Pedro Tupã Pandava Aum nasceu em Manaus, capital do estado do Amazonas, no ano de 1985. Sua mãe e seu pai biológicos decidiram criar uma “nova linhagem”, não colocando os sobrenomes de família no filho. Como seu pai era amigo do responsável pelo cartório, conseguiram, embora não seja permitido. Assim surgiu o seu nome: Pedro, por ser bíblico; Tupã, que é o deus dos trovões, em tupi-guarani; Pandava, que são os filhos de Pandú, do texto Indiano Mahabharata; e Aum, que significa Om, mantra hinduísta, assim como significa a união do A+1, que representa o início.

Pedro viveu em Manaus até os quatro anos, quando nasceu sua irmã, Fabiana, fruto do segundo casamento de sua mãe com seu padrasto italiano, Efisio Piano. A família se mudou então para a cidade de Gênova, na Itália, onde viveram até os 11 anos de Pedro, quando a família voltou para o Brasil. Foram para a cidade de Natal, no estado do Rio Grande do Norte, onde Pedro Aum passou a adolescência e permaneceu até o final da faculdade.

Ele conta que sempre gostou de ciências, especificamente matemática e física. Tinha muito interesse em entender como o universo funcionava, em entender o que há além do céu. “Sempre estudei em escolas públicas e tive a sorte de encontrar professores que me estimularam bastante”, diz o cientista. 

Começou a trabalhar cedo, por um bom tempo com os pais Francisca e Efisio, que eram comerciantes. “Isso me ajudou a desenvolver diversas habilidades, desde a comunicação até compras e controles administrativos”, destacou. Embora não tivessem uma formação acadêmica, seus pais eram pessoas com cultura e conhecimento, muito presentes em casa, tendo dado muita atenção aos filhos.

Como mais velho, Pedro foi o primeiro da família a concluir o nível superior. Sua irmã Fabiana cursou engenharia mecânica, fez mestrado na Itália, vive e trabalha lá. “Também tenho dois irmãos mais novos, por parte do meu pai biológico, Luís Otávio e Alice Beatriz. Espero também me tornar um exemplo para eles”.

Pedro diz que não houve algo específico que o tenha encaminhado para a ciência, mas que sempre teve um sentimento de admiração pela natureza, pelas tecnologias e pelo universo. “Meus pais gostavam de ler e escutar música. Acredito que de alguma forma estas experiências estejam relacionadas”, reflete. Além disso, teve diversos professores e amigos que contribuíram para despertar seu interesse pela ciência. Um deles, Patrick Terrematte, que conheceu no ensino médio, no Cefet, o presenteou com o livro “O universo numa casca de noz”, de Stephen Hawking. “Este livro revolucionou minha percepção do universo e do papel da ciência na compreensão da vida”, ressaltou o cientista.

Nesse período teve um professor de química, Gilson Gomes, que também era professor do curso de engenharia química, sobre o qual sempre falava bem. “O curso me atraiu muito, devido à fama de proporcionar aos formandos um alto potencial de empregabilidade e com atuação bastante ampla”, relatou Pedro. E optou pela graduação em engenharia química pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Apesar da escolha inicial ter sido muito focada na empregabilidade, à medida que foi entendendo o curso e a sua interdisciplinaridade, foi se encantando pela carreira. Logo no segundo semestre entrou como voluntário de iniciação científica (IC), no Laboratório de Tecnologia de Tensoativos (LTT), liderado pela professora Tereza Neuma de Castro Dantas. “Foi meu primeiro contato com a pesquisa na universidade. Passei o restante da graduação e pós-graduação no mesmo grupo, foi realmente uma experiência que transformou a minha vida, principalmente por poder conviver em um ambiente multidisciplinar onde pude aprender e contribuir com um grupo muito ativo, que me possibilitou conhecer diversas linhas de pesquisa”, recorda Pedro Aum.

Depois de um ano como voluntário, Pedro conseguiu uma bolsa de iniciação científica do CNPq, que dividia com um grande amigo que hoje também trabalha na Universidade Federal do Pará (UFPA), o professor Cláudio Régis dos Santos Lucas. No sexto semestre, foi aluno do programa de Recursos Humanos da Agência Nacional de Petróleo, PRH-14/ANP. “Participar deste programa permitiu que eu interagisse com profissionais da área de energia e imergisse na engenharia de petróleo”, afirmou.

Ao terminar a graduação, Pedro Aum foi trabalhar na indústria de petróleo, onde passou quase dez anos e adquiriu uma experiência prática importante. Concomitantemente,  continuou os estudos, fazendo o mestrado e o doutorado em Ciência e Engenharia de Petróleo na UFRN. Ele relembra que conciliar o trabalho na indústria do petróleo com a pós-graduação não foi uma tarefa fácil. Seu filho Pietro ainda estava em seus primeiros anos de vida e requeria bastante atenção. “Mas acredito que todas as dificuldades foram importantes para moldar a forma como enxergo o mundo e os valores que carrego”.

Como membro permanente dos programas de pós-Graduação em Engenharia Química (PPGEQ) e Geofísica (CPGf) da Universidade Federal do Pará (UFPA), Aum tem orientado diversos alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado, bem como supervisionado estágios de pós-doutorado.

“Atualmente me dedico a entender como os fluidos – água, petróleo e gás – escoam nas rochas e quais fatores afetam este escoamento. Isso tem uma importância em diversas áreas. Por exemplo, muitas pessoas imaginam que a extração de petróleo acontece como um rio subterrâneo. Na verdade, o óleo fica aprisionado em espaços muito pequenos nas rochas (poros) e a sua retirada da rocha requer uma série de estratégias de engenharia”, explicou. Outro exemplo de aplicação do estudo do escoamento dos fluidos em rochas está no processo de descarbonização. “Sabemos que a redução das emissões é urgente e uma das técnicas que pode ajudar a reduzi-las de forma consistente é o armazenamento geológico de carbono, que consiste em capturar o gás carbônico (CO2) de processos industriais de fábricas, injetá-lo e contê-lo no subsolo. Ou seja, em vez de extrairmos petróleo de rochas, iremos utilizá-las para armazenar o CO2 gerado e assim reduzir as emissões para a atmosfera”. 

Uma parte dos estudos do grupo de pesquisa que lidera está focada em entender como o CO2 interage com as formações rochosas regionais. “Esta é uma parte essencial para reduzir as incertezas associadas a possíveis projetos de armazenamento geológico que possam ser desenvolvidos no Brasil. A informação obtida nos experimentos vai ajudar na tomada de decisão sobre a aplicação ou não do armazenamento geológico em determinada região”, avaliou. 

Desde 2017, Aum atua como professor do curso de Engenharia de Exploração e Produção de Petróleo da UFPA, no campus de Salinópolis, no Pará. Como membro afiliado da ABC, título que muito o honrou, pretende atuar na sua cidade, que tem 40 mil habitantes e fica no interior do Pará, procurando mostrar a importância da ciência para mais pessoas. 

“A cidade foi um vilarejo de pescadores e a chegada da universidade tem transformado a vida e os sonhos de muitos estudantes. Então tenho a ideia de trabalhar na divulgação científica nos diversos níveis educacionais na cidade e também levar à ABC a bandeira da cidade, no sentido de mostrar os talentos que temos e de atrair mais ciência para o contexto regional.”

Outra frente na qual pretende atuar é mais ampla e vai no sentido de contribuir para o reconhecimento da importância da Amazônia nas discussões sobre o meio ambiente e na importância de ações consistentes para a mitigação das mudanças climáticas.

Fora do laboratório, Pedro Aum é faixa preta de Jiu-jítsu, é ligado em Pink Floyd e Barão Vermelho, além da bossa-nova. Gosta muito de ler, de diversos gêneros, mas em geral acaba preferindo livros com algum cunho científico. “Recentemente li ‘Sapiens’ e ‘Homo Deus’, do Prof. Yuval Harari, e ‘O verdadeiro criador de tudo’, do Prof, Miguel Nicolelis.”