Leia matéria de Giuliana Miranda para Folha de SP, publicada em 2/6:

Ao ver as primeiras imagens das enchentes no Rio Grande do Sul, no começo do mês, a bióloga Erika Berenguer, pesquisadora da Universidade de Oxford e referência nos estudos sobre impactos do fogo nas florestas tropicais, voltou a ter problemas digestivos. Em regressão até aquele momento, o quadro de gastroparesia – mais conhecido como síndrome de atraso no esvaziamento gástrico– piorou. Ela passou a ter dores, inchaço no corpo e dificuldades para se alimentar.

Sem ter nenhum dos principais fatores de risco para a doença, o distúrbio foi atribuído pela equipe médica à exposição elevada ao estresse. Erika conta que, desde 2015, ano em que o El Niño contribuiu para incêndios devastadores na amazônia, vem enfrentando episódios de ansiedade e outras manifestações físicas relacionadas à situação da floresta e às mudanças climáticas. “Ainda é bem difícil de falar sobre isso”, afirma.

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Em entrevista à Folha, o físico Paulo Artaxo, professor da USP (Universidade de São Paulo) e membro do IPCC, afirma que, nos últimos anos, há um desânimo notável entre parte dos cientistas da área climática. “Há uma sensação de desespero e de fadiga em parte da comunidade. Obviamente a gente vê isso”, afirma.

Segundo Artaxo, os pesquisadores têm se dividido entre duas vertentes. “Há quem pense que não tem mais o que fazer, que nós vamos extinguir 3 bilhões de pessoas no planeta e vamos perder boa parte da biodiversidade. E pronto, isso é um cenário do qual não tem volta”, exemplifica. “A outra metade, da qual eu faço parte, coloca que nós temos de desenvolver a melhor estratégia possível para orientar políticas públicas de redução de gases-estufa, que é a única coisa que pode ajudar a salvar o planeta.”

Artaxo afirma que a situação o tem motivado a falar cada vez mais sobre as alterações climáticas, tentando atingir o público mais abrangente possível. “Eu dou três ou quatro palestras por semana, desde universidades e escolas até para o agronegócio”, conta. El eavalia que o planeta está se encaminhando para um aquecimento médio de 3°C. “Muito poucas pessoas na sociedade têm noção do que isso significa”, avalia. “Nesse cenário, vamos ter eventos como esses do Rio Grande do Sul praticamente todos os meses.”

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