Na tarde desta quarta-feira, 21 de junho, a sede da Academia Brasileira de Ciências (ABC), no Rio de Janeiro, recebeu os cinco novos jovens e destacados cientistas que se juntam ao rol dos membros afiliados da Academia pela Regional RJ. Os pesquisadores foram empossados para mandato de cinco anos, de 2023 a 2027.
Recepcionaram os novos Acadêmicos a membra titular, Patricia Torres Bozza; e os diretores da ABC Maria Domingues Vargas e Roberto Lent. A secretária municipal de Ciência e Tecnologia, Tatiana Roque, e o subsecretário de Ensino Superior, Pesquisa e Inovação do Estado do Rio, Edgard Leite Ferreira Neto, completaram a mesa de abertura. O evento contou também com uma palestra magna da membra titular Celina Herrera de Figueiredo e com uma saudação aos novos membros pelo afiliado Mychael Vinícius Lourenço.
Mesa de abertura
Patricia Bozza abriu a sessão lembrando que o evento é, ao mesmo tempo, uma celebração à ciência feita pelos novos membros e um convite para que contribuam com os debates e missões da Academia. “O programa de afiliados é também uma forma de criar novas lideranças científicas, para que contribuam com políticas de ciência e para a ciência, e também com o restante do corpo Acadêmico nacional”, disse.
A diretora Maria Vargas lembrou que os empossados já vêm contribuindo com a ABC desde o início do ano, como foi o caso da relatoria que fizeram durante às sessões da Reunião Magna de 2023, realizada entre 9 e 11 de maio no Museu do Amanhã, Rio de Janeiro. Já o diretor Roberto Lent resumiu a importância da categoria. “Os membros afiliados rejuvenescem a Academia”, afirmou.
A secretária municipal Tatiana Roque afirmou ser desejo de sua gestão aproximar os centros e sociedades científicas da prefeitura, e fazer do Rio de Janeiro “uma cidade da ciência”. Já o secretário estadual Edgard Neto, que também é presidente da Academia Brasileira de Filosofia, parabenizou a ABC e os novos membros e rogou para que “a ABC continue a florescer com iniciativas do tipo”.
Palestra Magna: Intratabilidade Computacional, um dos Problemas do Milênio
A Acadêmica Celina Figueiredo fez uma apresentação sobre um dos chamados Problemas do Milênio, sete desafios matemáticos cuja resolução foi posta a prêmio pelo Instituto Clay de Matemática, dos EUA. O problema em questão é conhecido como “P versus NP”, o qual ela sumarizou como “a pergunta sobre a existência de problemas matemáticos cuja resposta pode ser verificada muito rapidamente, mas que leva muito tempo para ser encontrada”
A membra titular explicou que este é, atualmente, a principal questão em aberto na área de Ciências da Computação, e lembrou a famosa apresentação do matemático americano Frank Cole.
Em 1903, Cole se aproximou de seus alunos e, em completo silêncio, procedeu a escrever um número gigantesco, um dos chamados números de Mersenne, cuja condição de número primo ainda estava por ser verificada. Em seguida ele foi para o outro lado do quadro e passou a multiplicar, durante vinte minutos, dois números também gigantescos, com o resultado final sendo o número de Mersenne exposto, provando que, afinal, não se tratava de um número primo.
“Enquanto a verificação deste problema se deu em apenas vinte minutos de uma aula, Cole tempos depois admitiu que encontrar a solução lhe custou três anos de trabalho, inclusive aos domingos”, explicou a Acadêmica.
Celina Figueiredo passou a outros exemplos de problemas matemáticos e computacionais solucionados por cientistas brilhantes como Alan Turing, Leonard Euler e Willian Hamilton. Para terminar, ela deixou uma mensagem aos novos Acadêmicos sobre qual é sua visão do trabalho científico. “Ciência é tudo aquilo que a gente consegue entender bem o suficiente para explicar a um computador. Arte é todo o resto”.
A seguir, foi a vez dos novos membros afiliados apresentarem suas trajetórias e pesquisas. Conheça-os aqui:
- A ciência no DNA
Adriana Bastos Carvalho pesquisa genética e hereditariedade na UFRJ. Filha de professores, hoje ela junta a paixão pela descoberta com o desenvolvimento de inovações concretas para o SUS. - Uma estrada pavimentada por muitas mãos
Engenheiro especialista em pavimentação asfáltica, o professor da Coppe/UFRJ Francisco Thiago Sacramento Aragão mostra que a ciência também é feita de relações e laços pessoais. - Salvar o clima é um desafio global
Engenheira ambiental da Coppe/UFRJ, Joana Portugal-Pereira é especializada em transição energética e acumulou experiências internacionais antes de chegar ao Brasil, já no pós-doutorado. - O olhar da ciência sobre as cicatrizes brasileiras
Estudioso das relações de trabalho antes e depois da Abolição, o historiador da UFF Paulo Cruz Terra busca trazer as Humanidades para o centro do debate científico. - O quebra-cabeça dentro de cada um de nós
Especializada no sistema imunológico humano, a história da professora da UFRJ Priscilla Olsen, nova afiliada da ABC, mostra a importância da experimentação na trajetória de um cientista.
Saudações: Mychael Vinícius Lourenço e Paulo Cruz Terra
Após duas rodadas de perguntas, onde os presentes tiveram a oportunidade de tirar dúvidas e interagir um pouco mais com os novos membros, foi a vez do membro afiliado Mychael Vinícius Lourenço saudá-los em nome dos afiliados atuais. Lourenço ressaltou a diversidade e o destaque dos trabalhos apresentados, e lembrou do papel que a ABC teve na defesa da ciência no período recente de ataques e posturas negacionistas oficiais.
No dia em que se comemora o aniversário de Machado de Assis, o afiliado terminou sua saudação com uma célebre frase do escritor: Defeitos não fazem mal quando há vontade e poder de corrigir. “Isso é ciência. É por isso que a fazemos. É nossa missão trabalhar para corrigir os defeitos do país enquanto cientistas financiados pelas instituições públicas”, enfatizou.
Paulo Cruz Terra foi o escolhido para fazer a saudação em nome dos novos membros eleitos. Ele afirmou que a diplomação é um reconhecimento à ciência feita em tempo de cortes orçamentários. “Todos aqui sabem da importância do fomento público em nossas formações, e todos aqui sentiram na pele a austeridade em nossas universidades. Falar disso não é só sobre passado e presente, mas é sobre o futuro”, afirmou.
Em tempos de desinformação e obscurantismo à níveis globais, Terra reforçou o papel da ABC na defesa do pensamento crítico. “Saímos de um período em que gestores públicos chegaram ao absurdo de positivar a escravidão e defender golpes de Estado. Isso reforça a urgência de entrarmos para fortalecer a Academia”, disse.
Por fim, o Acadêmico trouxe uma reflexão direcionada à própria ABC. “Sou o único afiliado de ciências sociais, o que para mim não é uma honra, mas sim uma preocupação. É preciso reforçar o papel da área na ABC e na ciência nacional como um todo”.
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