O interesse pela ciência, para muitos, surge graças ao fascínio gerado por temas como dinossauros ou o espaço sideral. No caso do astrofísico Clécio Roque de Bom, novo afiliado da Academia Brasileira de Ciências, foram justamente essas duas áreas que consolidaram nele a ideia de ser cientista.

Nascido no Rio de Janeiro, Clécio teve uma infância tranquila e sempre foi um jovem reservado. Antes mesmo de aprender a ler, sua mãe lhe presenteou com um livro de história natural que capturou sua atenção, e ele pedia para que os adultos lessem para ele sempre que podia. Foi daí que surgiu a paixão pelos dinossauros e a ideia de colecionar miniaturas desses animais fantásticos.

Mas apesar de ter decorado o nome de diversos dinossauros, outro fascínio o arrebatou nessa época, dessa vez pelos astros. Ao completar um álbum de figurinhas sobre o universo, decidiu que queria ser astrônomo. Seu pai era um grande companheiro de coleções, e também o estimulava presenteando-o com fitas de documentários sobre vários ramos da ciência.

Clécio teve como referência científica o seu tio, que fazia doutorado quando ele era criança. Sua avó, sempre orgulhosa da carreira do filho, tinha o dom de contar histórias e adicionava contornos épicos à carreira científica. Todas essas influências contribuíram para que Clécio soubesse em seu íntimo qual profissão queria seguir.

Na adolescência, porém, tornou-se mais pragmático. Ingressou no curso técnico do CEFET e definiu que queria ser programador. Outro interesse também despertou nessa época, agora pela filosofia, e conversando com um professor da matéria decidiu visitar o planetário do Rio de Janeiro e passou a frequentar os cursos de verão do Observatório Nacional. Lá ele conheceu o astrônomo Antares Kleber. “Foi o que fez meus olhos brilharem e ali decidi definitivamente pela pesquisa”, afirma.

Clécio ingressou no curso de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e logo no segundo período começou a fazer iniciação científica no Centro Brasileiro de Pesquisa Físicas (CBPF). Por ter habilidades em programação, foi para um projeto que usava redes neurais artificiais para identificar lentes gravitacionais, um fenômeno astrofísico que ocorre quando um corpo massivo interfere na trajetória da luz de um astro mais distante. Seguiu nessa linha durante o doutorado, também no CBPF.

“Meus orientadores de iniciação científica, Martin Makler e Marcelo Portes de Albuquerque, foram fundamentais para o meu desenvolvimento como cientista. O ambiente colaborativo e multidisciplinar do CBPF também foi decisivo para que eu aprendesse a trabalhar em equipe. No mestrado, o meu orientador Nelson Pinto Neto foi essencial para meu aprendizado em Cosmologia.”, lembra.

Clécio tornou-se doutor em 2017 e no ano seguinte ingressou como professor na pós-graduação do CBPF. Atualmente, a sua principal linha de pesquisa é a aplicação da inteligência artificial na astrofísica. “Meu foco são os fenômenos explosivos transientes, como a colisão de estrelas de nêutrons, que gera ondas gravitacionais. A partir desses eventos, tento medir a constante de Hubble, relacionada à taxa de expansão do Universo, que é um dos grandes debates atuais da Cosmologia. Além disso, estudo como essas colisões contribuem para a formação de elementos pesados, como as terras raras. Também aplico IA em dados de geofísica em parceria com a indústria brasileira”, explica o Acadêmico.

Para o pesquisador, o encanto da ciência, que já esteve nos dinossauros, hoje está na possibilidade do aprendizado sem fim, contribuindo pouco a pouco para o avanço do conhecimento global. Sua área combina o universo, algo que transcende em muito nossas experiência humana, com a inteligência artificial, uma ferramenta revolucionária para o nosso dia-a-dia. É uma combinação bonita de conhecimento básico e aplicado.

A ciência também faz parte da vida pessoal de Clécio, que continua sendo um ávido leitor de história e filosofia. Pai de dois filhos, hoje ele apresenta aos meninos os filmes que o fascinaram quando ele próprio era criança e, ao lado da esposa Patrícia, acompanha de perto o crescimento deles. “No raro tempo livre, gosto de contemplar a natureza e observá-los brincando ao ar livre”, finaliza.