em sua rotina normal, uma criança já lida com milhares de antígenos. Mesmo se todas as 19 vacinas oferecidas pelo SUS fossem aplicadas de uma só vez, ainda assim, estudos sugerem que menos de 0,5% do sistema imunológico do bebê seria comprometido.
Segurança é prioridade
Reações adversas são raras
“Isso é absolutamente absurdo”, afirma Kalil sobre o mito de que vacinas transmitem doenças. Algumas, como a da gripe, funcionam à base de vírus mortos (ou inativos). Outras, como a tríplice viral, contêm antígenos enfraquecidos (ou atenuados). “Reações adversas são raríssimas e muito bem estudadas”, assegura. A vacina da gripe é a que mais passa essa impressão. Por ser aplicada na troca de estação (abril e maio), período em que as variações de temperatura provocam o resfriado comum, acaba havendo essa confusão. Outra questão é que quem tomou a vacina já com o vírus no corpo, não tem tempo de evitar a gripe.
Leia a matéria original com ilustrações e infográficos.

Acadêmico lança primeiro livro da Rede Nacional de Ciência para Educação

livro_lent_edit.jpgSerá lançado no dia 5 de dezembro, em São Paulo, e no dia 8 de dezembro, no Rio de Janeiro, a obra “Ciência para Educação – Uma ponte entre dois mundos”. A publicação é a primeira da Rede Nacional de Ciência para Educação (Rede CpE), que tem como coordenador o Acadêmico e professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Roberto Lent.
A obra reúne 25 autores de 12 instituições públicas e privadas associadas à Rede CpE entre neurocientistas, psicólogos, economistas, cientistas da informação, fonoaudiólogos, psiquiatras, médicos, biólogos e linguistas. Roberto Lent assina a organização do livro junto com Augusto Buchweitz, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; e Mailce Borges Mota, professora da Universidade Federal de Santa Catarina.
A Rede CpE é composta por um grupo de mais de 100 pesquisadores brasileiros comprometidos em fazer ciência pensando na melhoria da educação no país. A Rede CpE conta com a parceria do Instituto Ayrton Senna, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) e do Museu do Amanhã.
“Os capítulos do livro refletem uma atualizada conceituação de como a ciência, em especial as neurociências e as tecnologias informacionais, podem impactar o desenvolvimento cognitivo e, consequentemente, a aprendizagem e o ensino para todos os níveis educacionais”, diz Roberto Lent.
“Este livro representa mais uma poderosa ação da Rede CpE que certamente ajudará a inspirar não apenas melhores políticas e práticas educacionais, mas também construir essa ponte tão necessária entre ciência e educação”, acrescenta o Acadêmico.
Entre os assuntos trazidos pela obra, estão temas como o desenvolvimento do cérebro ao longo do crescimento e seu papel no aprendizado; a importância da educação infantil; o aprendizado das palavras e a participação familiar no desenvolvimento da aprendizagem dos alunos; o ensino da matemática tendo como embasamento os fundamentos da neurociência e da psicologia cognitiva; os transtornos mais comuns que afetam o ensino, o papel das tecnologias na sala de aula, uma avaliação de corte econômico da educação infantil no Brasil e no mundo e as competências socioemocionais, atualmente um tema central nas discussões sobre aprendizagem e desempenho escolar.
Lançamento do livro
Em São Paulo, o lançamento do livro será na Livraria Cultura Bourbon-Shopping – Rua Palestra Itália, 500 – Piso 3 – Loja 211 Perdizes. Já no Rio de Janeiro, o evento será na Livraria Argumento – Rua Dias Ferreira, 417 – Leblon. Haverá sessão de autógrafos e bate-papo com organizadores da obra e autores dos textos a partir das 18h30.

Mistérios da matemática: Acadêmico Marcelo Viana participa de série do JN

viana-2.jpgDesde a música até a arquitetura dos pontos turísticos de nosso país. A matemática está presente em cada momento de nosso dia-a-dia e por vezes não nos damos conta de sua importância. A nova série do Jornal Nacional (JN) mostra, com a ajuda do Acadêmico e diretor do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) Marcelo Viana, onde essa complexa ciência pode estar escondida e explica algumas de suas curiosidades.
No primeiro episódio da série, Marcelo Viana usou uma apresentação de um quarteto musical para representar frações. O matemático explicou como a divisão de um mesmo compasso transforma o ritmo. A forma como as cordas de um instrumento vibra emitindo um som, que se modifica dependendo do ponto da corda que é tocado com os dedos, foi descoberta do matemático Pitágoras há cerca de 2.500 anos. “Quando você está com a corda completa, você tem uma nota com uma certa frequência. Na hora que você bota o seu dedo, o efeito é que a corda fica com a metade do comprimento, aí a frequência é o dobro”, explicou.
No episódio seguinte, Viana usa como o exemplo o bondinho do Pão-de-Açúcar, no Rio de Janeiro. Ele explica que a subida dele ao longo do morro só é possível graças à catenária, curva plana que permite a locomoção sem que o cabo que sustenta o bonde se quebre.
Além do famoso ponto turístico carioca, o arquiteto Miguel Pinto Guimarães, também entrevistado pelo JN, lembrou como foram pensadas as tradicionais ocas indígenas. Segundo ele, a curva que forma a moradia é a mesma da Catedral de Florença. “É intuitivo, porque é observação da natureza e a natureza é matemática”, concluiu Guimarães.
Para Viana, a matemática serve não apenas para explicar a beleza contida na natureza ou nas criações humanas, mas também para fabricar essas formas. “A matemática é a porta de entrada para beleza, para que nós possamos nos aperceber de tudo o que é lindo que está à nossa volta”, declarou o matemático.
Veja a matéria completa do primeiro episódio: notas musicais são números em movimento; e do segundo: antes da chegada dos europeus ao Brasil, índios já sabiam matemática.
Confira aqui a atualização sobre os próximos episódios que serão veiculados.

#MinhaCienciaEmUmTweet

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O movimento internacional #MyOneScienceTweet e #WhyMyScience, iniciado na quinta-feira, 9 de novembro, ganhou a versão brasileira: #MinhaCienciaEmUmTweet. Mais de 1.600 pessoas já aderiram à iniciativa.

A hashtag foi criada pelo Instituto Serrapilheira, que tem em seu conselho científico o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich, e o vice-presidente da Regional São Paulo da ABC, Oswaldo Luis Alves; além dos Acadêmicos Edgar Dutra Zanotto, Mayana Zatz, Cristina Maria Pinheiro de Campos e Étienne Ghys.
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A ideia da iniciativa é fazer com que os cientistas brasileiros resumam suas pesquisas em até 280 caracteres. O resultado tem sido bastante positivo, atraindo olhares para a questão da pesquisa científica no país. Participe você também!

Em busca de um mundo melhor

trip-11-17-capsula-do-tempo-materia11_edit.jpgO neurocientista Stevens Rehen, ex-membro afiliado da ABC (2007-2013), foi um dos palestrantes do evento “TripTransformadores: Cápsula do tempo”, que aconteceu na quinta-feira, 9 de novembro. A iniciativa é um movimento permanente de transformação, que visa criar um mundo mais inteligente, humano e equilibrado.
Além de Rehen, participaram da ação a filósofa e ativista Djamila Ribeiro; o diretor de marketing da Gol Mauricio Parise; a escritora e compositora Estrela Leminski; o diretor do Grupo Boticário, Arthur Grynbaum; o diretor do Vox Capital, Daniel Izzo; o diretor da Geekie, Claudio Sassaki; o diretor da AlmapBBDO, Luiz Sanchez; o navegador Amyr Klink; o cantor e compositor André Frateschi; a diretora da Microsoft Brasil, Paula Bellizia; a ativista cultural Nivia Luz; o rapper e poeta Rincon Sapiência; o diretor e roteirista da Academia de Filmes, Tadeu Jungle; a escritora e jornalista Milly Lacombe; o curador do Museu do Amanhã, Luiz Alberto Oliveira; a diretora de cinema e artista gráfica Joana Mendes da Rocha; o futurista e fundador da consultoria Oxumore, Jean Christophe Bonis.
Assista ao vídeo do encontro aqui.

Apoio à pesquisa vem de reality show acadêmico

realityshow_academico_copia_edit.jpgTrinta pessoas foram confinadas por 72 horas em um hotel na região metropolitana de Londres com o objetivo de ganhar 1 milhão de libras (cerca de R$ 4,3 milhões). A descrição pode lembrar um reality show, mas foi a maratona pela qual passaram cientistas do mundo inteiro em busca de financiamento para as suas pesquisas. E quem venceu a disputa foi um time liderado por um psiquiatra brasileiro.
Christian Kieling, professor de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ganhou a verba milionária depois de vencer o desafio de elaborar um projeto de saúde mental proposto pela organização britânica MQ.
Os 30 pesquisadores se reuniram durante três dias em um hotel em Hawthorne com a meta de formar grupos de acordo com as afinidades e elaborar uma proposta de estudo – uma espécie de “workshop de inovação” da área médica. Ao final, os times defenderam suas ideias para uma banca que definiu o destino do financiamento.
“Quando arriscamos, às vezes, corremos o risco de ganhar. Ao nosso lado havia uma mesa com pesquisadores de Harvard, de Yale, e eles ficaram em segundo lugar. Foi como ganhar um ouro olímpico em um esporte no qual o Brasil não tem tradição”, compara Kieling, em entrevista à BBC Brasil.
O pesquisador da UFRGS será um dos líderes do estudo, ao lado da psiquiatra Valeria Mondelli, do Kings College de Londres. O trabalho busca identificar indivíduos em risco de desenvolver depressão na adolescência. Além de Brasil e Reino Unido, o projeto também coletará informações na Nigéria e no Nepal, por meio de pesquisadores que se juntaram ao grupo durante o encontro na Inglaterra.
Alternativa para crise
O dinheiro chega em um momento de cortes profundos nos investimentos para a pesquisa científica no Brasil. Em 2013, último ano antes de as reduções começarem, o orçamento para Ciência e Tecnologia havia chegado a R$ 10,2 bilhões. Em 2017, o valor previsto é de R$ 3,2 bilhões, uma diminuição de 44% em relação ao ano passado.
O último edital universal do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), processo pelo qual são selecionados projetos de pesquisa para receber financiamento, distribuiu um valor de R$ 120 mil com vigência de 36 meses na faixa mais alta.
Trata-se de um montante 10 vezes menor do que receberá o braço brasileiro do estudo, capitaneado por Kieling. O cientista estima que cerca de um terço do total (em torno de R$ 1,4 milhão) será destinado à pesquisa no país.
“É impossível manter pesquisadores no Brasil com esses cortes”, aponta o físico da Universidade de São Paulo (USP) Paulo Artaxo Netto, membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e considerado um dos cientistas brasileiros mais influentes do mundo pela Fundação Thomson Reuters.
“O orçamento do ministério não está sendo reduzido por falta de dinheiro. O que está em jogo é um novo projeto de país, que vê a mão de obra qualificada e a inovação tecnológica como desnecessárias”, diz Artaxo, em entrevista à BBC Brasil.
Uma alternativa para evitar a debandada de cérebros é, como no caso de Christian Kieling, atrair recursos vindos do exterior, caminho ainda pouco usual no país. O psiquiatra espera que a conquista da verba britânica sirva de incentivo a outros cientistas brasileiros.
“O Brasil possui grupos fortes que, apesar das dificuldades internas, podem, sim, disputar recursos com centros mundiais de excelência”, diz o pesquisador, coordenador do Programa de Depressão na Infância e na Adolescência do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (ProDIA/HCPA).
Depressão em adolescentes
Intitulado IDEA, sigla em inglês para Identificando a Depressão Precocemente na Adolescência, o trabalho liderado por Kieling busca elaborar uma abordagem individualizada para detectar jovens com risco de desenvolver a doença.
“Em vários estudos já foram testadas estratégias de prevenção universal, por exemplo, com programas dedicados a todos os alunos de uma escola. Infelizmente, os resultados dessas pesquisas mostram que isso não parece ter muito benefício, pois o efeito se dilui”, aponta.
Estudos de prevenção voltados a indivíduos com risco elevado, por outro lado, têm se mostrado mais eficazes.
O novo estudo pretende selecionar inicialmente cem pacientes em Porto Alegre. Compostos por alunos da rede pública, o grupo será dividido em três: jovens com alta probabilidade de desenvolver depressão, um segundo grupo em que as chances são baixas em relação à população em geral e aqueles que já têm a doença.
O acompanhamento inclui exames de neuroimagem e coleta de sangue, para verificar marcadores inflamatórios que estariam relacionados à condição.
Conforme o estudo for avançando, os resultados dos quatro países envolvidos (Brasil, Reino Unido, Nigéria e Nepal) serão comparados para determinar o peso de fatores locais na equação. Prevista para começar oficialmente em abril de 2018, a pesquisa tem duração inicial de dois anos. Não está descartada, porém, sua continuidade depois desse período.
Mantida por doações de seus apoiadores, a MQ informou à BBC Brasil que continuará arrecadando fundos para investir nas novas ideias que se desenvolvam a partir de projetos como o IDEA.
“Queremos entender o fenômeno do surgimento da depressão, ainda no início da vida, para depois tentar reduzir seu impacto como a doença crônica que ela é”, diz Kieling.

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