A Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp) está completando 50 anos e como parte das comemorações realizou o evento Jovens Pesquisadores e a Ciência no Brasil. O evento contou com uma série de exposições de jovens pesquisadores sobre suas pesquisas e as dificuldades que todos enfrentam ao fazer ciência no Brasil. A Academia Brasileira de Ciências (ABC), por meio de sua presidente Helena Nader, prestigiou a cerimônia em sua mesa de abertura.
Nader criticou a falta de perenidade nas ações para o setor no país. Ela criticou o fato de as agências federais nunca poderem contar com o orçamento do ano seguinte, que sempre pode ser reduzido, e afirmou ser esse o maior culpado pela falta de uma política de Estado. Manifestou também preocupação na queda do interesse jovem pela carreira. “Precisamos entender porque isso aconteceu. A ciência é uma profissão maravilhosa, não temos que responder a um patrão, temos liberdade para escolher o que pesquisar e que caminho seguir, precisamos mostrar isso para os jovens”, afirmou.
Também estavam presentes na mesa de abertura os membros titulares da ABC Marco Antonio Zago, presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), e Renato Janine Ribeiro, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Zago elogiou o estado de São Paulo pela proeminência nacional no fomento à ciência e disse que isso se deve à estabilidade nos recursos da Fapesp e das universidades do estado, previstos em lei. Para ele, os valores de bolsas praticados pela Fapesp e a inclusão de seus bolsistas na contagem previdenciária são um manifesto do que a ciência nacional precisa fazer. “Não podemos imaginar que doutorandos vão sobreviver com apenas 3 mil reais por mês. Junte isso à média de idade nessa fase, 38 anos, que é muito mais alta que no resto do mundo, e temos a prova da falência do nosso sistema”, criticou.
Janine lembrou que o orçamento da Fapesp está sob ameaça para o ano de 2025 por conta de investidas do governo estadual, que sinalizou com o represamento de até 30% dos recursos. ABC, SBPC e outras instituições científicas brasileiras lançaram uma nota oficial conjunta a respeito do tema. Mas para o presidente da SBPC, a prioridade máxima do país deve ser melhorar o ensino básico, que ainda não forma crianças com o mínimo necessário de alfabetização e matemática. “O calcanhar de Aquiles do Brasil está na educação básica, é onde se produz a desigualdade social”, sumarizou.
O vice-presidente da ABC para São Paulo, Glaucius Oliva, mediou a segunda mesa de apresentações do evento, que reuniu pesquisadores em meio de carreira. Ele defendeu que esses cientistas são as próximas lideranças, por isso requerem atenção especial. Participaram da mesa os ex-afiliados da ABC Daniel Martins-de-Souza, que frisou que a demanda burocrática sobre pesquisadores derruba a produtividade da ciência brasileira, e Helder Nakaya, que chamou a atenção para o perigo do burnout nessa fase da carreira.
Assista ao evento completo: