No dia 4 de dezembro foi realizada a cerimônia de premiação das sete cientistas brasileiras vencedoras do prêmio Para Mulheres na Ciência 2023, oferecido pela L’Oréal em parceria com a Unesco e a Academia Brasileira de Ciências (ABC). Em 2023, o programa Para Mulheres na Ciência completa 25 anos globalmente e, no Brasil, chega aos 18 anos.
Em 2023, foram mais de 400 projetos inscritos, de universidades de todas as regiões do Brasil. Todos passaram pelo crivo da nossa exigente comissão de jurados, composto por membros da ABC, que são nomes respeitados quando se fala de ciência no nosso país, e que têm a difícil missão de escolher as sete pesquisas com o maior potencial de solucionar questões importantes para o Brasil e para o mundo.
Nesse ano, o palco foi muito apropriado: o Centro de Pesquisa e Inovação, um dos sete hubs do Grupo L’Oréal no mundo, criado para atender a diversidade da população brasileira. “É um centro de excelência que tem a sustentabilidade e o respeito à biodiversidade local como premissas básicas”, explicou Renata Capucci, que apresenta a cerimônia há 17 anos.
A apresentadora declarou ser essa atividade uma honra e um grande prazer. “Estou aqui para apresentar mulheres que constroem conhecimento, constroem carreiras brilhantes e realizam projetos inspiradores. Mulheres como Flávia, Jade, Jaqueline, Raquel, Tayana, Verônica e Carla, nossas vencedoras de 2023.
Foram apresentadas as laureadas.
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A bioinformata Flávia Figueira Aburjaile enfrenta de perto um problema importante: investigar a resistência das bactérias aos antibióticos que, em 30 anos, pode chegar a matar mais de 10 milhões de pessoas no mundo.
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A bioquímica Jade de Oliveira busca compreender como a alimentação interfere não apenas na nossa saúde física, mas também em nosso cérebro e em nossa saúde mental. Pensando o impacto do que comemos na relação microbiota intestinal, tecido adiposo e cérebro, Jade busca entender como uma alimentação rica em açúcares e gordura pode causar doenças como, por exemplo, a depressão.
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A biomédica Jaqueline Góes de Jesus, com o seu projeto de vigilância genômica de patógenos emergentes no corredor de mobilidade Angola-Brasil, investiga a possibilidade de microrganismos que causam doenças serem transportados de um país para outro, por pacientes que ainda não sabem que estão infectados.
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Bióloga marinha e ecóloga, Raquel de Almeida Ferrando Neves se preocupa com um futuro ambientalmente responsável, sendo autora do projeto PlastiTox, que estuda os níveis de contaminação e toxicidade de poluentes plásticos em ecossistemas aquáticos. Ela e sua equipe atuam por meio da divulgação científica e da ciência cidadã.
A química Tayana Masin Tsubone investiga como terapias alternativas podem ser aliadas importantes no combate à resistência microbiana, um problema grave, alertado pela OMS, que pode ocasionar o surgimento de bactérias multirresistentes. Ela não compareceu na ocasião por estar com uma filhinha recém-nascida.
- A física Verônica Teixeira trabalha com o objetivo de melhorar e aperfeiçoar os cintiladores, materiais que ajudam a transformar os raios-x em luz visível, para aperfeiçoar a forma como entendemos e tratamos doenças como o câncer.
- A matemática Carla Negri Lintzmayer investiga problemas em grafos, tendo como foco o estudo de algoritmos e de questões estruturais e teóricas sobre eles. Ela busca desenvolver algoritmos e encontrar soluções para problemas complexos, entendendo os limites do poder computacional e avançando o conhecimento na ciência da computação.
Invisibilidade das mulheres na sociedade
Como institucionalizar o ambiente científico como um “lugar de mulher”? Como apoiar o desenvolvimento profissional das mulheres? Como gerar oportunidades para que, cada vez mais, elas alcancem postos de liderança? E, sobretudo, como podemos mudar essa jornada para que, no futuro, conversas como essa não sejam mais necessárias?
A resposta está na visibilidade. Ou na compreensão da invisibilidade que permeia todas nós e os diferentes papéis que a mulher ocupa na sociedade.
Para comentar esses aspectos da inclusão das mulheres foi convidada a escritora, psicanalista, apresentadora de televisão e autora de best-sellers Elisama Santos.
Santos falou sobre a jornada feminina múltipla: a mulher precisa ser uma grande profissional, a melhor mãe, a esposa perfeita, a chefe justa. Muitas vezes ser a pioneira: primeira a entrar na faculdade, primeira a chefiar uma equipe, primeira cientista. “Porque se a gente for pensar em tudo o que uma mulher normalmente precisa dar conta em sua jornada, acho que a gente vai criar uma nova categoria de super heroína”, resumiu.
Mãe de Miguel e Helena, Elisama viaja o país ministrando palestras e workshops sobre educação parental e a construção de relacionamentos mais saudáveis e harmoniosos por meio da comunicação não violenta. É reconhecida como uma referência no tema e por acreditar na empatia e na compaixão como poderosas ferramentas de transformação social.
Em seu programa, Sac das Emoções (GNT), responde as dúvidas de pais e educadores de maneira simples, leve e direta e compartilha nas redes sociais suas reflexões sobre maternidade, relacionamentos amorosos, pluralidade e poder do diálogo.
Painel: Desafios para a mulher, desafios para pais de mulheres
Foram convidados para um painel de perguntas e respostas conduzido pela jornalista Renata Capucci, a presidente da Academia Brasileira de Ciências, Helena Nader; o CEO do Grupo L’Oréal no Brasil, Marcelo Zimet; e o coordenador de Ciências Humanas e Sociais e Ciências Naturais da Unesco no Brasil, Fabio Eon.
Capucci dirigiu a primeira pergunta à Helena Nader: “Você é um exemplo das mulheres que abriram portas para que outras pudessem estar aqui. Uma das pioneiras. É a primeira mulher a presidir a Academia Brasileira de Ciências. De acordo com os dados divulgados no último relatório liderado pelo British Council, em parceria com a Unesco, as mulheres representam apenas 46% dos pesquisadores na América Latina e Caribe. Uma diferença que aumenta ainda mais se falamos de funções e de gestão. Nos cargos políticos mais elevados em Ciência e Tecnologia, por exemplo, a representação feminina não passa de 2%. Quais foram as maiores dificuldades que você enfrentou para chegar nesse lugar? A sobrecarga do cuidado foi algo que atravessou a sua trajetória? E como você acha que ter mais mulheres em postos de liderança, na ciência ou em outros lugares, pode ajudar?”
Helena relatou seu percurso desde a graduação na Escola Paulista de Medicina – quando as Ciências da Saúde ainda eram um ambiente predominantemente masculino – passando pelo doutorado e pós-doutorado no exterior até o retorno ao Brasil, quando conheceu Carl Von Peter Dietrich, então seu orientador, que viria a se tornar seu marido e companheiro de vida. “Ele se culpava e me dizia ‘As pessoas pensam que você sou eu, eu estou te atrapalhando’. Eu respondia ‘azar de quem pensa isso, pois eu sei quem eu sou’”.
Essa é a mensagem que Nader deixou para as sete vencedoras: sempre acreditar no trabalho que fazem e em si mesmas. “Ninguém sabe mais do que vocês sobre aquilo que vocês estão fazendo. É acreditar na opção de vida que vocês escolheram.” Ela destacou que essa é uma dificuldade não só no Brasil. “Existem países onde é muito pior. Nós não podemos abandonar nossas vidas por conta de casamentos e filhos, não podemos fazer isso com eles e não podemos passar essa mensagem para as nossas filhas”.
A presidente da ABC destacou boas notícias recentes sobre representatividade feminina na área. No dia 30 de novembro, foi eleita a Acadêmica Eliete Bouskela como primeira mulher presidente da Academia Nacional de Medicina (ANM) em 194 anos. Já em 4 de dezembro, foram divulgados os novos membros titulares eleitos para a ABC em 2023, dos quais 60% são mulheres.
Em seguida, Capucci se dirigiu a Marcelo Zimet.
Além do tema da ciência, estamos falando também de empoderamento feminino, da invisibilidade das mulheres e da sua dupla jornada. Como você vê a importância dos homens como aliados na busca pela igualdade de gênero, especialmente no mercado de trabalho, sendo pai de duas meninas?
Para o presidente da L’Oréal Brasil, o tema da igualdade de gênero deve nortear também a atuação dos homens, tanto no âmbito doméstico quanto no profissional. “Como pai de duas meninas, tenho o papel de criar futuras mulheres muito fortes, que possam inspirar outras meninas e mulheres. Como executivo tenho o papel de colocar essa equidade para dentro da organização. Ainda existem barreiras, como a falta de um maior equilíbrio de responsabilidades domésticas, e precisamos pensar como eliminá-las”, afirmou.
Renata Capucci encaminhou pergunta então a Fábio Eon; “Quais as iniciativas da Unesco visando o empoderamento feminino, especialmente no incentivo de meninas a chegarem a ciência um caminho possível e sem terem medo de seguirem essa profissão?”
O coordenador de Ciências Humanas e Sociais e Ciências Naturais da Unesco lembrou que é preciso entender os elementos motivadores por trás da menor percentagem de mulheres na pesquisa científica, que se mostra mesmo em países em que mulheres são maioria no ingresso ao ensino superior.
“Precisamos focar nos elementos motivadores, tanto do ingresso quanto das desistências ao longo da carreira. É preciso entender desde casa, de como se dá o incentivo de pais e mães, até a escola com os professores e chegando no ambiente profissional. É preciso valorizar iniciativas que tragam reconhecimento a essas mulheres, como é o Prêmio L’Oréal-ABC-Unesco”, destacou, “Essa questão de trazer visibilidade é um dos pontos mais importantes e nos orgulhamos muitos de fazer”.
Focada na importância da inserção e a permanência de mulheres na ciência, Cappucci finalizou com uma pergunta para Helena: “O que você gostaria de ter ouvido no início da sua carreira”? E Helena disse: “Eu gostaria de ter ouvido ‘não desista’, mas ouvi o contrário. Me marcou. Olhando em retrospecto, diria que aquilo fez com que eu pensasse ‘vou provar que você está errado’. Mas eu preciso ser honesta, fui uma pessoa de muita sorte, pois eu tive pai e mãe que não fizeram universidade, primeira geração de brasileiros na família e eles sempre me disseram ‘não há o que você não possa fazer’, e eu criei meus filhos assim e meus filhos criam assim os meus netos.”
Em nome das laureadas
A física Verônica Teixeira fez o discurso de agradecimento em nome das vencedoras, onde agradeceu às instituições envolvidas na premiação e se disse honrada. “Este é um momento de celebração ímpar. A premiação nos valoriza como pesquisadoras e nos empodera como mulheres, mostrando que a ciência é plural e precisa do olhar feminino para se desenvolver, pois precisamos de todas e todos para construir o amanhã”.
Verônica fez questão de citar nominalmente as instituições onde trabalham cada uma das laureadas e agradecer também às agências de fomento pelo suporte oferecido durante toda a trajetória. Por fim, ressaltou que a caminhada é composta por muitas pessoas. “A todos os nossos familiares, professores, alunos, orientadores, orientandos, e a todos os colegas que nos apoiaram, nosso muito obrigado”, finalizou.
Apoio da L’Oréal ao projeto Redes Para Elas
Em compromisso com o empoderamento e incentivo de meninas e mulheres na áreas de STEM, que são as áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, o Grupo L’Oréal no Brasil anunciou o apoio ao projeto Redes Para Elas. O programa conta com aulas de programação, computação, entre outras disciplinas, para jovens meninas, além da manutenção das salas de aula preparadas para essas atividades, com a doação de computadores.
Esse novo projeto é uma parceria de diversas áreas do Grupo L’Oréal no Brasil, coordenados pelos times que são liderados pelo diretor de Corporate Affairs & Engagement, Patrick Sabatier; pela diretora de Responsabilidade Social Corporativa, Helen Pedroso; pelo diretor de Tecnologia da Informação, Wiliam Potenti; e pelo CDMO do Grupo L’Oréal no Brasil, Alan Spector.