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Neste dia 7 de novembro, foi lançado na sede da Academia Brasileira de Ciências (ABC), o documento “Um Olhar sobre o Ensino Superior no Brasil” que traz recomendações sobre como modernizar o sistema nacional. “Esse grupo de trabalho começou a partir de um questionário que fizemos, onde a pergunta ‘a universidade precisa ser reformada?’ foi respondida de forma unânime: ‘Sim’”, afirmou o coordenador do trabalho, Ado Jório Vasconcelos.

Ao longo de dois anos, o grupo de trabalho realizou conferências livres, no âmbito da 5ª Conferência Nacional de CT&I, e criou o Fórum Permanente de Educação Superior ABC/SBPC. Nessas discussões, foi elaborado um diagnóstico: o investimento brasileiro em educação, 6% do PIB, está na média mundial, assim como o número de professores e a porcentagem destes no ensino superior. “Mas estamos atrás em salários e no investimento por aluno. O Brasil também não está conseguindo responder à demanda da sociedade por um ensino mais flexível, o que explica a tendência de crescimento na evasão”, observou Vasconcelos.

O número de alunos em cursos noturnos e, mais recentemente, no ensino à distância, disparou. Essas vagas são oferecidas majoritariamente por instituições privadas com fins lucrativos. Apenas 22% dos jovens entre 25 e 34 anos concluíram ou estão cursando ensino superior e, destes, apenas 20% estão nas instituições públicas. “Estamos formando apenas cinco de cada 100 alunos nas universidades públicas. Das 19,2 milhões de vagas no EaD, 19 milhões estão em instituições privadas. É uma demanda absolutamente fundamental da sociedade brasileira”, alertou Ado Jório.

O exemplo internacional mostra a necessidade um sistema mais dinâmico, que dê mais opções aos alunos. Na Alemanha, por exemplo, apenas 33% dos jovens tem ensino superior, mas 46% tem ensino técnico profissional. Na Califórnia, as universidades de pesquisa, equivalentes às federais brasileiras, absorvem apenas 10% dos alunos, enquanto mais da metade está nos Community Colleges, focados exclusivamente em educação e que requerem muito menos investimento por aluno. “Um terço dos alunos desses Community Colleges depois vão para as universidades de pesquisa”, apontou Ado Jório, reforçando a questão da mobilidade.

Nesse cenário, o documento da ABC traz três recomendações principais. Primeiro, com foco na expansão, é preciso criar faculdades federais focadas exclusivamente em ensino. Também é necessário o aumento das matrículas nos Institutos Federais (IF) e Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefet), e o aumento do EaD público. “Nosso sistema universitário, fundamentado no tripé ensino, pesquisa e extensão, deve ser mantido. Mas precisamos diversificar. Os IFs e Cefets são muito importantes, mas têm a tendência de se espelharem nas universidades, e deveriam ser diferentes”, afirmou o coordenador.

Gráfico traz uma ideia de como a progressão no ensino deve se dar pelas diferentes instituições (Fonte: apresentação de Ado Jório Vasconcelos)

A segunda recomendação é a criação de Centros de Formação em Áreas Estratégicas, focados na capacitação de recursos humanos em temas fundamentais para o país: bioeconomia; agricultura e agronegócio; transição energética; saúde e bem-estar; transformação digital e inteligência artificial; e materiais avançados e tecnologias quânticas. “Acreditamos que a formação desses centros na atual estrutura burocrática das universidades é muito difícil. Nossa proposta é de um sistema de Organizações Sociais (OS) ligadas diretamente às reitorias”, descreveu Adalberto Fazzio, outro autor do documento.

Já a terceira recomendação não diz respeito à nenhuma instituição nova, mas a um processo permanente de debate. “As mudanças que precisamos são muito maiores do que estamos propondo. Precisamos pensar em novos currículos, nas vagas ociosas e na questão da evasão, que cresce cada vez mais. Essas discussões são muito difíceis de se ter dentro das universidades, somos muito resistentes à mudança, mas elas precisarão acontecer”, acrescentou Fazzio.

Além dos debates e do documento, o grupo de trabalho anunciou que também está planejando um documentário sobre a educação brasileira. “Atualmente esse projeto foi aprovado para a fase de captação de recursos. O objetivo fundamental é mostrar às pessoas o que podemos e vamos fazer pelo ensino superior brasileiro”.

Assista à cerimônia de lançamento:

Confira a repercussão

Foco na inclusão – Carta Capital
A Academia Brasileira de Ciências propõe a criação de faculdades federais dedicadas apenas ao ensino, como as community colleges dos EUA

Faculdades e EaD podem aumentar o acesso ao ensino público superior – Agência Brasil (republicada por CNN e Terra)
Uma das propostas é a criação de faculdades federais

Estudo propõe mudanças na oferta do ensino superior no Brasil – Rádio Nacional

Academia Brasileira de Ciências propõe a criação de uma faculdade federal diferente das universidades – Zero Hora
Novas instituições teriam foco apenas em ensino de graduação e seriam desenhadas para ampliar o acesso ao Ensino Superior público e de qualidade; entenda as propostas