Na tarde do dia 19 de setembro foi realizado o Simpósio e Diplomação dos Membros Afiliados da ABC da Regional Rio de Janeiro 2024-2028, na sede da Finep.
Na ocasião, apresentaram as pesquisas pelas quais foram eleitos e receberam seus diplomas cinco jovens cientistas de excelência, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A presidente da ABC, Helena Nader, e a Acadêmica Patricia Bozza compuseram a sessão de abertura. Nader deu as boas-vindas em nome da Academia aos jovens diplomados na ocasião, agradeceu à equipe da ABC e principalmente ao ex-presidente Jacob Palis, que criou em 2007 as seis vice-presidências nacionais da ABC (Norte, Nordeste & Espírito SAnto, Minas Gerais & Centro-Oeste, Rio de Janeiro, São Paulo e Sul), com o objetivo de capilarizar a ciência nacional. A partir delas, criou o Programa de Membros Afiliados, sendo o primeiro grupo eleito empossado em 2008 e permanecendo sempre por cinco anos vinculados à ABC. “São 16 anos do programa criado por ele. Outras academias da América Latina criaram programas semelhantes a partir do brasileiro. Com a criação das seis vice-presidências regionais, , relatou.
A presidente da ABC agradeceu também ao presidente anterior ali presente, Luiz Davidovich. Agradeceu imensamente à Finep pela cessão da sala, já que a sede da ABC está em obras, e destacou que a sala onde estava se dando o evento levava o nome do Acadêmico falecido José Pelúcio Ferreira, “o economista que o Brasil precisava, se ele estivesse aqui o país já estaria em outra pegada, como dizem os jovens”.
Helena instou os novos membros a participarem dos grupos de trabalho, que listou, e de outros projetos da ABC. “Os grupos em andamento são Bioeconomia, Saúde, Justiça Social, Ciência e Educação, Saúde Mental. Ensino Superior Brasileiro, Plásticos, Petróleo e a Margem Equatorial, Inteligência Artificial, Desinformação Científica, Segurança Alimentar, Contaminação por Mercúrio e Ciência Aberta. Sejam bem-vindos, precisamos de vocês!”
Patricia Bozza destacou que aquele era um momento de celebrar a carreira desses novos membros afiliados, que já têm carreiras expressivas e contribuições significativas para a ciência brasileira. Reforçou o convite de Nader para que os afiliados se insiram nos projetos da Academia, especialmente nos grupos de trabalho, e convidou o Acadêmico Fabiano Thompson para proferir a Palestra Magna.
Oceanólogo e mestre em Oceanografia Biológica, ambos pela Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG), ele obteve o doutorado em Bioquímica pela Universidade de Gent, na Bélgica. Thompson é professor titular de Genética e Biologia Marinha do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e foi professor pleno da Coppe entre 2016 e2022.
Um novo sistema recifal na foz do rio Amazonas
A apresentação de Fabiano Thompson focou no trabalho de seu grupo de pesquisa nos últimos dez anos: o levantamento de um novo sistema recifal na foz do Rio Amazonas. Tradicionalmente, essa não é uma localização habitual de um recife, especialmente pela questão da luz.
Este sistema ocorre desde as águas rasas até quase 200 km de profundidade e está escondido pela pluma de sedimentos transportada pelo maior rio Amazonas. É um megabioma, conectado com a floresta Amazônica. Para comprovar a existência do bioma, em 2017 um grupo mergulhou num submarino a 220 m de profundidade, a mais de 100km da costa, e identificaram esponjas, peixes, lagostas, corais e rodolitos (algas calcáreas), assim como paredões formados por organismos carbonáticos.
Muitas espécies são endêmicas, inclusive diversas delas desconhecidas, como esponjas, organismos filtradores, gigantes com até 2 metros de diâmetro e que pesam mais de 100 kg.
“Como a vida de algas acontece numa profundidade tamanha, aparentemente sem luz?”, indagou o Acadêmico. Na falta de fotossíntese, os pesquisadores já sabem que a cadeia alimentar é baseada na quimiossíntese, a capacidade que algumas bactérias muito simples têm de usar compostos nitrogenados e amônia para produzir energia. Essas bactérias são a base de alimentação de microrganismos, esponjas e moluscos.*
Nestes anos, conseguiram comprovar com precisão a medida do sistema recifal da região amazônica: 56 mil km2. “É uma descoberta importante. Há muitos jornalistas e cientistas estrangeiros interessados na região”, observou Thompson.
O anúncio da descoberta está no artigo An extensive reef system at the Amazon River mouth, publicado na Science Advances, da American Association for the Advancement of Science.
Simpósio científico dos membros afiliados
Os cinco novos pesquisadores apresentaram seus trabalhos. Conheça aqui as histórias de vida e as pesquisas de cada um deles.
Dos dinossauros aos astros
O astrofísico Clécio Roque de Bom, professor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), conheceu a ciência através do fascínio por dinossauros e hoje aplica inteligência artificial no estudo do universo.
Do amor pelos animais ao método científico
A médica-veterinária e professora da UFF Joanna Fabjan apaixonou-se pelo fazer científico e hoje desenvolve inovações na reprodução de animais de produção.
Os enigmas do nosso cérebro
A farmacêutica Julia Helena Rosauro Clarke, professora da UFRJ, é encantada pelo cérebro humano desde pequena e hoje estuda como fatores ambientais afetam esse órgão tão central para sermos quem somos.
Um antropólogo que estuda “passagens
De talento em matemática à mais descritiva das ciências humanas, a trajetória do antropólogo e professor da UFRJ Rodrigo Ferreira Toniol é marcada pela multiplicidade de interesses.
Flexibilizar o ensino superior para formar mais cientistas
O professor da UFF e do IMPA Uéverton Souza é um dos pioneiros da graduação à distância. Sua trajetória mostra que modelos não-convencionais de ensino superior com qualidade são possíveis.
Saudações acadêmicas
Após as apresentações, o membro afiliado Paulo Cruz Terra (2023-2027), professor de História do Brasil República no Departamento de História e na Pós-graduação da UFF, fez o discurso de boas-vindas. Ele destacou que tornar-se membro da ABC vai além do reconhecimento pelos profícuos caminhos profissionais: é um chamado para a ação. “Além de ser a mais prestigiosa associação de cientistas no país, é também um ator fundamental e incansável na luta por políticas públicas ligadas à ciência não só no Brasil, mas também no cenário internacional”.
Ressaltou atuações firmes da ABC, tanto na pandemia da covid-19, enfrentando a desinformação oriunda, principalmente, de fontes governamentais, e vem agindo junto ao governo atual na denúncia do desolador investimento em pesquisa científica no país, cobrando mudanças.
No âmbito internacional, Terra apontou a liderança da ABC no S20, grupo de engajamento do G20 em ciência e tecnologia. “Destaco especialmente um artigo da presidente Helena Nader em que ela reafirma a importância que o Brasil teve em disseminar, no S20, a mensagem de que sem ciência não há justiça social“.
Em seguida, Julia Clarke representou o grupo e agradeceu pelos títulos outorgados. Respondendo aos chamados feitos nas falas anteriores, Clarke afirmou que o grupo têm plena consciência da necessidade de renovação, de novas formas de conexão com a juventude para atrair jovens para a ciência. “Num tempo de expansão pensamentos negacionistas, precisamos reinventar a forma de nos conectar com a sociedade e suas necessidades. O conhecimento que geramos precisa ser comunicado e se refletir em real impacto sobre a vida da nossa população. Precisamos pensar e elaborar, desde as raízes, diferentes iniciativas de popularização da ciência no Brasil.”
Julia finalizou reiterando o compromisso do grupo com a questão da justiça social. “Fazer ciência de impacto e qualidade é tomar para si os problemas da humanidade e contribuir para resolvê-los. Esse reconhecimento que hoje nos é dado pela ABC é mais do que um diploma, é um estímulo para que sejamos ainda mais assertivos em responder às demandas sociais, econômicas e ambientais através da ciência, para que tenhamos um país mais próspero e justo. Este será nosso objetivo enquanto afiliados e esperamos agora somar forças aos demais acadêmicos nessa nova missão que nos é atribuída. Muito obrigada.”
Finalmente, receberam seus diplomas das mãos dos Acadêmicos presentes, Adalberto Val, Carlos Aragão, Luiz Davidovich, Maria Vargas e a vice-reitora da UFF, Monica Savedra. Em seguida, deu-se a confraternização. Sejam muito bem-vindos!