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Dia Mundial do Meio Ambiente: afinal, o que vamos comemorar?

Comemora-se, de 1º a 5 de junho, a Semana Mundial do Meio Ambiente. No dia 5, por sua vez, celebra-se o Dia Mundial do Meio Ambiente, data estabelecida pela Organização das Nações Unidas na Assembleia Geral de 15 de dezembro de 1972. O fato ocorreu durante a Conferência de Estocolmo, cujo tema de abertura era “O Ambiente Humano”. Na base da iniciativa estava a visão expressa no documento “Defender e melhorar o meio ambiente para as futuras gerações”, propósito assinalado desde então como meta prioritária para a sobrevivência da espécie humana na Terra.

Nada mais natural, portanto, que um país megadiverso como o Brasil se alinhasse a esse movimento instituindo oficialmente a Semana do Meio Ambiente, por meio de um decreto governamental, de 1981. Medida louvável destinada a divulgar para a população a importância de preservar o meio ambiente e o que ele representa, não apenas para os brasileiros, mas para o mundo todo.

De lá para cá, essa tarefa tem sido cumprida por órgãos governamentais, instituições de ensino, empresas e organizações não governamentais. Pode-se dizer que, em escala razoável, disseminou-se a consciência de que a preservação do meio ambiente e da biodiversidade constitui um compromisso para com o patrimônio que a história legou ao País. É bom lembrar, também, que a conservação das nossas riquezas não é consenso fechado e há muita exploração ilegal, causando danos terríveis não apenas ao patrimônio genético perdido, mas especialmente ao meio ambiente e a nós humanos, principalmente.

Mas nesta quadra da vida brasileira, a Semana do Meio Ambiente ganha uma conotação política mais forte que de costume em razão da forma como vêm sendo tratadas as questões do setor e da área de ciência e tecnologia. Entre elas, trouxe particular apreensão para a comunidade científica a intenção do Governo Federal de nomear para a presidência do ICMBio (Instituto Chico Mendes para a Conservação da Biodiversidade) um profissional sem experiência e relevância acadêmica necessárias para estar à frente de um órgão importante de gestão da biodiversidade e meio ambiente.

Ao mesmo tempo, são muitas as informações vindas de pesquisadores e especialistas, dando conta dos retrocessos registrados em razão das alterações no Código Florestal. Assim como pela falta de empenho quanto aos compromissos firmados na Convenção da Diversidade Biológica (estabelecida durante a ECO-92), a não ratificação do Protocolo de Nagoya e a não participação de representantes do governo brasileiro em iniciativas internacionais como a IPBES (da sigla em inglês Intergovernmental Science-Policy Plataform on Biodiversity and Ecosystem Services)

Outra justificada fonte de preocupação são os desdobramentos da Lei 13.668/18, que trata da criação e gestão do fundo formado com recursos da compensação ambiental, que será responsável pelo financiamento das unidades federais de conservação. Hoje, inúmeros especialistas do campo científico perguntam-se que garantias a comunidade terá sobre o direcionamento e administração de recursos de tal fundo.

Mas, acima das questões pontuais, onde se constata uma gestão sem compromisso com o que foi conquistado nos últimos anos, há o plano mais amplo. É evidente a ausência de visão estratégica pela qual o País deixa de explorar suas riquezas no campo da bioeconomia, que cresce a passos largos nos países do eixo central, tornando-se cada vez mais importante.

Enquanto o mundo assiste a uma corrida de iniciativas e investimentos que buscam transformar a ciência da natureza em bens de uma nova economia, sustentável e em equilíbrio com o Planeta, continuamos inativos, ignorando oportunidades fantásticas. Esse “destino” se mostra tão mais sombrio quando se sabe que o País formou nas últimas décadas um considerável contingente de jovens pesquisadores e técnicos aptos a serem partícipes dessa corrida.

Que mensagem poderia expressar? Deixo aqui a última estrofe do samba lindo do zoólogo e compositor paulista, Paulo Emílio Vanzolini: “reconhece a queda e não desanima, levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima!” Tão habitual da vida brasileira, cantada em verso e prosa por grandes intérpretes nossos e que se perpetua nesta gente otimista.

Acadêmico lança livro sobre energias renováveis para o Brasil

O vice-presidente da ABC João Fernando Gomes de Oliveira (USP/São Carlos), em parceria com a engenheira ambiental e estudante de pós-graduação da Universidade de Toronto Tatiana Costa Guimarães Trindade, está lançando livro que avalia o desempenho das principais fontes de energias renováveis aplicáveis ao Brasil.

No livro, o Acadêmico descreve conceitos básicos de cada tecnologia, apresenta dados mundiais sobre seus usos e compara três fontes de energia – eólica, solar e hidroelétrica – em projetos reais implantados em dois estados brasileiros das Regiões Sul e Nordeste. A avaliação envolve aspectos econômicos, ambientais, sociais e tecnológicos.

Segundo Oliveira, “fica claro que, para cada situação envolvendo prioridades do investidor e localização do empreendimento, é possível ter uma solução ideal. Apesar disso, a energia eólica aparenta ser a vencedora na maioria dos casos envolvendo maiores capacidades instaladas”.

O também Acadêmico José Goldemberg foi o responsável por escrever o prefácio da publicação. Nele, ele compara a energia na sociedade moderna ao sangue em nossas artérias, ou seja, essencial. Além disso, destaca que “o objetivo deste livro é propor critérios que ajudem os investidores públicos ou privados a priorizar estes investimentos”.

Intitulado “Sustainability Performance Evaluation of Renewable Energy Sources: The Case of Brazil”, o livro foi lançado mundialmente e está disponível apenas em inglês. Você pode obtê-lo através dos links abaixo:

Sites Internacionais: Springer | Amazon | Libreria Universitaria | Bokus | Lehmanns

Site Nacional: Livraria Cultura

Curso de desenvolvimento de medicamentos com foco em estudos não-clínicos

O Centro de Inovação e Ensaios Pré-Clínicos (CIEnP), com o apoio do Departamento de Ciência e Tecnologia – Ministério da Saúde (DECIT-MS), ofertará o curso “Drug Development with Focus on Non-Clinical Studies” (Desenvolvimento de medicamentos com foco em estudos não-clínicos, em tradução para o português) no período de 20 a 24 de agosto de 2018.

O curso acontecerá na sede do CIEnP, em Florianópolis, Santa Catarina, e contará com a participação de diversos especialistas na área. Dentre eles, estão os Acadêmicos João Batista Calixto, Diretor-presidente do CIEnP e professor da UFSC, e Eliezer Jesus de Lacerda Barreiro, professor da UFRJ.

As inscrições são gratuitas – com limite de 50 participantes – e devem ser feitas através do e-mail inscricao@cienp.org.br, enviando um pequeno currículo (1 página) e uma carta de motivação.

Serviço
Curso “Drug Development with Focus on Non-Clinical Studies”
Data: 20 a 24 de agosto de 2018
Programa: aqui
Local: Centro de Inovação e Ensaios Pré-Clínicos – CIEnP.
Av Luiz Boteiux Piazza, 1302, Cachoeira do Bom Jesus, Sapiens Parque, Florianópolis – SC.
Inscrições: gratuitas e através do e-mail inscricao@cienp.org.br, com pequeno currículo e carta de motivação.

Pesquisa desenvolve biomaterial para implantes oculares

imagem_transplante.pngUm material vitrocerâmico capaz de devolver o volume perdido do globo ocular de pessoas portadoras de doenças como tumor, trauma ou glaucoma. Trata-se de uma tecnologia desenvolvida por pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp) no Laboratório de Materiais Vítreos (LaMaV) da UFSCar.

Segundo a UFSCar, a tecnologia foi patenteada e possibilitará a realização de cirurgias preservando maior quantidade de tecido ocular necessário para o ser humano.

O material foi desenvolvido pelos pesquisadores Oscar Peitl Filho e Edgar Dutra Zanotto, do Departamento de Engenharia de Materiais da UFSCar, e Silvana Artioli Schellini e Simone Milani Brandão, da Unesp. Zanotto é membro titular da ABC desde 1998.

Quando, por algum motivo de saúde, o conteúdo ocular é retirado de uma pessoa, sua visão é completamente perdida. Não é possível realizar intervenções para que o paciente volte a enxergar, mas é necessário substituir o volume do globo ocular afetado por um implante, preservando o convívio social do paciente sem o constrangimento de outras pessoas perceberem a cirurgia ou o uso da prótese.

No caso da nova tecnologia, uma das principais características é ser um material integrável, ou seja, capaz de criar adesão ao tecido macio do paciente e, com isso, oferecer menos risco de perda e deslocamento do implante intraocular. A adesão de uma cerâmica cristalina sintética aos tecidos moles (cartilaginosos) ainda não era possível até o surgimento desse material, denominado biosilicato.

A patente começou a ser pensada há cerca de oito anos, quando o grupo de pesquisa do Laboratório de Materiais Vítreos da UFSCar foi procurado por Brandão. Na ocasião, os pesquisadores desenvolveram geometria cônica para prótese ocular com dimensão proporcional ao globo ocular de um coelho, diferente do que existe atualmente, aplicando testes em 60 animais.

Os coelhos foram acompanhados por cerca de 180 dias para a verificação de adesão, estudo morfológico e celular da face com o implante e estudo sistêmico com a coleta de sangue durante os ensaios, além dos riscos de infecção, inflamação e análises patológicas. A pesquisa comprovou que o biomaterial adere aos tecidos macios, sem a ocorrência de extrusões ou problemas sistêmicos.

A partir dos resultados, foi desenvolvida uma prótese ocular para reposição do volume do globo ocular em face da retirada de tumores. A proposta de associar em uma prótese melhor adaptação cirúrgica, geometria compatível com o globo ocular humano (cônica em vez de esférica) e adesão singular aos tecidos oculares – em uma tecnologia nacional – resultou em um design inovador, sugerindo nova abordagem na área da oftalmologia.

Entre o tempo de confecção da prótese e a realização do procedimento cirúrgico – com coleta de pacientes, submissão em conselho de ética e aplicação dos testes – foram cerca de dois anos de pesquisa, além dos seis meses iniciais para a definição dos moldes, e mais um ano para a confecção e produção da primeira prótese com dimensões adequadas ao olho humano.

Os testes foram feitos nos hospitais universitários da Unesp, em Botucatu, e da Universidade de São Paulo (USP), na capital paulista, em 40 pacientes cegos, com o implante de prótese sólida e cônica, de geometria e peso proporcionais, e canais que servem de melhor ancoragem e adesão de tecidos, comprovando sua eficácia.

Segundo Peitl, pesquisador responsável pela tecnologia, atualmente a prótese mais utilizada para a substituição de olhos humanos é esférica, confeccionada com material plástico poroso (importado), cuja adesão permite que parte do tecido cresça dentro dos “poros”, fixando-a no corpo. As próteses oculares inertes e plásticas que não têm resposta bioativa se mantêm na posição, criando uma cápsula fibrosa.

Peitl explica que o organismo tem duas maneiras de responder a esse procedimento: “Necrosando o tecido daquela região, quando entende que o material é uma ameaça ao corpo humano, ou simplesmente encapsulando-o, quando entende que o material não faz mal e pode ser absorvido”.

Para a nova tecnologia, os pesquisadores desenvolveram canais ao longo da prótese cônica, com o objetivo de diminuir o peso, para obter melhor resposta biológica e aumentar a área de contato do implante com o hospedeiro e, assim, a adesividade entre eles.

Os pesquisadores tinham grande expectativa com relação ao desenvolvimento da prótese, mas os resultados superaram a viabilidade porque a aplicação não apresentou nenhum problema técnico. Além disso, Peitl ressalta que o design da prótese, com canais e geometria que contribuem para que o organismo não a recuse, foi o principal diferencial da tecnologia.

“Não tínhamos ideia do que íamos desenvolver quando começamos a falar em olhos humanos, mas havia a necessidade de um design diferenciado e essa foi a nossa proposta. Buscar soluções com equipe multidisciplinar tornou o nosso resultado fantástico, pois um profissional isolado não resolve problemas sozinho”, disse em comunicado da UFSCar.

O grupo aguarda o interesse de empresas que possam produzir a tecnologia em escala industrial, principalmente para pacientes do SUS, sendo também uma opção para o sistema de saúde privada com diferencial inovador e sem concorrentes no mercado.

Mais informações: www.saci.ufscar.br/servico_release?id=103403&pro=3.

Dinossauro ancestral de super-herbívoros pescoçudos é achado no RS

O interior do Rio Grande do Sul é uma das mecas do estudo dos seres vivos pré-históricos no Brasil — e acaba de ganhar mais um astro da Era dos Dinossauros. O bicho em questão é o Bagualosaurus agudoensis, membro do grupo dos sauropomorfos. As figuras mais icônicas entre esses dinos são as criaturas gigantescas, pescoçudas e herbívoras que as pessoas chamam popularmente de “brontossauros”; sim, você já brincou com um modelo de tais bichos quando era criança que eu sei, vai.

max-langer-foto.pngDescrito pelo trio Max Cardoso Langer (USP de Ribeirão Preto), Flávio Pretto (Universidade Federal de Santa Maria) e Cesar Schultz (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), o bicho ganhou esse nome porque um dos significados da palavra “bagual” em gauchês é “grandalhão” e porque ele é natural do município de Agudo. (Aqui no interior paulista a gente chama de “baguá”, “baguazão” o sujeito meio abobalhado. Viva a diversidade do português brasileiro.) Não se trata do primeiro fóssil importante a ganhar o nome “agudoensis“, aliás – há também o Sacisaurus agudoensis.

Grande, “bagual”, de fato o bicho era — ao menos para o período em que viveu, o Triássico, há uns 230 milhões de anos. Estima-se que passasse dos 2,5 metros de comprimento, o que, se não é nada perto das dezenas de metros que os sauropodomorfos acabaram alcançando com o tempo, é bem mais que a dos demais dinossauros seus contemporâneos, em geral bichos de tamanho modesto.

Seu outro diferencial é a especialização para se alimentar exclusivamente de plantas — de novo, em contraste com outros dinos primitivos, que eram onívoros, alimentando-se tanto de vegetais quanto de pequenos vertebrados e invertebrados. Em suma, quem quiser entender a origem dos dinossauros precisa beber um pouco de chimarrão no habitat natural de maragatos e chimangos.

Mais detalhes sobre a anatomia e a biologia do animal aparecem em artigo na revista científica Zoological Journal of the Linnean Society.

Kazuhiro Kosuge, engenheiro: ‘Uso de robôs como arma deve ser proibido’

materia_kazuhiro.pngKazuhiro Kosuge é especialista em engenharia mecânica e professor do Departamento de Bioengenharia e Robótica da Universidade de Tohoku, no Japão. Ele se dedica à área há 30 anos e veio ao Brasil para a Reunião Magna 2018, evento anual organizado pela ABC. Veja à entrevista concedida a Paulo Assada, do O Globo.

Conte algo que não sei.

O perigo que os robôs representam para algumas pessoas é coisa de ficção científica, histórias criadas por gente sem experiência profissional no campo. A inteligência artificial tem grande potencial, mas não é perfeita. Ela pode resolver apenas alguns problemas. Tarefas que envolvem julgamentos complexos, por exemplo, não podem ser feitas por robôs.

Quais os problemas éticos que emergem do uso dessa tecnologia?

Robôs com inteligência artificial sofisticada poderiam dar origem a dilemas éticos. Porém, ainda não nos deparamos com nada disso. Ainda. Construir um robô com as mesmas funções e capacidades de um humano não é algo realista. Pensando apenas no momento em que vivemos — e sendo bem realista — acredito que deveria ser proibido o uso dessa tecnologia como arma.

Existe necessidade de se pensar leis específicas para robôs?

Para aqueles que tenham finalidades bélicas, sim, será necessário criar uma legislação internacional específica. No entanto, em relação aos que podem operar em nosso cotidiano, é cedo demais para pensar em qualquer medida nesse sentido. Eles, primeiro, têm que se tornar realidade para, depois, avaliarmos. Não podemos pôr obstáculos antes mesmo que eles existam.

Em que a pesquisa que o senhor faz pode contribuir para a Humanidade?

O Japão é um país de idosos. O envelhecimento da população também deve acontecer em outras nações, inclusive no próprio Brasil. Nós, definitivamente, vamos precisar da ajuda de robôs nessas sociedades do futuro. Atualmente, estamos focando apenas na utilização dessa tecnologia voltada para o setor industrial. Mas o nosso dia a dia pode vir a contar com robôs. Eles podem possibilitar que as pessoas aproveitem melhor a vida. Um idoso, por exemplo, não vai precisar de um cuidador o tempo todo a seu lado. Isso é algo que pretendo fazer: criar um robô que possibilite viver a vida de forma independente o máximo que puder.

Mas a contrapartida dessa proliferação de autômatos não pode ser o aumento do desemprego?

Pensando no curto prazo, isso poderia, sim, acontecer. Mas, se as empresas e os governos não passarem a usar robôs, eles não conseguirão sobreviver. Eventualmente, perderíamos nossos trabalhos de qualquer forma, ou teríamos que pagar impostos cada vez maiores. É necessário encontrar a melhor maneira de usar inteligência artificial a nosso favor. Acredito que vamos conseguir solucionar essas questões.

Quais lições o senhor aprendeu ao pesquisar tanto tempo esse assunto?

Para trabalharmos a interação entre humanos e robôs, precisamos entender, primeiro, as interações de humanos com outros humanos. Portanto, para desenvolvermos esse tipo de trabalho é preciso entender melhor a nós mesmos.

Quais as dificuldades no desenvolvimento de tecnologias baseadas na interação humanos-robôs?

Temos ainda muitos desafios. Em relação à interação física, precisamos desenvolver robôs com uma pele que seja próxima à nossa e movimentos igualmente similares aos dos humanos. Há também a necessidade de que seja desenvolvido um modelo de inteligência artificial dotado de sistema sensitivo amplo. Nós mesmos temos diversas reações que não precisam de qualquer ato consciente para ocorrerem.

Precisamos incentivar meninas para carreiras de exatas desde a base, diz diretora do CNPq

No Brasil, as mulheres publicam praticamente a mesma quantidade de pesquisas científicas do que os homens. Elas são responsáveis por 49% da produção. Olhando assim, o ambiente acadêmico parece bem igualitário por aqui. Mas, quando se fala em publicações em áreas como computação e matemática, a participação das pesquisadoras mulheres cai para menos de 25%, segundo dados do relatório da Elsevier, apresentados por Adriana Maria Tonini, diretora de Engenharias, Ciências Exatas, Humanas do CNPq.

Para Adriana, o problema não é a falta de investimento no nível universitário. “Precisamos de mais investimento na base. O problema não é na universidade, vem de antes. Temos de incentivar as meninas de 6 e 7 anos a estudar matemática e exatas, mostrar a elas que há espaço para mulheres nessa área, sim”, afirmou ela durante o Congresso Nacional de Liderança Feminina (Conalife), realizado pela ABRH-SP, em 24 de maio, em parceria com a ONU Mulheres.

Miriam Harumi Koga foi um exemplo disso na prática. Com apenas 18 anos, ela foi a primeira a ser aplaudida de pé pela plateia durante o Conalife 2018. A medalhista de ouro na IX Olimpíada Latino-Americana de Astronomia e Astronáutica — e em várias outras olimpíadas de exatas — contou um pouco de sua história nos estudos. Falou sobre a importância de ter tido o incentivo da família e da escola para se encaminhar para a área de exatas. Miriam participa de olimpíadas acadêmicas desde o ensino fundamental, e diz que é claro o quanto a participação de garotas nas competições de exatas cai com o passar dos anos. “O que falta é incentivo, e incentivo desde os primeiros anos”, disse ela a uma plateia emocionada.

Dividindo o painel com Adriana, estavam mulheres bem sucedidas no mundo das ciências. Sonia Guimarães, professora adjunta de Física do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), falou sobre os desafios de ser mulher e negra na ciência. “É mais do que mérito, é dar oportunidade para que as mulheres entrem”, afirma.

thaisa.jpg Thaisa Storchi Bergmann [membro titular da Academia Brasileira de Ciências], astrofísica e ganhadora do Prêmio Internacional L´Oréal-Unesco para Mulheres na Ciência, também compartilhou sua história. “É comum me perguntarem por que eu resolvi seguir a carreira científica. Eu me perguntei e a única resposta que encontrei é que foi por pura curiosidade, a curiosidade que a gente tem como criança, e isso por alguma razão não foi tirado de mim”, afirma.

Ela falou também sobre a dificuldade de trabalhar com pesquisa ao mesmo tempo em que cuidava dos filhos. Em uma delas, ela tinha um turno de observação em um dos maiores telescópios do mundo, mas estava amamentando o último filho. A solução foi levá-lo junto, e convencer a equipe do observatório a encontrar uma solução para isso.

Estudante da USP-São Carlos organiza crowdfunding para iniciação científica

Que os hospitais públicos brasileiros não primam pela qualidade e eficiência no atendimento todo mundo sabe. Aliás, problemas na gestão hospitalar são recorrentes em outros países também.

A estudante de engenharia de produção da Universidade de São Paulo (USP-São Carlos) Raquel Yoshida pesquisa métodos de gestão hospitalar aplicados em diversos países que otimizaram – e muito – o atendimento à população. Em seu projeto de iniciação científica, ela planejou visitar alguns hospitais que aplicam esta metodologia em Boston, Massachussets, nos EUA. Isso porque sua universidade tem uma parceria com a Bentley University, localizada naquela cidade.

Mas para obter os recursos necessários, já que as vias usuais de aplicar para uma bolsa de estudos andam obstruídas, ela apelou para um plano B: organizar um crowdfunding, isto é, uma vaquinha virtual para obter os R$ 12.459,00 que precisava.

A iniciativa foi muito bem sucedida: sua campanha já arrecadou R$ 12.741, mais do que o previsto.

O vice-presidente da ABC, João Fernando de Oliveira, professor da USP-São Carlos, comentou o sucesso do empreendimento. “Dada a crise de financiamento na ciência e a falta de sensibilidade do governo para o valor que esses estudos tem para nossa sociedade, a aluna, que acredita muito em seu projeto, mostrou ser inovadora ao conseguir recursos de crowdfunding. Aliás, essa soluçao inagura uma nova possibilidade de fomento onde as pessoas encontram diretamente doadores interessados em apoiar ideias. A equipe envolvida está de parabens pela ideia e excelente execução. É incrível, mas observo que foi mais fácil e rápido o crowdfunding do que o pedido de bolsa para uma agência de fomento.”

Conheça aqui o projeto de Yoshida, apresentado numa interessante animação, e entenda a proposta do grupo de pesquisa da USP-São Carlos em “Gestão hospitalar: grande campo de pesquisa-ação”.

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