Nascida em 1984 na cidade de Tomé-Açu, no estado do Pará, Aurora Miho Yanai Nascimento viveu em Belém, capital do estado, até os quatro anos. Depois a família se mudou para Manaus, capital do estado do Amazonas, onde a menina passou a maior parte da infância e tem boas lembranças. No terreno da casa onde morava havia a oficina do pai, Chotoku Yanai, que era mecânico, e o salão de beleza da mãe, Sumiko Yanai, que era cabeleireira. Aurora e sua irmã Angela, apenas um ano mais velha, brincavam bastante com outras crianças que moravam nas casas vizinhas.

As irmãs estudaram em uma escola de tempo integral chamada Professora Josephina de Mello e Aurora gostava muito das matérias de geografia e matemática. “Nessa escola as crianças tinham muito contato com a natureza, pois um igarapé passava por dentro da área da escola e podíamos brincar lá durante os intervalos”, relembrou. Além disso, havia atividades extracurriculares, com aulas de pintura, cerâmica, agricultura, japonês, música, natação entre outras, que Aurora adorava.

Decidida pela graduação em engenharia florestal, Aurora entrou na Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e tornou-se bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET), PET-Florestal. No PET ela desenvolveu atividades de ensino, pesquisa e extensão e teve oportunidade de realizar estágios no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Atuou na área de recuperação de áreas degradadas, colaborando no projeto de pesquisa de uma aluna da pós-graduação, e em sensoriamento remoto, na área de dinâmica de mudança de uso e cobertura do solo. “Esses estágios contribuíram para despertar o meu interesse na pesquisa. O professor Valmir de Oliveira, tutor do PET-Florestal, foi um importante exemplo para mim”.

Além disso, em 2005, durante um semestre, Aurora participou do Convênio Andifes de Mobilidade Acadêmica da UFAM e integrou o grupo PET-Floresta Universidade Federal do Paraná (UFPR), estagiando no laboratório de Geoprocessamento. “As atividades desenvolvidas neste período despertaram o meu interesse por análises geoespaciais”, relatou. Em 2006, teve oportunidade de passar dois meses na Universidade de Hiroshima, no Japão, através do Programa de Treinamento para Nikkeis da Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA). “A pesquisa tinha por objetivo observações micrometeorológicas em florestas e análise de imagens de anéis de madeira. Apesar do curto período, foi uma experiência de aprendizado extremamente enriquecedora”, destacou a pesquisadora.

Já no final da graduação, realizou o estágio supervisionado de conclusão de curso na Coordenação de Pesquisas em Sistema de Informação Geográfica (Siglab) do INPA, com o professor Arnaldo Carneiro Filho. “Esse estágio aumentou meu interesse em trabalhar com processamento de imagens, dinâmica da paisagem e uso de ferramentas de sensoriamento remoto e geoprocessamento”, disse. Assim, iniciou em seguida outro estágio, no laboratório de Capacidade de Suporte Humano e Agroecossistemas (Agroeco) do INPA, sob orientação dos professores Paulo Graça e Francisco Maldonado. “Ali aprendi a usar novas ferramentas de SIG e sensoriamento remoto e aprofundei meus conhecimentos em processamento de imagens de satélite aplicado às análises de mudança de uso e cobertura da terra em estudos no sul do Amazonas”, ressaltou.

Este último estágio, no qual entrou como voluntária, foi onde Aurora Yanai desenvolveu toda a sua trajetória como pesquisadora daí por diante. “Sou muito grata aos pesquisadores que já citei e ao Acadêmico Philip Fearnside. Grande parte do conhecimento que tenho sobre Amazônia e a complexidade do desmatamento na Amazônia aprendi com ele.”

Na época do mestrado em Ciências de Florestas Tropicais, no INPA, seu grupo de pesquisa estava envolvido com projetos de modelagem ambiental no âmbito do projeto Geoma – Rede Temática de Pesquisa em Modelagem Ambiental da Amazônia. “Não aprendi sobre modelagem na graduação, mas tinha grande interesse na área. Apesar do trabalho intenso que é fazer modelagem, os resultados podem ser surpreendentes, principalmente quando se trata de simular dinâmica do desmatamento na Amazônia”, destacou Aurora.

No doutorado, continuou na mesma linha de pesquisa, mas então com o propósito de entender a contribuição dos diferentes tipos de atores do desmatamento na dinâmica de mudança de uso e cobertura da terra em áreas de fronteira agropecuária. Aurora contou com a coorientação da professora Isabel Escada, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), muito experiente na área de padrões e trajetórias do desmatamento na Amazônia. Assim, passou períodos no Inpe, onde conduziu parte das análises relacionadas a este tema.

Atualmente como pós-doutora no mesmo grupo de pesquisa, Aurora Yanai trabalha com modelagem do desmatamento e degradação florestal por exploração madeireira e fogo. “O objetivo da modelagem é simular cenários possíveis que mostrem diferentes impactos em decisões. Nosso grupo de pesquisa, por exemplo, desenvolve modelos que simulam como o desmatamento na Amazônia pode aumentar e se espalhar ao longo do tempo, até 2050 ou 2100, se projetos de infraestrutura como construção de rodovias acontecerem na região”. Seu projeto de pós-doutorado trata exatamente da simulação tem o propósito de simular como a construção da AM-366 pode favorecer a entrada de atores do desmatamento em áreas de florestas públicas não destinadas, uma categoria fundiária muito vulnerável a grilagem de terras e ao desmatamento.

Além disso, Aurora está envolvida num projeto que simula o desmatamento e degradação florestal. “Então a ideia é tentar não só projetar o avanço do desmatamento, onde a floresta é convertida para pecuária, mas também a expansão da exploração madeireira e fogo na floresta por incêndios florestais. Isso é importante, pois a degradação florestal contribui para as mudanças climáticas”, afirmou. Ela é também docente colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais da UFAM.

Sobre seu fascínio pela ciência, Aurora Yanai indica que passa pelo fato de que “falhar” é parte de “fazer ciência”. Ela conta que em sua área há uma frase famosa do estatístico britânico George Box que é de uso recorrente: “Todos os modelos estão errados, mas alguns podem ser úteis”. “Então, se os modelos e simulações que desenvolvemos forem úteis na tomada de decisão e no desenvolvimento de políticas públicas para frear o desmatamento, proteger os remanescentes florestais e as populações locais, sinto que fizemos uma grande contribuição.”

Sobre o título de membra afiliada, ela diz que é um reconhecimento no meio científico de que a pesquisa e a ciência que ela está desenvolvendo na Amazônia é relevante e de qualidade. “Isso me dá um ânimo de continuar, mesmo em meio as dificuldades para fazer pesquisas que enfrentamos aqui na região Norte”. Yanai acrescenta que deseja continuar contribuindo para o desenvolvimento científico na Amazônia, na formação de recursos humanos para fazer ciência na Amazônia e na formulação de políticas públicas para a conservação da floresta.