Leia entrevista de Bela Lobato para a SuperInteressante, com o biólogo, geneticista e Acadêmico Fabrício Rodrigues dos Santos (UFMG), um dos autores do novo livro da ABC “A Evolução é Fato”, publicada em 15/10:

Você já deve ter ouvido falar que os humanos vieram dos macacos. É verdade: a teoria da evolução já foi provada de diversas formas, e vários fósseis de humanos nos ajudam a entender a árvore genealógica da origem da nossa espécie. 

Já existiram dezenas de espécies de primatas eretos, sem cauda, com cérebros grandes, e outras características que, hoje, são exclusivas nossas. Essas espécies não foram necessariamente antecessoras dos humanos: elas coexistiram por muito tempo nas savanas africanas. ]

Para explicar um pouco sobre como os humanos surgiram entre os primatas, conversamos com [oAcadêmico] Fabricio Santos, biólogo e geneticista, professor da Universidade Federal de Minas Gerais. Ele explica como as espécies da linhagem humana evoluíram, como interagiram entre si e até como começaram a beber leite nesse processo.

Ele é o autor de dois dos capítulos do livro A Evolução é Fato, que conta com a participação de 28 pesquisadores brasileiros. Você pode baixá-lo gratuitamente aqui

A obra aborda diferentes fases da evolução na Terra, de um jeito simples e fácil de ler. O livro levou três anos para ficar pronto, e foi feito pela Academia Brasileira de Ciência (ABC), que se manteve atualizada das descobertas científicas durante todo o processo. A entrevista a seguir faz parte de uma série de entrevistas que a Super está publicando com os autores dos textos. 

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Quais são as diferenças entre essas várias espécies que viveram desde a separação da linhagem dos chimpanzés?
 

Algumas delas eram contemporâneas e ocupavam basicamente a mesma região. Todos eram bípedes e eretos, em diferentes medidas. 

Por exemplo, 4 milhões de anos atrás, os australopitecinos tinham o dedão do pé deles mais parecido com as nossas mãos, os pés ainda tinham uma certa adaptação arborícola, para subir em árvores. Eles tinham uma característica meio intermediária, mas eles já eram eretos. Só andavam meio “esquisito”. 

Existiam espécies estritamente vegetarianas, com músculos mandibulares muito fortes para mastigar vegetais crus. Dá para ver as marcas da dieta dele nos dentes, os paleoantropólogos fazem essa análise, pra ver o que eles comiam. 

Todas as populações humanas passaram por um punhado de pressões seletivas diversas, né? Inclusive algumas populações se adaptaram a floresta de novo. 

Os pigmeus africanos são populações africanas adaptadas ao ambiente florestal: eles são pequenininhos, o que os faz muito mais ágeis na floresta. Porque gente alta na floresta não se dá bem para caçar. Inclusive, na Amazônia, a gente tem lá os indígenas de etnias das línguas macu, são todos baixinhos, um metro e vinte de altura. São adaptações convergentes para a caça e a vida na floresta, em continentes e épocas diferentes.

No capítulo, o senhor descreve também como a tolerância à lactose explica as pressões da seleção natural. Pode falar um pouco mais sobre isso?

Sim, a evolução da tolerância à lactose já é um capítulo extremamente recente da evolução humana. Já não existiam neandertais, estamos falando de 10, 12 mil anos atrás. Foi um momento em que a população humana começou a ter um salto numérico, porque a gente começou a ter agricultura, animais domesticados e urbanização. A gente deixou aquela vida de caçador-coletor. 

E justamente foi no momento de mudança climática. Antes de 12 mil anos, o clima não estava nada bom. E quando começou a chover mais, o clima ficou mais razoável no hemisfério norte, eles desenvolveram essas domesticação e seleção de plantas e animais. 

E foi daí que começaram a aparecer os núcleos urbanos, as primeiras escritas. E com a domesticação dos bovinos, principalmente com o leite, oferece uma fonte de proteína muito farta e acessível.

E no início, só crianças conseguiam consumir leite e lactose. Os chimpanzés não tem essa adaptação, e os caçadores-coletores também não deviam ter. Mas a partir do momento que alguns, por meio de mutações, conseguiam aproveitar o leite na fase adulta, eles foram selecionados. Eles desenvolveram a tolerância à lactose, e por isso tinham mais sucesso na sobrevivência e na reprodução.

E hoje, você vê nitidamente que as populações que têm maior frequência de tolerantes à lactose são populações que, nos últimos 10 mil anos, tiveram muito contato com gado de leite. Na África, na Europa… Mas isso aconteceu só os últimos minutos da evolução humana, são os últimos 10 mil anos da espécie humana, que tem 200 mil anos.

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Leia a entrevista na íntegra no site da Super