Após 14 anos, o Brasil volta a realizar uma Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CNCTI). Durante a abertura no dia 30 de agosto, o primeiro a falar foi um membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), o físico Sérgio Rezende, ex-ministro de CT&I e secretário-geral desta 5ª CNCTI. Ele defendeu o aumento dos investimentos na área.
“O Brasil nunca passou 1,3% do PIB em investimentos na área. Uma proposta é criar novos fundos setoriais e reestruturar alguns dos que já existem. Por exemplo, o fundo setorial do agronegócio contribui pouco. E todos sabem que o agronegócio não vive sem a Embrapa. As Big Techs têm que ter um fundo setorial, têm que contribuir. E o setor bancário, especialmente, pois um país que paga 700 bilhões de juros da dívida pública não é um país pobre”, sugeriu o Acadêmico.
A presidente da ABC, Helena Bonciani Nader, também participou da cerimônia e falou em nome do Conselho de Ciência e Tecnologia (CCT), da qual faz parte. Na ocasião, o CCT entregou nas mãos do presidente da República o novo Plano Nacional em Inteligência Artificial, área absolutamente disruptiva na ciência contemporânea. Helena destacou que é preciso olhar para IA a partir de três pilares: desenvolvimento de infraestrutura de pesquisa e armazenagem de dados, capacitação das pessoas e uso ético responsável.
“O potencial total da IA ainda não foi explorado. Precisamos promover seu desenvolvimento em todas as áreas. O país precisa de uma revolução na ciência, mas também uma revolução na educação, nos direitos humanos e na indústria nacional”, afirmou Nader.
Presente na cerimônia, o presidente da República defendeu que o Brasil tem capacidade intelectual de desenvolver seus próprios sistemas de IA e evitar a dependência externa. “Hoje eu recebi dos cientistas o resultado de um desafio que eu fiz a eles: um estudo sobre IA realizado pelos cérebros do Brasil. Hoje está reunindo-se uma inteligência gigantesca e eu desafio a imprensa para que aproveite esses cérebros, chamem nossos cientistas para debater. Uma democracia não é um pacto de silêncio”, afirmou.
O plano foi o principal tema do primeiro dia de 5ª CNCTI. Além do investimento em infraestrutura, pesquisa e capacitação, ele prevê o uso de IA para a melhoria de serviços públicos e para fomentar a inovação no setor privado. Em outro ponto importante, estipula também apoio ao processo regulatório sobre o tema, que ainda é pouco estruturado. Ao todo, são previstos mais de R$ 23 bi de investimentos no setor, entre recursos públicos e privados.
Entre as ações concretas do plano está o desenvolvimento de um supercomputador no Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), em Petrópolis, RJ, para servir como infraestrutura de ponta compartilhada pelo sistema de CT&I do país. A ideia é que a máquina tenha um funcionamento semelhante ao que já ocorre com o acelerador de partículas Sirius, outro grande projeto de infraestrutura da ciência nacional.