Leia entrevista da jornalista Ana Carolina Amaral com o xamã e líder Yanomami Davi Kopenawa, membro colaborador da Academia Brasileira de Ciências (ABC), para a Folha de S.Paulo, publicada em 6 de junho:

Para Davi Kopenawa, xamã e líder político do povo yanomami, a aprovação do marco temporal —uma “cobra grande”— abrirá as terras indígenas para garimpeiros e invasores que hoje agem escondidos.

Líder da mobilização que levou à demarcação da Terra Indígena Yanomami, em 1992, Kopenawa se diz desesperançoso diante da falta de proteção da terra. “Já esperei, assim, 20 anos… Nunca se conseguiu. O estrago só está crescendo.”

Segundo ele, as operações do governo federal para expulsar garimpeiros precisam de apoio do Exército, especialmente nas fronteiras. “Mas os militares não estão ajudando, porque eles estão a favor do garimpeiro trabalhar escondido”, avalia.

(…)

Nesta entrevista à Folha, concedida em um hotel em São Paulo, Davi diz que os livros são avisos contra as ameaças à terra, as quais ele se recusa a nomear de “mudança climática“. “Para mim, a mudança é vingança da terra”.

Como o sr. avalia a votação sobre o marco temporal na Câmara dos Deputados? E o que espera do julgamento no Supremo Tribunal Federal[O STF] tem que votar contra. Estão desrespeitando o que está escrito na Constituição Federal. Não é hora de marco temporal sair como cobra grande para acabar com a gente.

Os garimpeiros estão doidos para o Congresso Nacional aprovar essa lei do marco temporal, para eles continuarem a garimpar e botar máquina em terra indígena. Não participei [da tramitação do PL 490], mas estou sabendo: o marco tempo significa continuar a roubar a terra.

(…)

Precisa tirar os olhos da terra para olhar o universo. Tirar os óculos escuros, pretos, para ver o que estamos dizendo.

É assim que eu aprendi. Tem que sofrer para poder aprender, para poder conhecer outro mundo. É assim que meus pais, tios, sogros, meus grandes xapiris me ensinaram. Eles já morreram. Mas eu estou aqui no lugar deles.


RAIO-X

Davi Kopenawa, 67

Xamã e líder político do povo yanomami, nasceu na vila yanomami de Marakana, próximo à fronteira do estado de Roraima com a Venezuela. Ainda na adolescência, tornou-se intérprete da Funai. A partir de 1987, liderou mobilizações no Brasil e no mundo contra a invasão garimpeira na terra Yanomami, demarcada em 1992. Foi reconhecido pelos prêmios Global 500 da ONU, em 1988, e a Ordem de Rio Branco, do governo brasileiro, em 1999. Em 2020, foi eleito para a Academia Brasileira de Ciências.


Leia a matéria completa no site da Folha de S. Paulo