O Fórum Mundial de Ciências é um evento anual organizado pela Academia Húngara de Ciências, em Budapeste, focado na relevância social e econômica, a influência e as responsabilidades da ciência. Este ano, a presidente da ABC, Helena Nader, foi convidada a participar de Sessão Temática intitulada “A interface entre ciência e políticas públicas: Implementação da Agenda 2030 e dos ODS”, liderada pelo Conselho Consultivo Científico das Academias Europeias (EASAC, sigla em inglês).

A organização do WSF alerta que para alcançar os Objetivos Globais e a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável são necessárias ações transformadoras e aceleradas. No entanto, muitos países estão caminhando na direção errada, enquanto os impactos das mudanças climáticas e da perda de biodiversidade sobre as populações estão aumentando, assim como a pobreza, a fome e a poluição da terra e dos oceanos.

Os cientistas têm a responsabilidade de orientar os formuladores de políticas em suas decisões, pois a ciência tem um papel único em fornecer soluções para enfrentar muitos dos desafios globais que enfrentamos. Políticos e cientistas, portanto, precisam construir canais para solicitar e receber conselhos. Os cientistas também precisam fortalecer a comunicação com os cidadãos para dar a todos a oportunidade de participar ativamente do debate público sobre questões científicas e, não menos importante, pressionar os formuladores de políticas. Além disso, é necessário fortalecer parcerias com outros sistemas de conhecimento da humanidade, como o conhecimento tradicional dos povos indígenas e das comunidades locais.

As academias de ciências têm um papel importante em fornecer aconselhamento científico independente e baseado em evidências para os formuladores de políticas. O Conselho Consultivo Científico das Academias Europeias (EASAC), uma rede afiliada à rede global da Parceria InterAcademias (IAP, sigla em inglês), mobiliza os principais cientistas da Europa para orientar as políticas da União Europeia em benefício da sociedade.

A palestra principal foi feita pela presidente da ABC, Helena Nader, a partir das recomendações das academias do S20, grupo de engajamento em ciência do G20, esse ano liderado pela ABC.

“O lema do S20 esse ano foi ‘Ciência para a Transformação Global’ e definimos como temas focais a inteligência artificial, a bioeconomia, a transição energética, a saúde e a justiça social, esta última sendo transversal para todos os outros temas. A Agenda 2030 é uma preocupação central da ABC e conseguimos acordar um documento entre 19 países, com apenas um ficando de fora. Fico feliz em dizer que muitas de nossas recomendações foram incorporadas na declaração final do G20”, disse Nader.

A presidente da ABC, Helena Nader, durante palestra no World Science Forum

A seguir, falou o presidente da EASAC, Wim van Saarloos, que destacou o papel de organizações como a IAP e o próprio WSF no aconselhamento científico de políticas. Os especialistas que o sucederam tiveram a oportunidade de exemplificar essas contribuições.

A diretora do Programa de Saúde Pública da EASAC, Rosa Castro, apontou que os impactos das mudanças climáticas na saúde são desigualmente distribuídos, com alguns países, regiões e populações, sobretudo as mais vulneráveis e menos responsáveis pelas emissões, sendo mais afetados que outros. Ela trouxe como exemplo de aconselhamento científico um relatório de 2019 da EASAC, que já alertava para o surgimento de novas doenças infecciosas antes do impacto da covid-19. “Um dos destaques daquele documento era o risco de doenças vetoriais, como a dengue, surgirem na Europa, o que de fato está ocorrendo”, exemplificou.

Já o diretor do Programa Ambiental da EASAC, Thomas Elmqvist, abordou a questão da segurança alimentar, que está no topo da agenda em um mundo caracterizado por mudanças climáticas aceleradas e crises múltiplas. Nesse cenário, será absolutamente necessário que a agricultura seja gerida para manter a produção, armazenar carbono e manter a biodiversidade. Há evidências científicas crescentes de que isso é possível, por meio, por exemplo, do aumento do uso de culturas perenes, redução do cultivo intensivo e escolha dos solos mais adequados para produção. “Na Europa, temos evidências do poder de armazenamento de carbono de zonas pantanosas e pradarias, que deveríamos preservar. Esse é um exemplo de escolha que está ao nosso alcance e deve ser incentivada por políticas públicas, e nossos relatórios tem mostrado isso”, afirmou.

O conselheiro científico da Rede Húngara de Pesquisa (HUN-REN), Zsolt Molnár abordou a co-produção de conhecimento entre cientistas e comunidades tradicionais, contribuindo para produção de políticas sobre biodiversidade. Ele destacou que a ciência não é suficiente na atual crise e que a humanidade precisa de todo o conhecimento e sabedoria disponíveis para avançar em direção a um futuro sustentável. Ele citou as experiências da Plataforma Intergovernamental de Ciência e Política sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) e da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), que vem incorporando cada vez mais os conhecimentos tradicionais em suas atuações. “Precisamos estabelecer parcerias com outros sistemas de conhecimento. Comunidades de povos indígenas e comunidades tradicionais locais, há muito tempo estabelecidas em territórios específicos, muitas vezes desenvolveram serviços ecossistêmicos e práticas adaptativas para usar a biodiversidade de forma sustentável. Não é coincidência que as maiores taxas de preservação estão nesses locais. Mas precisamos que esses atores participem de forma igual, auxiliem desde o desenvolvimento do projeto e entrem também como autores”, defendeu.

Ao final, os palestrantes tiveram a oportunidade de deixar uma mensagem de conclusão. A presidente da ABC foi sucinta: “Não deixem de lado a justiça social. Enquanto a mantivermos em mente estaremos progredindo”.


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