A Academia Brasileira de Ciências promoveu o Simpósio e Diplomação dos Membros Afiliados da ABC da Regional Nordeste e Espírito Santo 2024-2028 em Salvador, no Senai-Cimatec, no dia 23 de agosto, 6ª feira. No dia anterior, a ABC realizou, no mesmo local, sua primeira reunião de diretoria na história fora do Rio de Janeiro.
Na ocasião, apresentaram suas pesquisas, pelas quais foram eleitos, e receberão seus diplomas cinco cientistas de excelência, professores universitários dos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, e Pernambuco. São eles Anielle Christine Almeida Silva (UFAL, Ciências Físicas), Bruna Aparecida Souza Machado (Senai/FIEB, Ciências da Saúde), Bruno Solano de Freitas Souza (Fiocruz, Ciências Biomédicas), Enelise Katia Piovesan (UFPE, Ciências da Terra) e Yuri Gomes Lima (UFC, Ciências Matemáticas). Eles foram eleitos no final de 2023, empossados automaticamente em 1o de janeiro de 2024 e cumprirão o mandato entre os anos de 2024 e 2028.
Abertura
A sessão de abertura teve a mesa composta pela presidente da ABC, Helena Nader; o vice presidente da ABC, Jailson de Andrade; e a vice-reitora do Centro Universitário Senac-Cimatec, Josiane Barbosa.
A professora Josiane Barbosa, anfitriã do evento, afirmou ser este um “momento emblemático” para o Senai Cimatec. Ela, que também é afiliada da ABC, deu as boas-vindas aos novos colegas. “Já tive a oportunidade de estar desse outro lado e sei o quanto é importante para nós, jovens cientistas”.
O professor Jailson Bittencourt de Andrade destacou a importância do programa de afiliados e contrastou a ocasião com a última vez que Salvador recebeu a cerimônia. “Já ocorreu na antiga Faculdade de Medicina da Bahia, foi um momento muito histórico em que se olhou para o passado e o presente. Hoje ocorre aqui no Cimatec, uma instituição extremamente jovem, que olha para o futuro”, destacou.
Por último, a professora Helena Nader defendeu que o Brasil precisa dar destaque aos seus casos de sucesso, e o Senai Cimatec é um deles. “É um modelo que deve ser replicado no país e um exemplo de como uma gestão organizada pode servir inovação voltada para a sociedade”, afirmou.
Os desafios de construir uma agenda para CT&I pós 5ª CNCTI
Em seguida o Acadêmico convidado Anderson Gomes falou sobre o evento que coordenou, a 5ª Conferência Nacional de Ciência Tecnologia & Inovação, e sua expectativa para as recomendações que deverão balizar a próxima estratégia nacional para o setor.
“Tivemos um pico de financiamento após tempos sombrios, a comunidade cientifica foi fundamental na luta, mas precisamos manter. Traçamos como metas chegar a 1,6% de investimento em relação ao PIB até 2028, e 2,5% até 2035. Precisamos subir nos rankings globais de ciência e inovação, não tenho dúvida de que somos capazes”, afirmou.
Os novos membros afiliados, então, começaram suas apresentações. O matemático Yuri Gomes Lima (UFC) falou sobre “Codificação do caos e suas consequências estatísticas” e a apresentação da física Anielle Christine Almeida Silva (UFAL) intitulou-se “Explorando o invisível: Como a física está moldando os materiais do futuro”.
Conheça os novos membros afiliados e entenda suas pesquisas nos perfis a seguir.
Estudando os sistemas dinâmicos
Professor da Universidade Federal do Ceará, Yuri Gomes Lima aplica a matemática em sistemas climáticos, de grupos de pessoas ou de mudanças populacionais ao longo do tempo.
Desenvolvendo novos materiais nanoestruturados
Professora do Instituto de Física da Universidade Federal de Alagoas, Anielle Almeida Silva busca compreender e ajustar propriedades naturais de nanomateriais com vistas a aplicações biotecnológicas.
Ciência como vocação e ciência como profissão
A Acadêmica Elisa Reis, socióloga, foi também palestrante convidada, com o tema “Ciência como vocação e ciência como profissão”.
Elisa abriu citando Max Weber, segundo o qual “a ciência tem o dom da eterna juventude”. Para ela, trazer as novas gerações é manter vivo esse aspecto da prática. Outra característica do pensamento científico, a racionalidade, que permite o avanço contínuo, é também um risco. “Se não a tomarmos como relativa, ela pode tornar-se inquestionável. Tornar a ciência absoluta é grave, inclusive politicamente”, afirmou.
Um dos avanços no sentido da racionalidade foi a burocratização, algo que preocupava Weber. Mas foi isso que permitiu tornar a ciência uma profissão, deixando de ser restrita a aristocratas. A profissionalização permitiu também a especialização. “Esse processo aconteceu de uma forma que não dá mais para pensar numa ciência que não dialoga entre as especializações, sobretudo se quisermos resolver as grandes questões da atualidade”.
Em seguida, outros três novos membros afiliados fizeram as suas apresentações.
A apresentação da geóloga Enelise Katia Piovesan (UFPE) chamava-se “O sertão já foi mar? Desvendando o passado através dos fósseis”. O médico Bruno Solano de Freitas Souza (Fiocruz) falou sobre que esperar após a aprovação da primeira terapia de edição gênica com CRISPR/Cas9 e a farmacêutica Bruna Aparecida Souza Machado (Senai-Fieb) tratou do tema “Vacinas de RNA e sistemas de delivery: Uma jornada de ciência e inovação”.
Saiba mais sobre a trajetória e as pesquisas desses jovens membros da ABC a seguir.
Reconstruindo ambientes do passado e ajudando na extração de petróleo
A geóloga Enelise Piovesan é professora da Universidade Federal de Pernambuco, onde se dedica ao estudo de microfósseis que ajudam a contar como evoluiu a vida no nosso planeta ao longo de mais de 4 bilhões de anos.
Construindo pontes entre a ciência básica e aplicações clínicas
Médico da Fiocruz da Bahia e do IDOR, Bruno Solano de Freitas Souza faz pesquisa clínica e translacional nas áreas de terapia celular, medicina regenerativa, edição gênica, CRISPR/Cas9 e estudos de biomarcadores.
Focando em vacinas de RNA e nanocarreadores lipídicos
A farmacêutica e professora do Senai Cimatec Bruna Aparecida Souza Machado desenvolve produtos farmacêuticos, como vacinas e medicamentos, desde as etapas iniciais do desenvolvimento e caracterização em laboratório até os estudos em humanos.
Diplomação
Após as duas palestras, foi chamado à mesa o reitor do Senai Cimatec, Leone Andrade, que falou da trajetória da instituição para conseguir criar um curso superior em tecnologia, e que atualmente vem trabalhando para se tornar uma universidade, incluindo pós-graduação stricto sensu. “Ter a ABC aqui hoje é um reconhecimento a toda essa jornada”.
Por fim, foi realizada a cerimônia de entrega dos diplomas. O ex-afiliado Luis Gustavo Carvalho Pacheco (UFBA, período 2018-2022) fez a saudação aos novos membros afiliados, destacando as portas que são abertas após a titulação. Ele recordou uma fala do filósofo Jorge Larrosa durante palestra na Reunião Magna da ABC de 2023. Na ocasião, o palestrante afirmou que “a educação é o ponto em que decidimos se amamos tanto o mundo a ponto de tomarmos responsabilidade por ele”.
“Concluí dessa fala que fazer ciência de qualidade é uma forma de amar o mundo, é tomar para si as dores do mundo e dedicar sua vida à solucioná-las. Então, novos afiliados, continuem amando o mundo com as suas pesquisas e nos brindem nesse período com a sua excelência. Sejam bem-vindos à Academia Brasileira de Ciências”, recepcionou.
Bruna Machado agradeceu em nome dos novos afiliados. Ela afirmou que a diplomação é um reconhecimento não só das trajetórias, mas também das instituições e das redes de colaborações de cada cientista.
“Queremos, junto com a ABC, continuar na luta pela estruturação de um ecossistema mais favorável e igualitário para desenvolver ciência no Brasil. Reconhecemos a força da nossa comunidade científica e esperamos contribuir de forma interdisciplinar e dentro das nossas áreas de atuação com vistas à promover os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável”, afirmou.
Assista à cerimônia: