Leia artigo do Acadêmico Isaac Roitman*publicado no Monitor Mercantil em 24 de janeiro:

O cessar-fogo em Gazaé um sinal e uma esperança de que possamos avançar no caminho de uma sociedade planetária civilizada, sem guerras e solidária. Jan Tinbergen, Nobel de Economia, define economia da paz como “ciência econômica usada para um propósito que proíbe a guerra como um instrumento para resolver conflitos entre nações e para organizar o mundo”. Segundo ele, seria necessária uma ordem mundial que inibisse a violência e permitisse a paz entre os estados. Dentro desse pensamento, seria necessária uma reformulação na Organização das Nações Unidas (ONU), com ações que evitassem as diferentes formas de conflito.

Walter Isard, importante economista estadunidense e um dos principais fundadores da disciplina Ciência da Paz, define economia da paz como geralmente preocupada com: (1) resolução, gestão ou redução de conflitos na esfera econômica; (2) o uso de medidas econômicas e políticas para lidar com e controlar conflitos econômicos; e (3) o impacto do conflito no comportamento econômico e no bem-estar das empresas, organizações de consumidores, governo e sociedade.

Nesse cenário, é urgente e necessário preparar as próximas gerações para serem, durante toda a vida, soldados pela paz. Essas gerações teriam como eixo central no seu sistema educacional a consolidação da paz plena, individual ou coletiva. A educação para a paz seria um processo de promoção de conhecimentos, competências, atitudes e valores necessários para criar mudanças no comportamento, que permitam às crianças, aos jovens e às pessoas adultas prevenir conflitos e violência, tanto explícitos quanto estruturais, resolver os conflitos de forma pacífica e criar as condições propícias à paz, seja a nível interpessoal, intergrupal, nacional ou internacional. Na sala de aula, os educadores estimulariam o diálogo, a colaboração e a compreensão, aplacando os efeitos da competitividade típica do sistema capitalista.

Os formuladores das políticas econômicas teriam como princípio aplicar a ética em todas as proposições, levando em conta a relação entre a moralidade e as decisões econômicas, incorporando os valores culturais e morais. Alguns valores éticos são importantes no contexto da ética econômica, como a honestidade, o respeito, a integridade e a solidariedade.

Na formulação de teorias econômicas, temos que levar em conta as questões morais inerentes ao ser humano e à vida social. Nesse viés, a contribuição de Amartya Kumar, um indiano que liderou a área de economia na Universidade de Harvard, destacou a necessidade de as formulações econômicas serem associadas ao bem-estar com a prática das virtudes morais, evidenciando o desenvolvimento da economia com os cuidados do agir ético, para que a ligação entre as teorias beneficie a vida de todos e a organização social.

A última guerra de que o Brasil participou foi a Segunda Guerra Mundial. Felizmente, não tivemos nenhum conflito externo nos últimos 79 anos. Todavia, temos um cenário de guerra interna, com uma desigualdade social vergonhosa, fome, corrupção, violência e outras mazelas.

Propor uma política econômica para acabar com a desigualdade social no Brasil é um desafio complexo e multifacetado. Existem várias abordagens e medidas que podem ser tomadas para alcançar esse objetivo. Aqui estão algumas delas: educação de qualidade, saúde e bem-estar, emprego digno, desenvolvimento regional e igualdade de oportunidades.

Vamos todos ser protagonistas da conquista da paz plena e da implantação de políticas econômicas que beneficiem a todos. É pertinente lembrar o pensamento do notável economista paraibano Celso Furtado: “Desenvolvimento é ser dono do seu próprio destino”.


*Isaac Roitman é professor emérito da Universidade de Brasília e da Universidade de Mogi das Cruzes, pesquisador emérito do CNPq, membro da Academia Brasileira de Ciência e do Movimento 2022–2030: o Brasil e o Mundo que queremos.