Leia matéria de Leticia Paludo para Gaúcha Zero Hora publicada em 8 de março:
De 2024 até março de 2025, o público testemunhou Kamala Harris, aos 60 anos, entrar na disputa por um dos cargos políticos mais importantes do mundo: a presidência dos Estados Unidos. Também viu a estrela de Hollywood Demi Moore e a atriz brasileira Fernanda Torres serem indicadas ao Oscar pela primeira vez, ou então levando para casa suas primeiras estatuetas do Globo de Ouro aos 62 e 59 anos, respectivamente.
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Quando colocados lado a lado, esses feitos são uma oportunidade para debater sobre reconhecimento profissional, etarismo e a possibilidade cada vez maior das mulheres alcançarem sucesso na maturidade.
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Aos 77 anos, a biomédica Helena Nader é a primeira mulher a assumir a presidência da Academia Brasileira de Ciências (ABC) – uma instituição de 109 anos de existência. Ela está no comando da ABC desde 2022 e, além disso, é pesquisadora na área da glicobiologia, professora emérita da Escola Paulista de Medicina da Unifesp e presidente de honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que comandou por seis anos.
Mesmo com todos esses títulos que reluzem no currículo e lhe rendem reconhecimento do público amplo, Helena deixa claro que sucesso para ela é o respeito e carinho dos seus estudantes:
— Um dos momentos em que mais senti sucesso foi com meus ex-alunos, e fico emocionada ao falar disso — diz ela, com a voz embargada. — Formei muitos mestres, doutores, pós-doutores, e vê-los dizer com orgulho “Obrigada por aquilo que você me ensinou” não tem preço. É claro que, em um cargo, você faz muita coisa e é prestigiada. Mas o agradecimento dos indivíduos para quem tentei dar instrumentos e condições é o que há de melhor, pois vem de dentro — afirma Helena.

Helena Nader assumiu a [presidência da] Academia Brasileira de Ciências após os 70 anos.
(Foto: Cristina Lacerda / Divulgação ABC)
Descendente de imigrantes italianos e libaneses, ela foi a primeira da família a ir para a universidade, incentivada pelos pais que diziam: “Não há limite para o que você quiser fazer, a não ser aquele que você mesma colocar.”
Helena Nader fez parte da segunda turma de Ciências Biomédicas da Escola Paulista de Medicina – uma formação inovadora no país à época – voltada para a criação das bases das pesquisas na área da saúde. Não se deixou frear diante da ditadura – que estava presente em sala de aula por meio de informantes que reportavam as atividades aos militares –, nem pela falta de colegas mulheres no seu campo de atuação, nem pelo etarismo.
Hoje, quando questionada sobre a importância de ser uma mulher com mais de 70 anos à frente da ABC, ela responde:
— É fantástico! Espero que meninas quando conhecerem a minha trajetória digam: “Que legal, como mulher posso fazer tudo isso”. Acredito que só se muda uma nação pela educação e pela ciência. E se tiver um outro lado, eu vou estar lá, lutando pela educação, te garanto.
As mulheres estarem conquistando grandes feitos em idades cada vez mais avançadas, para Helena, se deve, em parte, por conta do esforço de ensinar sobre igualdade de gênero nas escolas e também em casa. Ela cita, inclusive, o exemplo de Fernanda Torres, que em diversos discursos, agradecia aos pais por não terem colocado limites ao que poderia fazer e conquistar. Contudo, ainda é necessário intensificar esse movimento, avalia Helena:
— É preciso educar homens e mulheres da mesma maneira. Chega de ser o homem o que vai ser servido. A mulher não é feita para cuidar. Ela é para o que quiser ser, inclusive, cuidar, se ela desejar. Tem que pensar sobre isso, porque, se não for ensinado enquanto são pequenos, será difícil mudar quando for mais velho.
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Leia a matéria na íntegra no site da Gaúcha Zero Hora.