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SBPC recebe Medalha Tiradentes na Alerj

O Deputado Estadual Comte Bittencourt convidou a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) para receber a Medalha Tiradentes. A cerimônia ocorreu no Palácio Tiradentes, sede da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), no dia 12 de junho de 2018.

Estiveram presentes os Acadêmicos titulares Eliete Bouskela, Vitor Francisco Ferreira, Jerson Lima da Silva, Lucia Mendonça Previato, Ronald Shellard, Otavio Guilherme Cardoso Alves Velho, Carlos Alberto Aragão, Luiz Pinguelli Rosa, Débora Foguel, Alexander Kellner e Rodrigo Correa Oliveira. O membro afiliado Fernando de Carvalho da Silva também participou do evento.

Ronald Shellard, diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), lembrou que a ciência ainda é jovem no Brasil e destacou o papel fundamental da SBPC em seguir mobilizando a juventude para aderir ao mundo científico. Aspásia Camargo, subsecretária de Planejamento e Gestão Governamental da cidade do Rio de Janeiro, completou a fala de Shellard ao solicitar ao Deputado Comte a criação de uma oportunidade para juntar jovens cientistas na Alerj.

Lucia Previato, vice-presidente da regional Rio de Janeiro da ABC, ressaltou a consciência social da instituição homenageada e disse que as duas entidades (ABC e SBPC) juntas lutam para que o Brasil não perca o que já conquistou no desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação. “O Brasil não pode perder tempo; isso será fatal para o progresso da ciência”.

O presidente de honra da SBPC, professor Otávio Velho, ressaltou a importância da SBPC na criação das Fundações de Amparo à Pesquisa nos estados da Federação, e, em particular, da SBPC-RJ, colaborando com a entidade em escala nacional, por exemplo, com a criação do projeto Ciência Hoje.

Por fim, Ildeu de Castro Moreira, presidente da SBPC, agradeceu às homenagens prestadas e fez uma breve retrospectiva histórica da instituição, dando destaque a momentos de luta contra a ditadura e contra as ações governamentais com a ciência. “Recurso para Ciência & Tecnologia e educação não é gasto, é investimento”, defendeu.

Rede CpE promove encontro de pesquisa em São Paulo

O I Encontro Anual da Rede Nacional de Ciência para Educação vai reunir pesquisadores de diferentes área do conhecimento para debater como a ciência pode ajudar a educação em temas como educação especial, novas tecnologias, competências socioemocionais, ensino de matemática e mais.

Entre os destaques, a palestra de abertura com a pesquisadora norte-americana Susan Levine (Universidade de Chicago) “Fatores cognitivos e emocionais para o desenvolvimento matemático e espacial/ Early mathematical and spatial development: Cognitive and emotional factors“.

O evento vai contar com apresentação de pôsteres e está aberta a submissão de trabalhos.

Serviço
Datas: 2 a 4 de agosto
Local: Novohotel Morumbi, São Paulo
Inscrições e mais informações aqui.
Evento no Facebook:
https://www.facebook.com/events/452252155245063/

Nova esperança no combate à malária

Um artigo publicado no Journal of Medicinal Chemistry, da autoria de um grupo de pesquisadores brasileiros, com participação de docentes e pesquisadores do IFSC/USP, do Instituto de Química da Unicamp e da Faculdade de Farmácia da USP, dá a conhecer a descoberta de derivados de produtos naturais marinhos com atividade contra o parasita. *Dentre os autores estão os Acadêmicos Glaucius Oliva (IFSC-USP) e Célia Regina da Silva Garcia (IB-USP).

Nesse trabalho, que contou com apoio financeiro da Fapesp, CNPq e Instituto Serrapilheira, foi avaliada a atividade inibitória dessas moléculas contra o parasita, tendo-se realizado um estudo focado em melhorar a potência em matar o parasita e, ao mesmo tempo, manter baixa a propriedade tóxica contra células saudáveis.

Esses estudos permitiram a descoberta de novas moléculas com potência aprimorada e baixa toxicidade. O composto mais potente identificado é um inibidor de ação rápida com atividade contra a forma do parasita que se localiza no sangue e fígado do paciente. Além disso, a molécula mostrou um efeito aditivo, quando testada em combinação com o medicamento padrão para o tratamento da malária (ex. artesunato), ou seja, a combinação com o fármaco padrão, aumentou a capacidade de inibição do crescimento do parasita.

Por fim, a molécula foi testada em modelo animal da doença, no qual foi possível verificar que todos os animais sobreviveram após o tratamento e, além disso, a molécula desenvolvida neste estudo foi eficaz em reduzir a infecção nos animais.

Todos esses dados indicam que a molécula derivada de produto natural marinho tem potencial para ser uma nova alternativa para o tratamento da malária.

materia_malaria.pngAs próximas fases do estudo incluem o melhoramento de propriedades químicas e biológicas dessa molécula, de modo que ela possa ser segura e eficaz no tratamento do paciente com malária.

A malária é um problema de saúde pública global que apresenta altas taxas de mortalidade, principalmente em países do continente africano. A doença é causada por um parasita chamado Plasmodium.

Em 2016, a doença matou 445.000 pessoas, número que equivale a 1 morte por minuto, sendo que a grande maioria dessas mortes foram crianças com menos de 5 anos de idade.

No Brasil, em 2016 foram reportados 118 mil novos casos de malária e em 2017 esse número aumentou para 175 mil casos, ou seja, um acréscimo de cerca de 50%.

Neste cenário, novas formas de tratamento são extremamente necessárias.

Esse trabalho foi o resultado de uma parceria entre os pesquisadores do IFSC/USP, Profs. Glaucius Oliva e Rafael Guido, Dra. Anna Caroline C. Aguiar, Me. Guilherme E. de Souza e Me. Mariana Lopes Garcia; do Instituto de Química da UNICAMP, Profs. Carlos Roque D. Correia e José Luiz Costa, Dra. Michele Panciera, e Me. Eric F. S. dos Santos; e da Faculdade de Farmácia da USP, Profa. Célia Regina da Silva Garcia, Dra. Myna Nakabashi e Me. Maneesh Kumar Singh.

Evolução ou retrocesso?

roitman.jpg Leia o artigo do Acadêmico Isaac Roitman, professor emérito da Universidade de Brasília e membro do Movimento 2022 O Brasil que queremos, publicado no Correio Braziliense em 12/6:

Evolução significa aperfeiçoamento, crescimento ou desenvolvimento de uma ideia ou de um sistema. A evolução biológica consiste na mudança das características hereditárias de grupos de organismos ao longo das gerações. Na biologia, a evolução pode prejudicar ou beneficiar as espécies, e embora a palavra evolução muitas vezes esteja relacionada com progresso, no sentido biológico não existe esta conotação. Filosoficamente, representa uma alteração progressiva de um ser ou de um sistema em direção a um estado final. Na política, remete a um melhoramento gradual de parâmetros sociais, econômicos e políticos de uma sociedade.

A teoria da evolução – darwinismo – indica que a multiplicidade de seres vivos existentes atualmente é fruto da modificação lenta e progressiva de algumas espécies. Essa teoria surgiu no século 19 devido aos estudos de Charles Darwin e Alfred Wallace. Segundo essa teoria, o homem atual – Homo sapiens – é o resultado da evolução de espécies mais antigas como o Homo erectus. Sobre essa teoria, que é antagônica ao criacionismo, Sigmund Freud escreveu: “Ao longo do tempo, a humanidade teve de suportar dois grandes golpes em sua autoestima. O primeiro, foi constatar que a Terra não é o centro do Universo. O segundo, ocorreu quando a biologia desmentiu a natureza especial do homem e o relegou à posição de mero descendente animal”.

No reino animal, somos um dos seres que demoram mais tempo para construir a independência e autonomia para as necessidades vitais. Lentamente, já adultos, construímos uma visão de mundo. No entanto, certas perguntas, que todos fazemos em alguma fase de nossa vida – de onde viemos, qual o significado da vida, para onde vamos -, não têm uma resposta definitiva. Ficamos então inseguros, pois é preciso ter algo em que acreditar para dar suporte a nossa existência. Algumas pessoas têm a religião como suporte absoluto. Outras encaram a vida se apegando ao ceticismo materialista. Algumas enveredam na política e agem orientadas por uma ideologia. Outras são simples espectadoras e mergulham em uma vida passiva, guiadas por valores equivocados difundidos pela mídia e por falsos profetas.

Viver não é ciência exata, é a arte de fazer escolhas. O principal objetivo da vida de cada um é conquistar a própria felicidade e ser um cúmplice na construção da felicidade coletiva. Os problemas humanos têm sua base no modelo e na forma dos relacionamentos. Uma boa fórmula é ter a satisfação das necessidades ao seu alcance, reduzindo os seus desejos. Na dimensão individual, temos um prazo de validade. Porém, como espécie, podemos ter perenidade se aprendermos a respeitar e administrar os limites de nosso planeta.

Infelizmente, apesar do alerta de grandes pensadores e humanistas, não tivemos sucessos em evitar guerras, em extinguirmos a injustiça social e universalizar a ética nas relações humanas. Estamos em uma encruzilhada. Se a raça humana não se aperfeiçoar minimizando a sua maldade, sua mesquinhez, seu individualismo e ignorância, ela também não sobreviverá. A preservação do planeta para as próximas gerações é prioritária. É preciso ter a consciência de utilizar os recursos naturais com equilíbrio, entender o valor da preservação ambiental, para que o planeta proporcione qualidade de vida no presente e para as futuras gerações. As atitudes, a educação, as ações e a conscientização devem ser as armas para a preservação. Ser ambientalmente responsável é promover a união harmônica entre o desenvolvimento econômico e social do homem com a natureza.

Além disso, precisamos, de uma vez por todas, conquistar a paz global. O mundo de nossos dias é ameaçado pelo colapso e a destruição. Já temos armas de sobra para cometer essa insanidade. Vivemos num mundo com violências, injustiças, desigualdades e inversões de valores. É preciso conquistar mentes e corações e estabelecer novos paradigmas para termos um mundo novo, com amor e arte que tornam a existência tolerável. Somos todos responsáveis pelo futuro do Brasil e da humanidade. É pertinente lembrar o pensamento de Immanuel Kant: “Toda a reforma interior e toda a mudança para melhor dependem, exclusivamente, da aplicação do nosso próprio esforço”. Vamos evoluir na direção certa. Vamos construir um Brasil onde o fazer político não seja sinônimo de corrupção. Vamos construir um sistema de educação de qualidade para todas as crianças brasileiras. Vamos erradicar a injustiça social. Vamos todos ser cúmplices de uma evolução virtuosa e dizer não ao retrocesso.

Acadêmico será um dos palestrantes principais do Congresso IEEE WCCI

A capital do Rio de Janeiro vai receber o Congresso Mundial de Inteligência Computacional do IEEE (IEEE WCCI, na sigla em ingês), que acontecerá de 8 e 13 de julho, no Windsor Convention Center, na Barra da Tijuca. Entre os temas que serão debatidos no IEEE WCCI, destaca-se a robótica, games, machine learning, algoritmos, big data, biomedicina e inteligência da computação.

miguel_nicolelis_materia.pngConhecido por aliar robótica e neurofisiologia, o neurocientista brasileiro e professor da Duke University, nos EUA, Miguel Ângelo Laporta Nicolelis está entre os palestrantes principais do evento. Com o tema “Interfaces cérebro-máquina: da ciência básica à reabilitação neurológica”, Nicolelis vai tratar da relação entre modelos computacionais, neurônios, braços robóticos e fisiologia.

O congresso é formado pela junção de três grandes conferências: IJCNN 2018 (The International Joint Conference on Neural Networks), na área de redes neurais, IEEE CEC 2018 (The IEEE Congress on Evolutionary Computation), sobre computação evolucionária, e FUZZ-IEEE 2018 (The IEEE International Conference on Fuzzy Systems), que aborda sistemas fuzzy, e vai reunir os maiores pesquisadores mundiais em cada uma das áreas.

“A comunidade científica brasileira fica fortalecida internacionalmente ao participar de um evento deste porte. Esta é a primeira vez que uma cidade latino-americana sedia IEEE WCCI, sendo uma oportunidade única de se atualizar entre os mais importantes pesquisadores mundiais em inteligência computacional”, reforça a professora Marley Vellasco, do Departamento de Engenharia Elétrica do Centro Técnico Científico da PUC-Rio (CTC/PUC-Rio), que divide a coordenação do IEEE WCCI com o Prof. Pablo Estevez, da Universidade do Chile.

A programação se encontra neste link e as inscrições podem ser feitas neste link.

Prêmio Fundação Bunge anuncia temas de 2018

Neste ano, o Prêmio Fundação Bunge, criado em 1955 para incentivar a inovação e a disseminação de conhecimento, homenageará profissionais da área de Ciências Agrárias, com o tema “Serviços Ambientais Para o Agronegócio”, e da área de Letras, com o tema “Literatura Infantojuvenil”.

As indicações para cada área serão feitas pelas principais universidades e entidades científicas e culturais brasileiras até o dia 30 de junho. Em seguida, Comissões Técnicas compostas por especialistas em cada área de premiação irão avaliar e escolher os homenageados com o prêmio deste ano. Os contemplados serão conhecidos em agosto e a cerimônia de entrega da 63º edição do Prêmio Bunge e 39º do Prêmio Fundação Bunge Juventude acontecerá em novembro.

O Prêmio Fundação Bunge é concedido anualmente com a proposta de reconhecer os profissionais que contribuem para o desenvolvimento da cultura e das ciências no Brasil, além de estimular novos talentos. A premiação homenageia dois profissionais de cada uma das áreas de atuação reconhecidas, totalizando quatro contemplados: dois na categoria Vida e Obra e dois em Juventude (pesquisadores com até 35 anos de idade).

Desde a sua criação, quase 200 personalidades já foram premiadas, entre elas os escritores Jorge Amado e Ruth Rocha, o arquiteto Oscar Niemeyer, o médico e pesquisador Carlos Chagas Filho, o engenheiro agrônomo Eurípedes Malavolta e o cientista político Fernando Abrucio.

Em 2017, na categoria Vida e Obra, a premiação foi concedida ao agrônomo mineiro Alysson Paolinelli e à gaúcha Cláudia Marques, especialista em Direitos do Consumidor. Na categoria Juventude, foram contemplados o engenheiro paulista Marcelo Loureiro e o gaúcho Ivar Hartmann, especialista em Direito Público.

Sobre a Fundação Bunge
A Fundação Bunge, entidade social da Bunge Brasil, há mais de 60 anos atua em diferentes frentes com o compromisso de valorizar pessoas e somar talentos para construir novos caminhos. Suas ações estabelecem uma relação entre passado, presente e futuro e são colocadas em práticas por meio da preservação da memória empresarial (Centro de Memória Bunge), do incentivo à leitura (Semear Leitores), do voluntariado corporativo (Comunidade Educativa), do desenvolvimento territorial sustentável (Comunidade Integrada) e do incentivo às ciências, letras e artes (Prêmio Fundação Bunge).

Lançada pedra fundamental de Reator Multipropósito

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No dia 8 de junho, o Centro Experimental ARAMAR (CEA), localizado em Iperó, São Paulo, recebeu a cerimônia de lançamento da pedra fundamental do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB) e do início dos testes de integração dos turbogeradores do Laboratório de Geração de Energia Nucleoelétrica.

O evento contou com a presença de vários representantes do governo, como o presidente Michel Temer e o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) Gilberto Kassab, e da comunidade científica, como a presidente da SBPC e também Acadêmica da ABC, Helena Náder, e o presidente da Finep, Marcos Cintra.

A Academia Brasileira de Ciências se fez presente na cerimônia com a participação do presidente da instituição, Luiz Davidovich. Em 2010, Davidovich foi o secretário-geral da 4° Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, evento que apoioi diversos projetos, dentre eles o projeto do Reator Multipropósito. Ainda que oito anos depois, “é gratificante ver o projeto ser finalmente iniciado”, comentou.

O RMB garantirá a autossuficiência do Brasil na produção de radioisótopos, que servirão de insumo para a fabricação de medicamentos para tratar doenças nas áreas de oncologia, cardiologia, hematologia e neurologia. “Hoje, somos obrigados a importar fármacos para combater várias doenças, principalmente o câncer. O tratamento fica mais complicado e, naturalmente, mais caro, porque o país depende de fornecedores estrangeiros”, disse o presidente. Com o reator, o Sistema Único de Saúde (SUS) aumentará o número de atendimentos de câncer e reduzirá custos de tratamento.

Para o presidente da ABC, “este é um momento especial para a ciência brasileira, com a ampla possibilidade de aumento de conteúdo nacional para, por exemplo, a cura de doenças”.

Trajetória de José Goldemberg é homenageada por expoentes da ciência

materia_goldemberg.pngNão há melhor maneira de celebrar uma data importante no meio acadêmico do que a organização de um simpósio científico. E foi pensando em homenagear os 90 anos do físico José Goldemberg, presidente da Fapesp – completados no dia 27 de maio de 2018 –, que se estruturou a programação da V Conferência Regional sobre Mudanças Globais, realizada no Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE-USP) nos dias 5 e 6 de junho.

“A reunião foi organizada em torno das três áreas em que o professor Goldemberg teve atuação expressiva ao longo da carreira: energias renováveis para o desenvolvimento; florestas tropicais e sustentabilidade; e negociações internacionais para o combate às mudanças climáticas”, disse o Acadêmico Pedro Leite da Silva Dias, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG-USP), ex-aluno de Goldemberg e presidente da comissão organizadora do evento.

“Ele aceitou a homenagem com a condição de que o programa olhasse para o futuro, ou seja, buscasse apontar soluções para os grandes desafios que serão enfrentados por nossa sociedade nos próximos anos, com ênfase na transferência do conhecimento para auxiliar na formulação de políticas públicas”, disse.

Além dos painéis científicos, o programa contou ainda com uma série de depoimentos sobre a trajetória de Goldemberg, apresentados em uma sessão solene realizada no auditório da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, na USP, na tarde de quarta-feira (06/06).

O primeiro a falar foi Tércio Ambrizzi, coordenador do Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Mudanças Climáticas (NapMC-Incline) e também Acadêmico. “Pensar em mudanças climáticas é pensar em interdisciplinaridade. O tema agrega vários setores da sociedade como saúde, oceanos, produção de alimentos, economia e outros. E quando pensamos em interdisciplinaridade fica claro que temos de pensar na figura do professor Goldemberg, pois ele representa exatamente isso. Trabalhou muito tempo com energia, mas voltado às mudanças climáticas e sempre comunicando a ciência para a sociedade e para os tomadores de decisão”, destacou.

A trajetória acadêmica do presidente da Fapesp teve início ainda nos anos 1940, quando graduou-se em Física pela USP. Na década seguinte, dedicou-se às pesquisas em física nuclear e concluiu o doutorado sob a orientação de Marcelo Damy, a quem auxiliou na instalação do acelerador de elétrons Betatron – primeiro equipamento do tipo no Brasil.

Entre os anos de 1962 e 1963 trabalhou como professor visitante da Stanford University, nos Estados Unidos. Prestes a retornar ao Brasil, recebeu de presente de seus anfitriões o acelerador nuclear que até então era usado na universidade norte-americana e seria substituído por um novo. Na época, o equipamento valia cerca de US$ 1 milhão. Foi desmontado, transportado para São Paulo e remontado no Instituto de Física da USP.

“Acho que eles gostaram do meu trabalho e me deram o acelerador para que a parceria pudesse continuar mesmo à distância”, comentou Goldemberg em entrevista à Agência Fapesp.

Um de seus dois principais orgulhos acadêmicos foi o convite recebido em 1963 da Universidade de Paris, na França, para se tornar professor permanente da instituição. “O decreto de nomeação foi assinado pelo general Charles de Gaulle”, disse.

Por motivos pessoais, Goldemberg decidiu retornar ao Brasil. A partir dos anos 1970, começou a se interessar pelo tema das energias renováveis, chegando a publicar na revista Science um artigo no qual calculou a quantidade de energia consumida por três plantas – mandioca, sorgo-doce e cana de açúcar – para produzir o etanol, mostrando a eficiência da cana na comparação.

Seus estudos na área resultaram em outro grande orgulho acadêmico: a indicação para o Prêmio Zayed de Energia do Futuro (Zayed Future Energy Prize) na categoria Life Achievement, concedido por uma fundação ligada ao governo dos Emirados Árabes Unidos – grande exportador de petróleo – a profissionais de destaque na área de energia renovável (leia mais em: http://agencia.fapesp.br/16767/). Pela primeira vez foi premiado um cientista ligado à área de bioenergia.

Na década de 1980, o engajamento político de Goldemberg ganhou corpo, bem como sua atuação na administração pública. Presidiu a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Companhia Energética de São Paulo (Cesp), a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), a Eletricidade de São Paulo S/A (Eletropaulo) e a Companhia de Gás de São Paulo (Comgas).

Para Jacques Marcovitch, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-USP), o que destaca a trajetória do professor Goldemberg é a associação que ele faz entre conhecimento e ação.

“Começou a vida profissional na busca pelo conhecimento, foi o período em que passou pesquisando e publicando artigos. Depois que assumiu a presidência da Sociedade Brasileira de Física e da SBPC, começou a perceber as expectativas da sociedade e a fazer uma ponte entre o conhecimento e a ação, mas sempre buscando a ação que alimenta o conhecimento”, destacou.

Como reitor na USP, entre 1986 e 1989, Goldemberg atuou na defesa da autonomia das universidades paulistas.

“A experiência na administração pública me permitiu ver com clareza a necessidade de assegurar a autonomia financeira da universidade e conquistamos, junto com reitores da Unicamp e Unesp, em 1989, essa condição essencial para permitir o mínimo de agilidade e capacidade de planejamento. Com esse atestado de maioridade conferido pelo governo do Estado de São Paulo às universidades foram criadas as condições para o salto de qualidade nos trabalhos científicos. Um exemplo foi a criação do Instituto de Estudos Avançados (IEA), espaço privilegiado para a interdisciplinaridade e formulação de políticas públicas”, disse Goldemberg durante a sessão em sua homenagem.

Goldemberg também recebeu o prêmio Volvo Meio Ambiente (2000), o KPCB Prize for Greentech Policy Innovators (2007) e o Blue Planet Prize da Asahi Glass Foundation, Japão (2007). Foi selecionado pela revista Time como um dos 13 “Heroes of the Environment in the category of Leaders and Visionaries”, em 2007. Recebeu o Trieste Science Prize da Academia de Ciências do Terceiro Mundo (TWAS), em 2010. Em 2014, foi condecorado com o prêmio “Guerreiro da Educação – Ruy Mesquita”, concedido pelo CIEE – Centro de Integração Empresa Escola e o jornal O Estado de São Paulo. Em 2015, recebeu o prêmio da Fundação Conrado Wessel.

Atuação internacional
Vahan Agopyan, reitor da USP, lembrou de outras importantes conquistas obtidas durante a gestão de Goldemberg à frente da universidade: a mudança no estatuto, que acabou com as cátedras, implantou as pró-reitorias e modernizou a gestão da instituição; o empréstimo concedido pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) que possibilitou modernizar a infraestrutura do campus; e a introdução de avaliações periódicas do sistema acadêmico.

“O professor Goldemberg conseguiu demonstrar que com força de vontade e dedicação é possível modificar as estruturas vigentes e melhorar o nosso país. Nós, da USP, agradecemos sua dedicação. Como brasileiro, tenho orgulho de ter um compatriota com a sua competência e seu idealismo de acreditar que as coisas podem ser melhores e que temos responsabilidade nisso”, disse Agopyan.

Foi também durante o período em que estava à frente da USP, lembrou Silva Dias, que Goldemberg passou a defender a importância de o Brasil colaborar em um esforço mundial contra o efeito estufa. Na época, ainda pouco se falava sobre o tema no âmbito internacional, mas o Brasil começava a sofrer pressão externa para conter o desmatamento da Amazônia.

Reuniu nomes como Aziz Ab’Sáber, Werner Zulauf, Leopoldo Rodés e Marcovitch para iniciar no IEA um projeto de reflorestamento de âmbito nacional que ficou conhecido como Floram.

“Fizeram um levantamento para ver quais regiões do país seriam aptas para o projeto de reflorestamento, que tinha como foco promover a fixação de carbono na biomassa. Mas havia também uma visão econômica do processo. A proposta era que parte da floresta fosse cortada para uso industrial e depois replantada. E tudo isso em uma época pré-Kyoto [protocolo firmado em 1997 entre parte dos países industrializados para reduzir a emissão de gases-estufa]”, contou Silva Dias.

Entre 1990-1991, foi secretário de Ciência e Tecnologia do governo Fernando Collor (o ministério havia sido transformado em secretaria ligada diretamente à presidência), período em que ajudou a organizar a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento – mais conhecida como Rio-92 ou Cúpula da Terra e considerada como a mais importante conferência sobre meio ambiente da história.

“Nesse encontro, começaram as negociações internacionais que culminaram no Protocolo de Kyoto. E, mesmo após ter deixado o cargo de secretário, Goldemberg atuou ativamente aqui no IEA-USP na articulação de políticas públicas na área, chegando a propor um método de taxação sobre a emissão de carbono. O resultado foi uma participação brasileira muito expressiva em Kyoto”, afirmou Silva Dias.

Na avaliação do diretor do Instituto de Física da USP, Marcos Nogueira Martins, o trabalho do Goldemberg personifica o que uma boa universidade deve ser: produz conhecimento relevante e de qualidade; divulga esse conhecimento e induz outras pessoas a produzirem conhecimento e a também divulgá-lo; ajuda a criar políticas públicas e a melhorar o funcionamento dos governos.

Para Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), a atuação de Goldemberg “extrapola os limites do país”. “É um grande brasileiro e um motivo de orgulho para todos nós, por sua vida cheia de realizações em benefício da sociedade brasileira”, disse.

Robert Socolow, professor emérito de Engenharia Mecânica e Aeroespacial da Princeton University, nos Estados Unidos, afirmou que o trabalho de Goldemberg sempre foi uma inspiração. “Em particular a ideia de que o mundo pode caminhar na direção de um futuro sustentável. De muitas maneiras tem sido meu mentor. Entre suas conquistas mais importantes está a defesa da energia nuclear para fins pacíficos no Brasil”, disse em vídeo durante o evento.

Celso Lafer, ex-ministro das Relações Exteriores e ex-presidente da Fapesp, destacou que Goldemberg chega aos 90 anos na “plenitude do vigor de sua personalidade e da multiplicidade das suas competências”.

“Uma grande personalidade brasileira que soube captar e exprimir significativas tendências contemporâneas ao inserir o papel da ciência na pauta do país”, disse.

Para Lafer, as experiências acadêmicas e na gestão da USP lhe permitiram exercer cargos no campo governamental, fazendo de Goldemberg um “coringa apto a exercer responsabilidades em funções que exigem a autoridade do conhecimento”.

“Como ministro da Educação afastou-se da rotina e da política da clientela e imprimiu uma visão inovadora como foi a da sua esclarecida reitoria. Preocupado e atento à educação como formação e capacitação”, afirmou.

Lafer lembrou ainda da fecundidade da parceria que ambos exerceram durante a Rio-92 para levar adiante a pauta do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável. “Essa parceria adensou-se no período que me coube presidir a Fapesp e adquiriu contornos adicionais neste momento em que ele preside a Fundação com seu talento, liderança e alto espírito público”, destacou.

Além de presidir a Fapesp, Goldemberg continua ainda hoje orientando estudantes de pós-graduação do IEE, como mencionou o atual diretor do instituto, Colombo Celso Gaeta Tassinari. “Ele é um dos poucos professores cadastrados em nossos dois programas de pós-graduação. Orienta muitos alunos e participa ativamente das atividades”, contou.

E, segundo Goldemberg, a aposentadoria não está em seus planos. “Meu grande projeto no momento é ampliar os investimentos da Fapesp em inovação, as parcerias com empresas e tentar aproximar a Fundação da sociedade. Ela sempre teve a reputação de ser uma organização voltada para a atividade puramente acadêmica, mas agora abrimos o leque – sempre preservando os critérios da boa ciência”, afirmou.

Segundo Goldemberg, em todas as atividades realizadas ao longo de sua trajetória adotou os mesmos critérios que adotou como cientista: objetividade e adoção do mérito alcançado por talento, esforço e competência como único critério de avaliação das ações e das pessoas.

“Nunca exigi dos outros nada além do que exigi de mim mesmo. Agradeço a todos que me ajudaram nessa longa jornada”, disse.

A sessão de homenagens contou ainda com depoimentos de Luiz Gylvan Meira Filho (IEA-USP), Guilherme Ary Plonski (IEA-USP), André Corrêa do Lago (Embaixador em Tóquio), Achim Stainer (Programa das Nações Unidas para o Ambiente), Abram Szajman (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo), Kirk R. Smith (University of California, Berkeley), Luiz Ernesto George Barrichelo (USP), Nebojsa Nakicenovic (International Institute for Applied Systems Analysis) e Liedi Bernucci (Escola Politécnica).

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