Baixe aqui o PDF do livro “A necessária aliança entre Ciência e Educação”


No dia 15 de outubro, Dia do Professor, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) lançou sua nova publicação, “A necessária aliança entre Ciência e Educação”, durante cerimônia em sua sede, no Rio de Janeiro. A presidente da ABC, Helena Bonciani Nader, qualificou o livro como “um diagnóstico que transcende o Brasil”, já que juntar a ciência à sala de aula é uma necessidade global.

O coordenador do grupo de trabalho responsável pelo livro foi o neurocientista e membro da ABC Roberto Lent, que apresentou os três tópicos principais. O primeiro é a educação científica no ensino básico, que deve ser multidisciplinar e em diálogo com as outras matérias escolares; o segundo é a divulgação científica como forma de popularizar não só os resultados da ciência, mas também seus métodos e forma de pensar.

O terceiro tópico, muito enfatizado e que dá nome ao livro, é a crescente divergência entre as pesquisas sobre educação e a prática em sala de aula. “Precisamos usar as evidências cientificas para entender como as crianças aprendem, quais suas dificuldades e quais as melhores políticas públicas. Só assim teremos chances de aumentar a eficácia das intervenções”, sumarizou Lent.

Outra especialista que colaborou com o projeto, a economista Claudia Costin, ex-diretora global de educação para o Banco Mundial, alertou para o fato de a filosofia de alfabetização predominante no Brasil já ter sido abandonado há décadas nos países desenvolvidos. “O pressuposto de que o aprender a ler e escrever é tão nativo à criança quanto o aprender a falar já caiu por terra. Tudo depende da condição que essa criança terá em casa de ter uma iniciação fonética às letras, o que aumenta a desigualdade. Parte da nossa tragédia na alfabetização se deve a isso”, afirmou.

Esse descompasso também se dá com outras soluções apontadas pelas pesquisas, que não chegam a ser implementados por falta de vontade política. “Pesquisadores brasileiros já mostraram que, em Pernambuco, a educação em tempo integral gerou impactos importantes não só no aprendizado, mas na renda adicional dos alunos e na diminuição de criminalidade. Já mostrou também que o professor precisa ser valorizado, dialogando entre a teoria e a prática e tendo formação continuada”.

Na mesma linha, o também economista Daniel Domingues dos Santos, professor da Universidade de São Paulo (USP) e outro autor do livro, enfatizou a necessidade da produção local e atual de pesquisa em educação. “Essa talvez seja a área onde é mais necessário essa aproximação, pois é extremamente dependente dos contextos locais e temporais. Não adianta importar do mundo, precisamos produzir e, para isso, precisamos ter massa crítica aqui no Brasil”.

Um desses contextos relevantes ao Brasil é o fato de que a educação massificada até os 14 anos, por aqui, só se completou no século 21. “O que é considerado papel da família e da escola varia de país para país, por isso precisamos produzir evidências que valham para a nossa cultura. Não fazê-lo leva a um progresso muito mais lento do que o necessário”, avaliou.

O físico Glaucius Oliva, vice-presidente da ABC para São Paulo, focou na divulgação científica como arma contra a desinformação. O professor, que também esteve envolvido no livro “Desafios e estratégias na luta contra a desinformação científica”, lançado pela ABC em junho deste ano, defendeu a criação de redes e canais profissionais de divulgação que disputem o espaço virtual contra os agentes da desinformação.

“A estrutura algorítmica das plataformas digitais cria um ecossistema lucrativo para a desinformação, apelando a preconceitos e emoções contra as evidencias e as próprias instituições cientificas, resultando numa erosão da confiança. Precisamos de agências profissionais e muita educação científica e midiática”, afirmou Oliva.

Já o físico Anderson Stevens Gomes, vice-presidente da ABC para Nordeste e Espírito Santo e secretário-geral da 5ª Conferência Nacional de CT&I, destacou que, em seu documento “A importância da Ciência como política de Estado para o desenvolvimento do Brasil”, de 2022, a ABC já defendia que o país precisaria passar por uma “revolução educacional”.

“São decisões políticas de valorizar e capacitar os professores; investir na infraestrutura educacional; integrar tecnologias como meio e não como fim; fomentar a iniciação científica, sobretudo projetos em diálogo com problemas reais; envolver as famílias; atualizar os currículos e focar na inclusão e na sustentabilidade”, delineou.

Assista ao lançamento na íntegra: