Na noite de 10 de maio, a Escola Naval, no Rio de Janeiro, foi palco mais uma vez da Sessão Solene da Reunião Magna da Academia Brasileira de Ciências. O evento, realizado em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Fundação Conrado Wessel (FCW) e a Marinha do Brasil, envolveu a entrega do Prêmio Almirante Álvaro Alberto para a Ciência e Tecnologia 2023; a concessão de títulos a pesquisadores eméritos e menção especial de agradecimentos, pelo CNPq; e a diplomação dos novos membros titulares e correspondentes da ABC, sob o patrocínio do da Fundação Conrado Wessel e da Marinha do Brasil.

A mesa foi composta pela ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos; a ministra de Estado da Saúde, Acadêmica Nísia Trindade; a presidente da ABC, Helena B. Nader – ineditamente, três mulheres nos postos de mais alto grau; o presidente do CNPq, Acadêmico Ricardo Galvão; o diretor-geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha do Brasil, almirante-de-esquadra Petrônio Aguiar; o presidente da Diretoria Executiva da Fundação Conrado Wessel, professor Carlos Vogt; o presidente da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo a Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), Acadêmico Jerson Lima Silva; o vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Acadêmico Paulo Eduardo Artaxo Netto; e a secretária de Ciência e Tecnologia da cidade do Rio de Janeiro, Tatiana Roque.

Jerson Lima, Tatiana Roque, Ricardo Galvão, Nísia Trindade, Luciana Santos, Helena Nader, Petrônio Aguiar, Carlos Vogt e Paulo Artaxo

 

Menção Especial de Agradecimentos 

Ricardo Galvão, Luciana Santos e Rógean Soares

A menção especial de agradecimentos, concedida anualmente pelo CNPq, representa o reconhecimento da significativa contribuição de instituições ou personalidades para o desenvolvimento, o aprimoramento e a divulgação do conselho. Foram premiadas a Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), representada por seu presidente Rógean Vinicius Santos Soares; a Coordenação-Geral de Tecnologias Habilitadoras do MCTI, Felipe Silva Bellucci, acompanhado do chefe de gabinete da Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do MCTI, Osório Coelho Guimarães Neto; o deputado federal Milton Coelho da Silva Neto, impossibilitado de comparecer; e o ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Paulo Alvim. A ministra Luciana Santos e o presidente do CNPq entregaram as homenagens.

 

Entrega de título de pesquisador emérito do CNPq

O reconhecimento é destinado a pesquisadora ou pesquisador radicado no Brasil há pelo menos dez anos, pelo conjunto de sua obra científico-tecnológica e por seu renome junto à comunidade científica.

Jorge Guimarães cumprimenta Ricardo Galvão e Luciana Santos

Este ano, foram homenageadas a geógrafa e Acadêmica Bertha Koiffmann Becker, in memoriam, representada por suas filhas Lidia e Beatriz Becker; a doutora Eliane Elisa de Souza Azevedo, representada pelo vice-presidente da ABC, Jailson Bittencourt de Andrade; a doutora Fernanda Sobral, vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC); o Acadêmico Jorge Almeida Guimarães; o ex-ministro de CT&I Marco Antonio Raupp, in memoriam, representado por seu filho Augusto Cunha Raupp; e a doutora Nanuza Luiza de Menezes.

Saiba mais sobre os homenageados aqui.

 

Outorga do Prêmio Almirante Álvaro Alberto para a Ciência e Tecnologia

Criado em 1981 como Prêmio Nacional de Ciência e Tecnologia, passou a ser denominado Prêmio Almirante Álvaro Alberto para Ciência e Tecnologia em 1986, homenageando um dos presidentes da ABC.

É a mais importante honraria em ciência e tecnologia do país, um reconhecimento e estímulo individual e indivisível a pesquisadores e cientistas brasileiros que tenham se destacado pela realização de obra científica ou tecnológica de reconhecido valor para o progresso de sua área. É oferecido em parceria e consta de um diploma e uma medalha do CNPq, MCTI e Marinha; uma premiação em espécie concedida pelo CNPq; uma viagem no navio de assistência hospitalar e uma viagem à Antártica, oferecidas pela Marinha do Brasil.

O prêmio contempla, alternadamente, uma grande área do conhecimento por ano: Ciências Humanas e Sociais, Letras e Artes; Ciências Exatas, da Terra e Engenharias; e Ciências da Vida, área da vez em 2023. O agraciado foi o médico e Acadêmico Cesar Gomes Victora, da Universidade de Pelotas (UFPel).

Reconhecido como um dos líderes mundiais em saúde e nutrição materno-infantil e um dos mais proeminentes pensadores nos campos de desigualdades sociais e avaliação de programas de saúde, Cesar Victora é professor emérito de epidemiologia na Universidade Federal de Pelotas, onde coordena o Centro Internacional de Equidade em Saúde. Ocupou também cargos honorários nas universidades de Harvard, Oxford e Johns Hopkins. É membro da ABC desde 2006 e da Academia Mundial de Ciências (TWAS) desde 2018, e presidiu a Associação Epidemiológica Internacional de 2011 a 2014. Com um índice h de 106, a Web of Science o incluiu na lista dos 1% de cientistas mais citados no mundo entre 2018 e 2022 Em 2017, recebeu o Prêmio Gairdner de Saúde Global, no Canadá, e em 2021 o Prêmio Richard Doll de epidemiologia.

Desde a década de 1970, tem atuado nas áreas de saúde materno-infantil, coortes de nascimento, desigualdades em saúde e avaliação de impacto de programas de larga escala. Suas pesquisas sobre aleitamento materno, realizadas nos anos 1980, influenciaram políticas mundiais de saúde que foram adotadas por mais de 140 países.

Cesar Victora recebe o Farol da Marinha

Ele recebeu a medalha das mãos da ministra Luciana Santos, do presidente do CNPq, Ricardo Galvão e do almirante Petrônio Aguiar, que também lhe entregou o tradicional Farol da Marinha, que representa a luz do conhecimento.

Muito emocionado, Victora agradeceu a premiação que disse nunca almejar receber quando decidiu trabalhar no interior do estado de Santa Catarina. “Esse prêmio significa o auge da carreira de cientista no Brasil. É a primeira vez que ele é outorgado para a área de saúde coletiva, o que me dá muito orgulho”. Ele ressaltou que a ciência é uma atividade coletiva e que ele não trabalhou sozinho, destacando principalmente o médico pediatra Fernando Barros, professor Emérito da UFPel, com quem acompanhou a vida de crianças de 1982 até hoje, criando as Coortes de Nascimento de Pelotas, realizadas em 1982, 1993, 2004, 2015 e 2022.

Victora também pontuou que um motivo de grande orgulho para ele foi o fato de ter estudado a vida toda e escolas públicas, até o pós-doutorado, quando foi bolsista do CNPq. “Desenvolvi meu trabalho financiado pelo povo brasileiro. A ciência brasileira passou por horas difíceis de negacionismo e fake news, de desqualificação da pesquisa e do sistema que levamos décadas para construir. Tempos melhores estão vindo – e virão.”

O almirante Petrônio cumprimentou-o, apontando que aquela era uma noite de celebração da ciência e da tecnologia brasileiras. “Temos hoje uma convergência de esforços para estimular a CT&I no Brasil, de modo a termos um país mais justo e soberano”.

O presidente do CNPq, Ricardo Galvão, destacou a importância do evento como um todo. “A combinação da Reunião Magna da ABC com a Sessão Solene representa o maior reconhecimento à CT&I para a sociedade do país”, apontou. Elencou também as ações do governo Lula nos seus primeiros meses na área, como o aumento do valor das bolsas. Mas foi firme ao dizer que ainda é preciso avançar muito, recuperando o financiamento da pesquisa. “Hoje o orçamento do CNPq é de 90% para bolsas e 10% para pesquisa. É uma conta insustentável para um país que quer garantir protagonismo internacional”.

Para Galvão, outros pontos fundamentais são a promoção da pluralidade na ciência em termos de gênero e raça e o oferecimento de um cenário mais favorável e atraente aos jovens cientistas brasileiros. Finalizou fazendo a pergunta a que precisamos responder urgentemente, com ações objetivas: um país é rico e por isso pode fazer ciência ou um país fica rico por que faz ciência?

**A cobertura da Sessão Solene da Reunião Magna da ABC continua na matéria #RMagnaABC2023: Sessão Solene II