*Adaptado de textos publicados pela Rede CpE

A Rede Nacional de Ciência para Educação (Rede CpE), cujo coordenador-geral é o Acadêmico Roberto Lent, realizou seu VII Encontro Anual no Museu do Amanhã, Rio de Janeiro, com sucesso de público. O encontro foi especial, pois marcou as celebrações de 10 anos da iniciativa e também foi realizado em conjunto com o III Simpósio Satélite da Cátedra Unesco de Ciência para Educação.

Desigualdade social e cognição infantil

A palestra de abertura foi proferida por Julia Hermida, da Universidade de Hurlingham (Argentina), sobre a relação entre nível socioeconômico e a cognição. Para a pesquisadora, tanto a pobreza como a riqueza têm impactos nas funções executivas e no desenvolvimento cerebral. No primeiro caso, as funções executivas ficam prejudicadas; já no segundo, as crianças de alta classe social tendem a ser menos empáticas e sociáveis.

Além disso, a própria desigualdade social pode gerar problemas de saúde mental, a exemplo da depressão, e no funcionamento e na estrutura do cérebro. Mesmo nesse cenário desafiador, Hermida destaca que a educação pode modificar as duas situações – tanto nos casos de pessoas de nível socioeconômico baixo como alto. “No caso da pobreza, um contexto que estimule as funções executiva; no caso da riqueza, a pró-sociabilidade”, finalizou.

Nova publicação: 10 Anos de Pesquisa na área de Ciência para a Educação

Duas sessões do Encontro trataram os capítulos do novo livro “10 Anos de Pesquisa na área de Ciência para a Educação”, que foi produzido a partir da parceria entre pesquisadores da Rede CpE e professores do ensino básico afiliados, os chamados Amigos da Rede. O capítulo de alfabetização foi apresentado por Mailce Mota (UFSC) e por Maria Elisa Carvalho, que destacou: “participar da publicação teve muito impacto na minha prática. Hoje, a minha sala de aula tem uma outra configuração, mais inclusiva”.

Marco Randi (UFPR) demonstrou, com atividades práticas e interativas com o público do evento, a importância da atenção para o desenvolvimento de tarefas e como é desafiador manter a atenção ao longo do tempo. “Flutuação de atenção é natural nas pessoas, inclusive nas crianças que estão aprendendo”, ressaltou. No fim da primeira sessão, Rosa Vicari (UFRGS) trouxe um tema que tem gerado muitos debates: os impactos das tecnologias digitais e da inteligência artificial (IA) na educação. Para a pesquisadora, há desdobramentos positivos e negativos do uso dessas tecnologias. Ou seja, há um potencial pedagógico, no sentido de personalização da aprendizagem por exemplo, mas é preciso também refletir sobre o estresse, ansiedade e menor interação social que vem associada ao uso de IA e outras tecnologias digitais.

Na parte da tarde, Felipe Beijamini (UFFS) mostrou a relação entre o corpo e o aprendizado, ressaltando temas como a nutrição adequada, a importância da atividade física e de tempo de sono adequado para crianças e jovens. Já Carla Minervino (UFPB) apresentou o capítulo sobre “Desenvolvimento humano e Educação”, que traz dados e reflexões das áreas da neurociência, psicologia do desenvolvimento e estudos educacionais contemporâneos.

Por fim, Luiz Guilherme Scorzafave (USP) abordou a trajetória (muitas vezes tortuosa) das descobertas científicas até a consolidação em políticas públicas de educação. O pesquisador da Rede CpE lembrou de alguns exemplos de sucesso, a exemplo do Programa de Incentivo Financeiro-Educacional Pé de Meia implantado, recentemente, pelo Governo Federal.

O público no auditório do Museu do Amanhã (Foto: Rede CpE)

Mulheres na ciência e divulgação científica

Durante a mesa “Meninas e Mulheres na ciência”, a pesquisadora associada Natália Mota (Motrix/ SciGirls/ Rede CpE), a professora Katemari Rosa (Instituto de Física / UFBA) e a amiga da Rede Clésia Nunes da Costa (Potimáticas/ Amigos da Rede CpE) contaram um pouco de suas trajetórias e vivências nas áreas acadêmicas e científicas. As participantes destacaram a importância do acolhimento, escuta e trabalho em equipe para as mulheres enfrentem e superem os desafios de gênero e raça enfrentados no dia a dia.

Em seguida, foi gravado o videocast Educação tem Ciência, com a participação de Guilherme Brockington (UFABC) e Lucianne Fragel (UFF), a discussão versou sobre os desafios de fazer divulgação científica de forma atraente e gerar engajamento nos dias de hoje.

Educação e Saúde

Pela manhã do último dia, Ana Luiza Amaral (Rede Sesi) ressaltou a importância da inovação na educação e no dia a dia das escolas. Para a pesquisadora, a tecnologia alterou a realidade de várias maneiras, inclusive na forma de educar. Por isso, é preciso “construir uma cultura escolar favorecedora da inovação”.

A inovação foi um tema recorrente nas oficinas realizadas durante o Encontro. Crianças e professores puderam interagir de forma lúdica e educativa na oficina “Brincar é ciência”, de Eloísa Pilatti (UNB). Já na oficina de Rochele Fonseca (UFMG), as funções executivas foram o centro das atividades interativas com público.

Na oficina de Guilherme Brockington (UFABC), o foco esteve em “Neurociência das emoções: os impactos na aprendizagem”, tratando de forma leve sobre a importância de levar em consideração as emoções na educação. Por fim, Leonor Guerra (UFMG) e Ana Luiza Amaral (Rede Sesi), trouxeram para o público do encontro algumas reflexões sobre como o conhecimento da neurociência pode contribuir na prática pedagógica.

Na sessão da tarde, o público do VII Encontro pôde conhecer um pouco das pesquisas realizadas com apoio da Rede CpE e em parceria com o Instituto Ayrton Senna, a Somos Educação e o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR).

Alguns dados e reflexões preliminares foram apresentados por Alessandra Seabra (Mackenzie) e Nara Andrade (UFJF), sobre uma pesquisa que visa mapear desenvolvimento cognitivo de crianças da Educação Infantil e do Ensino fundamental I, e Ricardo Mario Arida (UNIFESP) e Ricardo Mario Arida (UNIFESP), que analisam a relação entre o sedentarismo e o aprendizado. Já Ana Carolina Zuanazzi (IAS) e Wagner de Lara Machado (PUCRS) contaram um pouco da experiência com o edital do Hackathon Científico, ressaltando a importância de se pensar a inovação na educação.

Para finalizar o evento, David Lubans (Universidade de Newcastle, Austrália) trouxe, novamente, o debate sobre a importância do exercício físico para o processo de aprendizado. Para Lubans, a falta de exercício físico nos jovens é um problema global e é preciso buscar formas de inserir essas atividades na rotina das escolas.

O evento encerrou com a premiação dos melhores trabalhos apresentados, confira todos os premiados.