Anielle Christine Almeida Silva nasceu no ano de 1989, em Uberaba, no estado de Minas Gerais. Dois anos depois, o pai foi redistribuído para Uberlândia, cidade no mesmo estado, onde ela morou até 2018. Sua infância foi marcada por um ambiente muito positivo e por um forte estímulo ao estudo, sempre sustentada pelo amor e apoio incondicional da família. O pai era maquinista na ferrovia em Uberlândia e a mãe optou por trabalhar em casa, como contadora, para se dedicar ao cuidado da filha, enquanto o pai trabalhava fora e viajava frequentemente. Depois, veio um irmão oito anos mais novo, que cursou engenharia elétrica na Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

Quando Anielle cursou o ensino médio, sua mãe se dedicou a trabalhos extras como bordadeira para aumentar a renda familiar. Ao longo de sua graduação, liberou a filha das tarefas domésticas para que ela se concentrasse exclusivamente nos estudos e cultivou seu apreço pela música clássica, mantendo-a no Conservatório para o estudo de instrumentos. O pai a ajudava nas atividades de matemática e a incentivava a buscar ajuda nas monitorias quando encontrava dificuldades nas disciplinas. “Ambos afirmavam que eu poderia aprender qualquer coisa com o devido foco e persistência. Me ensinaram valores fundamentais como humildade, disciplina, respeito, compromisso e lealdade”, recorda a Acadêmica.

Anielle fez o ensino fundamental em uma escola estadual. No ensino médio, a mãe a incentivou a buscar bolsas de estudo em escolas particulares, dada a limitação financeira da família para arcar com a mensalidade. Assim, conseguiu obter um desconto e o pai pagou apenas o material escolar no Colégio Anglo durante o primeiro ano do ensino médio. Devido ao bom desempenho acadêmico da menina na escola estadual, Anielle foi alocada no curso integrado, que oferecia um nível mais avançado. “Na minha sala, eu era a única aluna oriunda da escola pública. Enfrentei dificuldades significativas em física e química, mas procurava esclarecer dúvidas com professores e colegas durante os intervalos e participava de todas as monitorias para compreender melhor o conteúdo e obter boas notas. Em matemática, participei de uma turma preparatória para escolas militares durante todo o ensino médio, organizada gratuitamente pelo professor Décio, cuja habilidade em explicar matemática de forma simples e envolvente era notável. Ele sempre incentivava os alunos a atingirem seu máximo potencial”, contou a pesquisadora.

Seus professores desse segmento incentivavam o engajamento dos alunos com a ciência, promovendo discussões sobre pesquisas científicas e destacando tópicos intrigantes em sala de aula. “Eles também nos incentivavam a ler regularmente revistas como ‘Superinteressante’ e ‘National Geographic’, disponíveis na biblioteca da escola. Nas feiras de ciências, os docentes convidavam professores universitários para ministrar palestras sobre suas áreas de pesquisa, que mostravam uma visão prática e inspiradora do ambiente acadêmico. “No primeiro ano, o professor de física, Lênio, despertou meu interesse pela física. Embora eu tivesse facilidade com matemática, tinha dificuldades em visualizar a beleza da física, algo que ele enfatizava em suas aulas. Hoje, reconheço a profundidade dessa disciplina e sou fascinada por ela”, relatou Anielle Almeida.

 

 

Na fase de escolha de carreira, Anielle conta que considerou a engenharia química no Instituto Militar de Engenharia como primeira opção. Paralelamente, frequentava o Conservatório Estadual de Música Cora Pavan Capparelli e tinha interesse nas disciplinas de musicoterapia e criatividade. Diversos professores explicavam a interseção entre música e aprendizado, o que despertou seu interesse em neurologia, apesar do desinteresse pela área hospitalar. Tendo como prioridade, porém, o ingresso numa universidade federal e tendo a UFU como a opção mais próxima, ela estudou as opções na revista de cursos da universidade e frequentou diversas feiras de profissões. Avaliou que o curso que mais se alinhava aos seus interesses era o de física de materiais, que envolvia o desenvolvimento de novos materiais tecnológicos para diversas aplicações, e o escolheu.

Ao ingressar na graduação, atuou como voluntária sob a supervisão do professor Alexandre Marleta na área de polímeros e, posteriormente, integrou o grupo de pesquisa do professor Noelio Dantas, no estudo de cristais e sistemas vítreos, com quem

trabalhou posteriormente no desenvolvimento de pontos quânticos em sistemas coloidais. Sua paixão pela parte experimental a levou a realizar diversos cursos e treinamentos adicionais no Instituto de Química da UFU, onde aprofundou seus conhecimentos sobre a fabricação e caracterização de materiais, abordando o tema tanto sob a perspectiva química quanto física. Durante o curso, Anielle conta que aprendeu com professores pelos quais desenvolveu grande admiração, como José Cândido Xavier, Tomé Mauro Schmidt, José Maria Villas Bôas, Liliana Sanz de la Torre e Roberto Hiroki Miwa, que mostravam a beleza da física através da matemática.

A graduanda não enfrentava dificuldades nos cálculos, demonstrando facilidade nas disciplinas teóricas, ao mesmo tempo em que se dedicava intensamente à pesquisa experimental. Com um rendimento acadêmico superior a nove e conciliando bem os estudos com a pesquisa, foi incentivada a ingressar diretamente no doutorado. Na época, seu orientador, Noelio Dantas, fazia parte de uma rede de nanobiotecnologia, e o projeto que ela desenvolvia na graduação estava alinhado com essa linha de pesquisa. Com seu apoio, participou do processo seletivo e conseguiu ingressar no doutorado direto, ao longo do qual cursou as disciplinas do mestrado e do doutorado, dando continuidade ao projeto iniciado na iniciação científica.

Sua afinidade com a física teórica levou seu orientador a sugerir uma modificação teórica no Modelo de Confinamento de Fônons em Espectroscopia Raman, aplicável a estruturas núcleo/casca. “Assim, trabalhei na modificação do modelo teórico e na fabricação e conjugação de pontos quânticos núcleo/casca de CdSe/CdS, com vistas a aplicações biotecnológicas. Para a parte teórica, contei com a colaboração de um professor do Departamento de Matemática da UFU, enquanto o professor Luiz Ricardo Goulart me apoiou nas aplicações biotecnológicas”, contou Anielle.

O aspecto mais desafiador do doutorado, segundo a cientista, foi a incursão na área de biotecnologia, que difere significativamente da física em termos de controle experimental. “Na biologia, muitos experimentos dependem de fatores alheios ao controle direto do pesquisador, o que pode gerar frustrações. No entanto, essa experiência foi enriquecedora e ampliou minha compreensão sobre a importância da colaboração interdisciplinar, além de reafirmar minha paixão pela física, que permeia todas as áreas do conhecimento”, declarou.

Após concluir o doutorado, Anielle Almeida Silva realizou um estágio de pós-doutorado no mesmo grupo de pesquisa, focando em outros materiais, como os magnéticos e a dopagem de semicondutores, e foi professora efetiva no Instituto de Física da UFU. “Minha área de pesquisa é voltada para o desenvolvimento de novos materiais nanoestruturados, com o objetivo de compreender e ajustar suas propriedades físicas, químicas e biológicas. Por exemplo, investigo como um nanomaterial pode ser projetado para apresentar luminescência, propriedades bactericidas, biocompatibilidade e, simultaneamente, atuar como carreador de fármacos. Além disso, busco otimizar propriedades específicas, como a atividade antitumoral, por meio de manipulações controladas durante a síntese do material. Para aprofundar a compreensão desses processos, aplico modelos teóricos físicos que elucidam os mecanismos subjacentes ao comportamento dos nanomateriais”, explicou a pesquisadora.

A possibilidade que a ciência oferece de se replicar aspectos da natureza em um ambiente controlado de laboratório, permitindo uma compreensão aprofundada dos mecanismos que regem os fenômenos naturais, é o que mais fascina Anielle Silva em sua carreira. Na sua área, o que a atrai é a possibilidade de ajustar e otimizar propriedades específicas dos materiais de interesse, com o objetivo de desenvolver metodologias que possam ser aplicadas em uma escala industrial.” Isso não apenas impulsiona o avanço dos setores tecnológicos, mas também tem o potencial de melhorar a qualidade de vida da população, contribuindo para o desenvolvimento sustentável do país”, apontou.

Nesse sentido, a física recebeu o título de membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências (ABC) como uma honra enorme, pois reconhece o trabalho que ela vem desenvolvendo na área científica e, segundo ela, “é como ser chamada para fazer parte de um time de cientistas que trabalham juntos para melhorar a ciência no Brasil”. Integrando a ABC, Anielle quer ajudar a ciência a crescer e a fazer a diferença no dia a dia das pessoas. “Pretendo participar de projetos que tragam soluções para problemas que afetam a sociedade e incentivar mais jovens a se interessarem pela ciência. Quero também colaborar para que o conhecimento científico chegue a todos de uma forma mais clara e acessível, mostrando como ele pode melhorar nossas vidas”, considerou.

E falando de qualidade de vida, Anielle comenta seus interesses pessoais além da ciência. “Sou apaixonada por música instrumental, jazz e blues, e toco piano, bateria e flauta, o que me proporciona grande satisfação. Tenho um profundo interesse por livros científicos e filmes de ação e ciência, que complementam meu amor pelo conhecimento e pela descoberta. Viajar e explorar novos lugares são minhas atividades favoritas e aprecio a experiência de visitar restaurantes e ambientes esteticamente agradáveis. Sou eclética em minhas preferências, gosto tanto da praia como do campo, aprecio tanto o calor quanto o frio. Faço exercícios físicos e meditação. Enfim, gosto de me adaptar a diferentes experiências e ambientes”, concluiu a Acadêmica.