Na tarde de 29 de agosto, a Sala do Conselho Universitário da Reitoria da Universidade de São Paulo (USP) recebeu os cinco jovens e destacados cientistas que se juntam ao rol dos membros afiliados da Academia Brasileira de Ciências (ABC) pela Regional SP.
A categoria de membros afiliados da ABC foi criada em 2007 para incluir jovens pesquisadores de excelência, com até 40 anos, das seis regionais previstas pela ABC (Norte, Nordeste e Espírito Santo, Minas Gerais e Centro-Oeste, Rio de Janeiro, São Paulo e Sul), indicados e eleitos por membros titulares com atuação nessas regiões. Anualmente, são eleitos cinco jovens cientistas por região, para mandatos de cinco anos, não renováveis. As eleições são conduzidas por uma Comissão de Seleção presidida pelos vice-presidentes de cada região. É um processo altamente competitivo e, como resultado, os eleitos estão sempre entre os melhores cientistas do país.
Os novos Acadêmicos foram recepcionados pelo vice-presidente para a Regional SP, Glaucius Oliva, que cumprimentou a plateia, especialmente a reitora em exercício da UFScar, Maria de Jesus Dutra dos Reis; o reitor da Unicamp, Antonio José de Almeida Meirelles; e o reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior, que foi convidado para compor a mesa junto com o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Renato Janine Ribeiro, e a presidente da ABC, Helena Bonciani Nader.
“Vivemos um período grave, marcado pelos sucessivos cortes de recursos para educação e ciência, pelo negacionismo e a desinformação científica”, apontou Oliva. “Este momento requer esforço redobrado de todos nós no restabelecimento da razão e dos marcos civilizatórios que delineiam o mundo moderno, através da forte comunicação com a sociedade sobre a importância da ciência na vida humana, em todas as suas dimensões”, disse o físico.
Ele destacou que os cinco pesquisadores que naquela ocasião apresentariam as pesquisas pelas quais foram eleitos eram “prova viva de que a ciência brasileira vive e resistiu às nefastas e destrutivas políticas do governo anterior nas áreas de educação, ciência e tecnologia.”
Para Oliva, o fato do evento ser realizado na USP, classificada recentemente entre as 100 melhores do mundo no ranking do QS World, “tem também um simbolismo emblemático – de que a ciência brasileira tem qualidade, pujança e escala para responder às demandas sociais, econômicas e ambientais para um Brasil próspero e justo.”
De fato, a USP subiu 30 posições no ranking que a destacou como a melhor da América Latina e a 85° melhor do mundo. É a primeira vez que uma universidade brasileira entra nesse ranking.
O reitor da USP agradeceu os cumprimentos para a universidade e saudou a ABC pela iniciativa de valorizar esses jovens professores e pesquisadores que certamente estão mudando a ciência brasileira e são espelho para os novos professores e para os estudantes, no sentido de que podem ter carreiras tão brilhantes quanto as que eles estão tendo. “Isso é muito bom para a ciência.”
Cumprimentou ainda a Academia por ter sido, junto com a SBPC, “ferrenha defensora da ciência brasileira e dos melhores valores acadêmicos que cultivamos, num período tão difícil como aquele pelo que passamos”, destacou Carlotti.
Em seguida, a presidente da ABC se declarou orgulhosa do programa de membros afiliados criado pelo então presidente Jacob Palis, que também presidia a Academia Mundial de Ciências (TWAS) na época. “Ele abriu esse espaço de integração entre gerações de cientistas na ABC, como na TWAS. A ABC foi pioneira entre as academias nacionais e foi copiada depois por aí afora, e isso deve ser comemorado, porque é uma grande iniciativa”, afirmou a biomédica da Unifesp.
Helena Nader apontou que o olhar original da ABC já existia desde a sua criação, em 1916, pois em 1923 ela abrigou a primeira rádio do Brasil, a Rádio Sociedade. Criada por Edgard Roquette-Pinto, médico legista, professor, escritor, antropólogo, etnólogo e ensaísta brasileiro, o tornou conhecido como o pai da radiodifusão no Brasil. “Ele era membro da ABC, um homem brilhante, multifacetado. Junto com Henrique Morize e os outros fundadores, acolheram no espaço da Academia o equipamento da rádio, porque queriam levar arte e ciência para a sociedade”, destacou Helena. Por fim, deu as boas-vindas aos novos membros e frisou: “A ABC precisa de vocês. Vamos trabalhar!”
A seguir, foi proferida a palestra magna “Ciência, Ética e Democracia” pelo presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro, que será tema de outra matéria a ser publicada em breve.
Saudações
Em nome dos membros afiliados dos períodos anteriores, recebeu os novos membros de São Paulo a imunologista Denise Morais Fonseca, professora da USP, eleita afiliada da ABC para o período de 2020 a 2024.
Ela cumprimentou a todos, especialmente Anderson, Bruno, Leonardo, Maurício e Pedro. “Parabéns pela indicação, parabéns pelas falas inspiradoras que acabamos de ouvir. É… são cinco homens. Mas o fato de nos incomodarmos pela ausência de mulheres já mostra um imenso avanço na representatividade de gênero”, apontou Denise.
Ela reconheceu que a ABC, ao acolher jovens talentos às suas fileiras, traz um novo ânimo e reforça seu compromisso com o avanço da ciência. Destacou que a oportunidade que os membros afiliados eleitos têm de ver suas vozes amplificadas, traz também uma enorme responsabilidade. Por isso, ela sugeriu: “Transbordem os muros institucionais, saiam da sua zona de conforto para promover a ética, a educação e a ciência para o desenvolvimento social sustentável. Desmistifiquem a ciência, combatam o obscurantismo, abram as portas da universidade e do conhecimento acadêmico para a sociedade, mostrem que a educação é a solução para nossos maiores problemas.”
Por sua vez, Anderson de Brito agradeceu em nome do novo grupo de afiliados pela honra de serem eleitos membros afiliados da ABC. “Nós representamos o futuro da ciência brasileira e tenho a convicção de que as nossas contribuições individuais e coletivas impulsionarão o progresso científico em nossas respectivas áreas. A integração entre os membros afiliados e titulares da ABC é uma oportunidade valiosa para colaborações transformadoras. Aguardo com expectativa a chance de aprender com os outros membros desta instituição, assim como compartilhar minhas perspectivas e experiências. Acredito que meus colegas partilham desse mesmo sentimento”, afirmou.
No horizonte, Brito afirmou que todos ali diplomados tinham consciência dos complexos desafios que a comunidade científica brasileira enfrenta, mas que tais obstáculos também representam oportunidades para inovação e impacto positivo. “Vamos crescer juntos nessa jornada na Academia Brasileira de Ciências”, finalizou o orador.
Conheça os novos membros:
Virologista e bioinformata, o pesquisador do Instituto Todos pela Saúde (ITpS) Anderson Fernandes de Brito está acostumado a lidar com volumes imensos de informação, o que foi imprescindível durante a crise da covid-19.
O químico Bruno Janegitz sempre teve curiosidade para saber como as coisas são feitas. Hoje ele é professor da UFSCar desenvolve materiais de última geração com aplicações desde à indústria até a saúde.
O professor da Unicamp Leonardo Tomazeli Duarte é engenheiro eletricista e atua em áreas que vão desde apoio à decisão multicriterial até a ética no uso da inteligência artificial.
Filho de agricultores e primeiro da família a fazer pós-graduação, o professor da Esalq – USP Maurício Cherubin é referência internacional em estudos do solo.
Professor do Departamento de Matemática Aplicada da USP, Pedro Peixoto é apaixonado por ciências desde pequeno e aplica seus conhecimentos na resolução dos mais diversos problemas da sociedade.
Leia também: Ciência, ética e democracia, tema da palestra magna do presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro, durante o evento
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