No dia 16 de outubro, em Brasília, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), por meio da Secretaria de Políticas e Programas Estratégicos, em parceria com a Sociedade Brasileira de Zoologia (SBZ), a Sociedade Botânica do Brasil (SBB) e a Sociedade Brasileira de Microbiologia (SBM), organizou o Evento sobre Coleções Biológicas Científicas do Brasil com o lançamento do livro “Coleções Biológicas Científicas Brasileiras: Diagnóstico, prioridades e recomendações” e apresentação da plataforma com os dados e informações das coleções brasileiras.
O livro contou com contribuições de coleções biológicas científicas de todo o país no levantamento de informações. As análises das contribuições enviadas pelas coleções permitiram indicar prioridades para a manutenção e aprimoramento destas importantes infraestruturas e a proposição de recomendações para o Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia. Adicionalmente, também como parte da iniciativa e partir do trabalho de dezenas de curadores de coleções foi publicado o guia Introdução e orientações às boas práticas para as coleções científicas brasileiras. O guia também está disponível em formato digital.
A Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) participaram do lançamento representadas pela bióloga Mercedes Bustamante, da Universidade Brasília. Em sua fala, ela destacou o papel central das coleções biológicas e da formação de taxonomistas e parataxonomistas para a conservação e o uso sustentável da biodiversidade brasileira. Para ela, fomentar a bioeconomia é crucial para conter às crises climática e da biodiversidade.
“O evento e o livro produzido destacam o valor inestimável das coleções biológicas científicas para documentar e entender a Biodiversidade brasileira. As coleções guardam informações para entender o passado mas também para projetar as respostas futuras das comunidades biológicas às mudanças ambientais. As coleções são também infraestruturas essenciais para impulsionar a Bioeconomia e os setores de Agricultura e Saúde. Para cumprir adequadamente seu papel, há necessidade de financiamento e manutenção adequados além de investimentos em profissionais capacitados em Taxonomia e curadoria de coleções”, afirmou a Acadêmica.
Uma política de Estado para as coleções biológicas
Coordenadora dos trabalhos que deram origem ao livro, a presidente da Sociedade Brasileira de Zoologia (SBZ), Luciane Marinoni, afirma que é preciso criar uma política de estado que estabeleça uma base legal e planos de ação voltados às coleções biológicas científicas. Ela lembra que, no Brasil, 73% das coleções microbiológicas, 78% das coleções botânicas e 80% das coleções zoológicas estão em instituições públicas.
“Devemos implementar um programa de fomento abrangente, estável e de longo prazo, que poderia ser instaurado pelas Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs), à nível estadual, ou pelos Ministérios da Educação; da CT&I; da Agricultura e Agropecuária; do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas; ou da Saúde, à nível federal”, sugeriu. “O que precisamos é incentivar iniciativas em rede que visem a informatização das informações de materiais das coleções biológicas científicas; a disponibilização de dados e metadados; a cooperação entre responsáveis por coleções para troca de experiências e o auxílio mútuo na condução e manutenção das coleções”, completou.
Essa não é uma tarefa trivial, uma vez que, atualmente, não há a categoria profissional de curador e gestor de coleções. O que há são professores universitários assumindo essas responsabilidades como parte de suas funções de pesquisa. Esse arranjo é frágil, e muitas coleções brasileiras estão sem alguém diretamente responsável por elas há anos. “O que talvez a gente precisasse é que houvesse a possibilidade desses pesquisadores acumularem uma função gratificada, à semelhança das funções de coordenação de curso ou chefe de departamento”, avaliou Marinoni.
A presidente da SBZ cita como exemplo de sucesso o Programa de Capacitação em Taxonomia (Protax), de 2005, cujo último edital teve uma demanda 10 vezes maior do que o orçamento voltado ao programa conseguiria abranger. “Deveria ser um programa permanente e com mais recursos, pois é uma estratégia importante. Há a necessidade de formação, mas também de contratação de taxonomistas. Além disso, os resultados do diagnóstico demonstram que as coleções tiveram crescimento nos momentos históricos quando houve o investimento em formação de profissionais que estudam a biodiversidade – momentos coincidentes com os editais lançados pelo MCTI em parceria com a Capes”, avaliou.