No dia 1º de novembro, no plenário lotado da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), foi realizada uma audiência pública para debater a situação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). A audiência foi convocada pela deputada Elika Takimoto, que está à frente da Comissão de Ciência e Tecnologia da Alerj, em virtude da notícia de que o cargo de presidente da Faperj, hoje ocupado pelo Acadêmico Jerson Lima, pode virar moeda de troca do governo do estado para contemplar aliados políticos.
O trabalho de Jerson Lima à frente da Faperj é muito bem avaliado pela comunidade científica. Sob sua gestão, a fundação lançou editais inéditos no Brasil, como o edital “Jovem Cientista Mulher”, voltado especificamente para pesquisadoras no início de suas carreiras. “Jerson Lima simboliza o diálogo e a participação contínua da comunidade científica nas decisões da Faperj”, sumarizou a vice-presidente da comissão, deputada Dani Balbi.
A deputada aproveitou para defender seu projeto de lei para a adoção de uma lista tríplice na escolha do presidente da Faperj, elaborada pelo conselho superior da entidade, o que garantiria maior autonomia institucional. Leis semelhantes já existem para a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e de outros estados.
Representando a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC), a Acadêmica Ana Tereza de Vasconcelos defendeu a ideia da lista tríplice e a gestão de Jerson Lima, alertando para o perigo de descontinuidade nos atuais editais da fundação. “Precisamos ter um representante da comunidade científica à frente da Faperj, alguém que tenha inserção e diálogo com as outras fundações e com experiência na gestão de ciência. Ano que vem teremos R$ 650 milhões no orçamento da fundação que precisarão ser bem administrados”, defendeu.
O orçamento da Faperj é definido por lei no valor de 2% do orçamento líquido do estado. Esse mecanismo garante a robustez do investimento em editais e bolsas de pesquisa. Atualmente, são mais de 6 mil bolsistas e 10 mil pesquisadores cujos projetos recebem recursos da fundação. “A Faperj significa uma infraestrutura digna para os programas de pós-graduação, a continuidade das pesquisas e o sustento dos cientistas através das bolsas. É muito mais do que uma agencia de fomento, é um instrumento de justiça social e geração de emprego”, avaliou a representante da Associação Nacional dos Pós-Graduandos (ANPG), Natália Trindade.
No dia 23 de outubro, ABC e SBPC assinaram uma carta conjunta, endereçada ao governador do estado, pedindo que recuasse na troca de comando da Faperj, mas até hoje, 1º de novembro, não obtiveram resposta. Os deputados destacaram que um dos objetivos atuais é conseguir uma reunião presencial com o governador para tentar sensibilizá-lo. Para os cientistas presentes, a luta precisa ser por dois motes: o primeiro, “Fica Jerson”, para a continuidade de uma gestão que está dando certo; e o segundo pela manutenção da missão da Faperj, de investir e dinamizar a ciência fluminense, sob qualquer liderança. “Não é sobre um nome, é sobre respeito à comunidade científica”, resumiu o deputado estadual Carlos Minc.
Confira o resumo produzido pela TV Alerj:
Carlos Minc, deputado estadual
“A comunidade científica se ressentiu do fato de não ter sido ouvida e terem sido cogitados nomes de pessoas que não estão à frente de projetos de pesquisa, que não tem doutorado, que não estão acompanhando as questões nacionais e internacionais. Num campo tão importante, para a questão climática, para a saúde, para tudo, não podemos andar para trás. Por isso a comunidade se mobilizou em peso e com toda a razão”
Dani Balbi, deputada estadual
“Quando falamos de pesquisa, temos às vezes uma visão muito tradicional, que muitas vezes comporta uma única área ou problema, e não é isso. Quem está relativamente familiarizado com o tema do desenvolvimento científico e tecnológico sabe que tudo é pesquisa e todas as melhorias e inovações dependem de pesquisa, e melhorias e inovações têm impacto direto na qualidade de vida da população. É extremamente importante que a Faperj continue operando, livre das intervenções políticas com finalidade única e exclusiva de loteamento de determinados espaços, e que ela possa inclusive se expandir e, para isso, um nome técnico e qualificado, com experiência de gestão na área da ciência, seja o seu presidente”
Elika Takimoto, deputada estadual
“A comunidade está muito preocupada com essas mudanças que estão acontecendo. A Faperj é um órgão fundamental para o desenvolvimento do nosso estado e do país. Estamos falando de uma das principais instituições de fomento à pesquisa do país. A comunidade está mobilizada, a gente precisa conversar com o governador. O encaminhamento dessa audiência pública é a tentativa da comunidade ser ouvida pelo governador. Também é criar um espaço permanente de discussão e acompanhamento de tudo que está acontecendo nessa transição, caso ela de fato aconteça”